SEXUALIDADE - PARTE INTEGRANTE DE TODA A VIDA-II
Introdução
A escolha desse tema tem uma história muito interessante. Desde os 19 anos, lecionamos na EBD da igreja, quando iniciávamos os estudos no curso de Teologia no Seminário do Norte. Posteriormente assumimos uma classe de senhoras, cujas idades variavam dos cinqüenta aos oitenta e tantos anos e, tinha um grupo de aproximadamente seis mulheres com idades próximas a nossa. No início dos anos 90, num dos trimestres, o tema abordado foi à sexualidade no contexto da igreja, e quando tomamos conhecimento da matriz, pensamos como iríamos trabalhar esse conteúdo com aquela classe de senhoras. Foi curioso!
Fomos trabalhando os temas sugeridos pela revista, entre eles, a criação e educação dos filhos trabalhando assuntos como namoro, gravidez, aborto, problemas de gênero e preconceitos, etc. Na última lição, perguntamos à classe se tinha valido a pena estudar sobre sexualidade. O comentário mais contundente foi a de uma senhora de nome Lúcia com 86 anos, pobre e negra. Esse referencial não tem nada de preconceituoso ou racista. Quero enfatizar a importância disso! Sua resposta foi: “minha irmãzinha, pra mim isso não adianta de nada. Estou velha, sou viúva há muitos anos, mas eu tenho netos e um bisneto; minha filha e neta moram comigo. As duas trabalham, e eu cuido do bisneto e de outros netos que ainda são jovens. Logo, eu preciso aprender para poder ensinar”.
Ficamos surpresas com a sua visão! Ela aproveitou a oportunidade e contou-nos a sua história de vida. Falou que tivera seis filhos, lavava cerca de sete trouxas de roupas por semana na beira do rio, sem o mínimo de conforto para ajudar no sustento da família. Além de um marido que o que ganhava, gastava com farras e ainda tinha que aturar os seus efeitos ao chegar em casa bêbado, pois ele era alcoólatra. Contou-nos das muitas vezes em que foram agredidos, e que tinha dado graças a Deus, quando ele morreu, pois agora, ela era “livre”.
A irmã Lúcia morreu com uma vida farta em anos, mas com muitas histórias para contar, recheada de muita luta e sofrimento. Uma pergunta não foi feita, por que não tivemos coragem de fazê-la: “Lúcia, você foi feliz, em algum momento de sua vida? Você é feliz agora?
Podemos analisar a nossa vida, fazer um balanço, e ousar dizer com firmeza: somos felizes, sou feliz, buscamos melhor compreender os nossos dias para ser e dar felicidade aos que estão ao nosso lado? A resposta a essas perguntas, talvez jamais ousemos dize-la em voz alta; talvez não tenhamos coragem de respondê-las a nós mesmos. Somos felizes? O que vida familiar feliz e sexualidade têm em comum?
A importância da educação sexual em estar inserida no cotidiano da família, pois a sua inserção efetiva, ou a deficiência, ou a ausência pode ser considerada como uma dentre as causas responsáveis pelos ajustes e desajustes sociais, dentre eles, a falta de recursos que dêem possibilidade a uma moradia de qualidade, educação, inserção dos jovens no mercado de trabalho, saúde, lazer, etc. Precisa estar inserida na escola, sendo trabalhada de forma competente, responsável, e com conhecimento e experiência adequados. Finalmente, precisa ser trabalhada na igreja. Naquele momento, a igreja cumpriu o seu papel, pois mostrou a partir do depoimento daquela velha senhora a jovens e as não tão jovens, a necessidade de aprender sempre, buscar estar sempre informada para poder ensinar aos seus filhos e netos. Uma vida de qualidade e saudável perpassa por uma sexualidade sem traumas, sem medos, num processo continuo e salutar.
Ontem, mais de dez anos após essa data, contamos essa mesma história a outro grupo de senhoras da terceira idade da nossa atual igreja. Encontramos mulheres lúcidas e prontas para mudar o sem entorno, dizendo-nos que elas estão vivas, que são pessoas visíveis e, que ainda podem fazer muito por si mesmas, e pelos outros, mesmo com as suas limitações. Algumas falaram das suas bengalas, das suas dificuldades em fazer amizade, e como os jovens as acham descartáveis. Como queremos ser tratados no futuro, quando olharmos no espelho e percebermos que envelhecemos? A possibilidade de envelhecer traz consigo a responsabilidade de valorizar os idosos como seres humanos. Se tivermos a oportunidade de envelhecer, gostaríamos de receber o devido valor, que é ser humano, e que o melhor mesmo não é morrer, mas viver com respeito e dignidade, com qualidade de vida e amor.
