A DITADURA MATOU MINHA IRMÃ, UMA MENINA DE 13 ANOS
Em 1971 as autoridades da ditadura instalada no Brasil sabiam que grassava uma epidemia de meningite meningocócica do sorogrupo C, e a WHO (Organização Mundial de Saúde) recomendava uma imediata vacinação em massa da população.
Acontece que o único país a dispor vacinas contra a cepa e em quantidade suficiente era Cuba.
A idiotice conjugada com a perversidade peculiar da laia que instaurou e apoiou a tirania nesse país impediram que se fizesse a importação e a campanha, suportados pelos ditadores que seguiriam a abominação de Médici (o tirano de plantão da época), sob a "pauta" de que seria apologia do comunismo importar vacinas de Cuba (referendaram esse morticínio Golbery, Geisel, Figueiredo e Newton Cruz).
Como resultado dessa excrescência, milhares de brasileiros, principalmente da Grande São Paulo, morreram por absoluto descaso dos malfadados fardados.
Entre esses brasileiros sacrificados, a Ditadura matou minha irmã caçula, Mirtes Cavalcanti Coelho, uma menida de apenas 13 anos, óbito ocorrido no Hospital Emilio Ribas em 17 de dezembro de 1972.
Apenas a partir de fins1974, com um lote importado desde "aliados" americanos, os algozes fizeram uma Campanha de Vacinação, cujos filhos de meretrizes denominaram CAMEM.
Vale ressaltar que a cúpula daquela laia da ditadura e seus familiares se privilegiaram e receberam vacinação desde 1972, prolongando essa vacinação à sua corja durante 1973.
H. Humberto N. Carvalho apropriadamente descreve o descaso dos tiranos da ditadura com a maioria da população, principalmente no que passou a imperar em relação à Saúde (ver "Direito e Saúde Pública Durante o Regime Militar de 1964):
"No campo da saúde, a pasta ministerial voltada para este fim sofreu reduções das verbas destinadas à saúde pública até o final da ditadura. Em contraste com os aumentos no início da década de 60 (leia-se Jango), a porcentagem da participação do Ministério da Saúde no orçamento da União decaiu de 4,57% em 1961 para 3,65% do orçamento em 1964. Em 1980, o total destinado à saúde foi de apenas 1,38% do orçamento.
A menor porcentagem desse período foi no ano de 1974, com um total de 0,94%."
Narciso Kalili e Georges Bourdoukan que trabalhavam à época na equipe de jornalismo da TV Cultura de São Paulo foram demitidos e presos porque Henry Aidar, o então 'chefe da Casa Civil' do 'governador' Laudo Natel [na verdade tirano de plantão da ditadura entre 1971 e 1975] os acusou de "estar querendo alarmar a população" ao veicularem pequena reportagem acerca da epidemia de meningite.
Trata-se de uma sucessão de eventos cujo conhecimento está a disposição de quem quer que queira aprofundar-se a respeito.
O que me causa ainda tristeza é verificar que amigos e familiares, enchidos de luto por aquela corja, tenham a ignorância de permanecerem na escuridão de apoiar os algozes que se autodenominaram 'redentores' (sic) e seus sucessores, hoje presentes no PSDB, DEM, PPS e quejandos.
ler:
- "Aspectos Epidemiológicos da Meningite Meningocócica no Município de São Paulo [Brasil] no Período de 1968 a 1974", Lygia Busch Iverson in "Rev. Saúde Pública, São Paulo, 1976.
- "Carta ao Leitor", Mino Carta in "Veja", 04 de outubro de 1972, acerca da censura imposta pela Ditadura quanto à epidemia de meningite menigocócia que se alastrava. [esse texto pode ser lido também em 'Geraldo Sabino Ricardo Filho', "A boa escola no discurso da mídia", 253 p., p. 68-69].
- "Tendência da Sub-Notificação de Casos no Decorrer da Epidemia de Meningite Meningocócica ocorrida no Estado de São Paulo [Brasil] no període de 1971 a 1975", Gilberto Ribeiro Arantes & Antonio Ruffino-Netto in "Rev. Saúde Pública, São Paulo, 1977.
- "Meningococcal Meningitis in Sao Paulo (Brazil)", Carlos de Oliveira Bastos, Augusto de E. Taunay, Arary da Cruz Tiriba & Paulo Augusto Ayroza Galvão in "Boletin de La Oficina Sanitaria Panamericana", Julio 1975, p. 54-62.
- "Direito e Saúde Pública durante o Regime Militar", Heitor Humberto do Nascimento Carvalho in "A Margem", ano 3, n.6, p. 65-71.
Um referência importante, Rodolpho Telarolli Jr. , médico e doutor em saúde coletiva, autor de "Epidemias no Brasil: uma abordagem biológica e social", nas palavras de Maria Lúcia de Arruda Aranha "estabelece uma pertinente ligação entre os aspectos biológicos e os sociais responsáveis pela propagação e erradicação das doenças transmissíveis, bem como pelo retorno da incidência de epidemias, nos casos de descuido governamental. Essa relação é clara na triste constatação de que essas doenças atingem mais as classes desfavorecidas, em países com má distribuição de renda e onde persiste o descaso das autoridades públicas em questões de saúde."