A VARIÁVEL DE 1950

Em termos políticos, o ano de 2014 se comparava a um figurino da alta moda. Parecia perfeito. Mesmo que os protestos de 2013 proporcionassem alguns desvios, os planos continuavam os mesmos. Um fevereiro de biquinho com o carnaval em março. Depois a Copa do Mundo entre junho e julho. E lá em outubro a reeleição de Dilma Rousseff.

O script começou a ser rasgado já no verão. Com uma onda de calor prolongada e histórica, os temores dos apagões, que “nunca mais aconteceriam”, estão de volta. Numa tarde dessas, eles fizeram questão de mostrar a cara e dizer: “Nós estamos aqui”.

Outra preocupação é com a falta de água. Em muitos lugares do país, já começaram os racionamentos. Isso sem contar que nas grandes cidades, com racionamento ou sem, a água dificilmente chega às torneiras. Depois, quando chove demais, essas mesmas torneiras ficam sujas de barro.

Esse é apenas um pouquinho do Brasil que ganhou o adjetivo de padrão FIFA. Teremos um fevereiro sem carnaval, mas não sem protestos. Cidadãos comuns com boas intenções de um lado, e terroristas sem nenhuma noção de outro.

Foi diante desse cenário de vandalismo, na minha visão atos terroristas, que o governo decidiu mudar de tática. O 4-4-2 do legado da copa foi substituído pelo 4-3-3 do ufanismo verde e amarelo. Sem cumprir o legado prometido, resta ao governo uma ultima cartada. Fazer os brasileiros embarcarem na torcida pelo hexacampeonato.

E criou-se o slogan “a Copa das Copas”. Fico pasmo que pagaram um marqueteiro para isso. Nizan Guanaes é o ilusionista da vez. E ficaremos na espera, para ver se o povo se deixará iludir. Eu aposto alguns centavos que sim. Junho e julho serão os meses do ufanismo. Do país que não existe. Todos os nossos problemas serão esquecidos.

Então o outubro politico poderá ser o reflexo de julho e do futebol. Criando a onda do ufanismo, o governo está esquecendo uma coisa muito importante. A variável de 1950. Na equação final, ela jamais deveria ser esquecida.

Se em simples protestos de ruas, estamos permitindo que terroristas quebrem e destruam tudo o que tiver pela frente, até matem, quais seriam as manchetes e os acontecimentos, quando o ufanismo se transformar em derrota dentro de casa. Pela segunda vez.

O novo script ensaiado parece não medir as consequências. Não existe a certeza da vitória em jogos de futebol. E sem o hexacampeonato mundial, o final da tarde do dia 13 de julho de 2014, será o início de uma praça de guerra nacional. Espero que o governo esteja atento e preparado para essa variável. De proporções inimagináveis.