A partir daí, resolvemos trabalhar pesquisando a realidade das mulheres que estavam ao redor, tanto no contexto eclesiástico, quanto fora dele, que por um contingente, não conseguiam e ainda não conseguem falar das suas necessidades emocionais, principalmente, quando envolve a sexualidade. A maioria jamais falaria ao seu pastor, questões dessa natureza, por vergonha, por medo de ser censurada, ou por medo de ser condenada por algum pecado cometido. Certa vez, o pastor falava a Sociedade Feminina sobre vida cristã e o pecado, quando uma irmã ousadamente perguntou: “Pastor, no dia da Ceia do Senhor, a gente pode ter relação com o marido?”, deixando aquelas senhoras vermelhas e envergonhadas.
Quando iniciamos o mestrado em Teologia pela SFATER, já havíamos decidido que o tema seria a sexualidade no contexto eclesiástico evangélico. À medida que fomos pesquisando a literatura disponível sobre a sexualidade humana, catalogando as entrevistas e, analisando as respostas, descobrimos mulheres, mais mulheres que homens, e também homens, cujo sentimento de solidão, de invisibilidade era palpável na igreja. Quase não havia trabalho para esse grupo Havia e há desconfiança dos que está ao seu redor, medo de serem contaminadas pelas suas experiências e por essa razão, muitas mulheres casadas não se aproximam das divorciadas e muitos maridos não querem esta proximidade, por receio de que estas as contaminem. É curioso! Acabamos pesquisando várias denominações, igrejas que estão situadas no Grande Recife. O resultado dessa pesquisa está registrado na dissertação de mestrado com título A prática da sexualidade do adulto sozinho no contexto eclesiástico, cuja polemica ainda está em vigor.
Onde entra a Educação sexual no ensino básico? Esta foi à maneira que encontramos para contribuir com alguma mudança no perfil dos adolescentes e jovens da atualidade ao nosso redor, quanto ao comportamento sexual, muito diferente daquelas senhoras, de aproximadamente quase vinte anos atrás, que não dispunham da quantidade, dos meios de obter informações sobre o tema, e que hoje são veiculadas pela mídia em larga escala.
Descobrimos que informação não significa conscientização, internalização e prevenção quanto à gravidez não planejada e ou, as infecções sexualmente transmissíveis. Tendo como premissa a Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB, e os Parâmetros Curriculares Nacionais–PCNs, cujo tema e estendido a educação básica como tema transversal, cuja análise que trabalharemos a seguir.
A Necessidade da Educação Sexual na Escola Básica
Os últimos 30 anos marcaram o Brasil de várias formas, mas o fim da censura permitiu que a quantidade e o nível de informações através dos meios de comunicação fossem ampliados. A sociedade passou a ter maior visibilidade erótica e apelo sexual. As gerações anteriores não tiveram tão claras e evidentes informações quanto à prática sexual e a exibição pública da sexualidade no ocidente, que anteriormente era demarcado como o ritual de passagem para idade adulta, como, por exemplo: “transar, fumar, beber, dirigir, ter as chaves de casa, dinheiro na carteira”. A educação sexual no Ensino Básico é necessária, mas precisa ser analisada nos seus diferentes ângulos, desde o profissional competente e suas limitações, aos temas que deverão ser trabalhados em sala de aula, dos questionamentos e a realidade social dos alunos. Este ensino começa pelos cuidados básicos de higiene corporal que devem ser ministrados pelos pais aos filhos, desde a fase em que precisam de cuidados mais intensos até a adolescência.
As estatísticas mostram que no cotidiano dos adolescentes em condições financeiras desfavoráveis, que freqüentam as escolas publicas, enfrentam o ócio por falta de oportunidade, ou o contrário, trabalham para sustentar a família, adicionando informação deficiente, a desestrutura familiar, escassos meios de diversão, dispondo apenas da televisão, os amigos e o bar da esquina, cuja convivência propicia a proximidade com indivíduos violentos, traficantes e marginais. Esse conjunto de fatores abre espaço à iniciação sexual precoce, gravidez, abandono, marginalidade, vulnerabilidade as infecções sexualmente transmissíveis e morte, incluído como um dado significativo em conseqüência do uso e do tráfico de drogas.
Vimos que os alunos das escolas privadas têm múltiplas atividades, determinado pelo fator socioeconômico dos seus pais. Eles têm o comportamento do executivo, vivendo de agenda marcada por compromissos que variam do curso de línguas, aulas de reforço, academia de ginástica, escolas de música, freqüentam guetos adolescentes que variam dos encontros nos shopping centers do bairro por determinarem maior segurança, etc. Configuram, no entanto, o grupo dos que têm poucas horas e locais de lazer, falta de tempo para um convívio familiar mais aconchegante e falta de uma de educação sexual eficaz, apesar de verificarmos que na escola, as disciplinas biologia, ética, etc. trabalham em sua matriz alguns aspectos da sexualidade.
