Acharam os culpados: jovens e fetos.
A discussão emergiu em campos brasileiros.
Reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. Os governantes querem dar uma rápida resposta à sociedade que anseia freneticamente pela paz. Mas será que essa sociedade age pela paz?
Parece então que descobriram os vilões de nosso país: os jovens de 16 e 17 anos. Os fetos também estão na mira das autoridades, são maliciosos malandros que impõem terríveis danos ao corpo da “inocente mãe”, vítima de uma gravidez indesejada. Prendam-os! Coloquem algemas! Abortem! Para que neste país tenhamos tranqüilidade. Quem serão os próximos? Adolescentes de 14 e 15 anos? Temo que sim, porquanto muitos já foram abocanhados pelo crime organizado, servindo de avião ao tráfico.
Mas os argumentos para prender esses jovens existe: têm eles consciência do que fazem.
Nossa sociedade tem o costume de depositar a responsabilidade pelos seus fracassos na parte mais frágil de seus integrantes.
Querem legalizar o aborto, a pretexto de direito das mulheres; em realidade, para nossos políticos, mulheres solteiras, sem recursos, são incubadoras de criminosos.
Querem reduzir a maioridade penal a pretexto de coibir a criminalidade, como se isso resolvesse o problema.
Poderá pensar o leitor que defendo o crime rogando liberdade a esses jovens. Nada disso, todos devem pagar pelos seus atos, assim deve funcionar a lei, porém, as portas para a reintrodução no seio social devem ser abertas, jamais trancafiadas por decisões que atacam apenas o efeito e não a causa. Reduzir a maioridade penal é o mesmo que dar aquele conhecido analgésico para sanar a dor de cabeça daquele que tem problemas de vista, irá servir apenas para o instante imediato, sem contudo, repercutir em melhoria real de sua saúde.
As crianças que ainda não nasceram e os adolescentes de 16 e 17 anos são as partes mais sensíveis de nossa sociedade. Não podemos fazê-los pagar por atos cometidos por ardilosos criminosos. O problema da criminalidade crescente é bem outro: impunidade.
Por que traficantes têm privilégios?
Por que mensaleiros, corruptos, maus políticos, não são responsabilizados e punidos pelos seus atos?
Por que nossas penitenciárias são universidades do crime?
Por que o crime organizado é mais organizado que nossa sociedade?
Será que reduzir a maioridade penal resolverá o problema da criminalidade?
São reflexões que proponho ao leitor, a fim de que não se entre no clima do “oba oba” promovido por aqueles que pretendem dar uma resposta hipócrita à sociedade.
Nada de arrumar culpados. Precisamos agir, e rápido.
Sociólogos, filósofos, antropólogos, psicólogos, políticos e sociedade, têm de se unir para arrumar alternativas de transformar nossas penitenciárias em locais de confinamento necessário à reflexão e galpão de trabalho sagrado, onde o detento restituirá à sociedade aquilo que usurpou, ao mesmo tempo que recobra sua auto estima e dignidade. Portanto, o caminho é a união de esforços em prol do bem comum, jamais a segregação de jovens ou o aborto criminoso de fetos indefesos, como se fossem eles os culpados pelo crime que tem em seu cerne a repulsiva indiferença humana.