A educação sexual no Ensino Básico é necessária, deverá ser analisada nos seus diferentes ângulos por profissionais competentes, e neste contexto que sejam avaliados as suas limitações, a abordagem aos temas que deverão ser trabalhados em sala de aula, dos questionamentos e a realidade social dos alunos. Começando pelos cuidados com a higiene corporal que deve ser ensinada e realizada pelos pais, quando a criança ainda precisa dos cuidados mais intensos.
Podemos dizer com segurança que a geração de adolescentes e jovens de hoje serão os adultos de amanhã, tem uma bagagem de conhecimento sobre a sexualidade muito maior que os da nossa geração (seus pais), pois eles aprendem sobre sexo na escola, com os amigos, com as namoradas, nas revistas, nos programas de TV e na internet. Mas, de forma alguma, podemos dizer que conhecimento sobre sexualidade humana é igual à maturidade, pois a grande quantidade de informação que eles têm não significa, necessariamente, maturidade para saber gerencia-la, e por isso mesmo, eles estão confusos. Pior, seus pais também estão confusos.
A geração atual e a mídia contribuem, inclusive, para a erotização do comportamento infantil. Os pais e a escola incentivam esse comportamento com brincadeiras e danças eróticas que banalizam a sensualidade, acentua a mulher como objeto, reforçando os mitos do corpo e da estética perfeita para o melhor desempenho sexual. A televisão é um dos veículos que incentiva esse comportamento, a partir do referencial que alguns ícones televisivos têm sobre as crianças.
Entrevistamos professores que em suas respostas avaliam como necessário que o alunado receba um ensino claro e transparente, mas o professor deve ter habilidade e seriedade. Uma resposta chamou-nos a atenção: “na realidade em que se encontra o ensino fundamental e médio na escola pública e privada acerca da educação sexual, observamos que são os alunos quem nos ensinam” . Os pais se omitem seja por vergonha ou por acharem que tais não precisam dessa informação, por já vivenciarem a experiência no dia-a-dia. Essa omissão tem gerado adolescentes frustrados, com responsabilidades e culpas.
As manifestações da sexualidade afloram em todas as faixas etárias, da infância a velhice, incluindo o deficiente físico e, etc. Ignorar, ocultar ou reprimir são as respostas comumente dadas pelos educadores. “O comportamento dos casais na intimidade, na relação com os filhos, no cuidado, nas recomendações, nas expressões, nos gestos e proibições que estabelecem, é carregado de valores associados à sexualidade e a criança aprende”. Quando o assunto é vida sexual, não há um manual pronto e acabado, capaz de responder todas as perguntas, pois cada família tem suas regras, e formas de trabalhar no dia-a-dia a sua intimidade.
A ausência ou a informação deficiente sobre a prática da sexual constitui um grave risco de morte para os adolescentes e jovens. A internet é um dos maiores veículos de informação, pois a velocidade na obtenção de conhecimento propicia maior abrangência de conteúdo, ampliando o foco de proliferação de material pornográfico sem censura, além dos meios de comunicação tradicionalmente conhecidos e, igualmente importantes, pois divulgam a violência e a desordem social ao imitá-la de forma realista. Chamamos todo e qualquer material pornográfico que apresente o nu de forma grotesca e licenciosa e sua comercialização. Por falta informação, sobra preconceito por parte dos pais e professores. Em linhas gerais, o que é transmitido sob a educação sexual está na ordem de reprodução. Os jovens estão confusos quanto à iniciação e a prática sexual!
Verificamos pelo depoimento de algumas jovens, o receio de uma relação heterossexual por medo do membro sexual masculino. A erotização do ser humano tem sido difundida de forma agressiva, evidenciando uma prática animalesca, uma volta ao primitivismo do ser humano, sem limites.
Educação ou Orientação Sexual
Entrevistamos vários especialistas em educação sexual, entre eles, o Professor-Mestre em psicologia e pesquisador Roberto Warken de SC, como o antropólogo, Prof. Dr. Mauro Cherobim-Rio de Janeiro, Dra. Jimena Furlani e a Professora Mestra Teresinha Cabral, Professora-Mestra em psicologia Thays Barbosa-SC, o Psiquiatra Dr. Carlos Eduardo Carrion-Porto Alegre, a Dra. Ilma Ribeiro Silva - São Francisco-Ca, entre outros. Eles afirmam que a realidade da sociedade pós-moderna, principalmente a sociedade brasileira, em processo de modernização e em ascensão, mas dentro dessa conjuntura mundial ainda consta em seu meio, atitudes medievais, e mediados pelo sistema econômico capitalista, que se caracteriza pela propriedade privada, pelo dinheiro, e o poder afetam de forma sistêmica todas as instituições, organizações em geral, e a escola não foge a esse fenômeno.
O que isso tem a ver com o ensino da sexualidade na escola brasileira, pública ou privada? Sim, tem tudo. A política educacional esta diretamente ligada ao que o Banco Mundial determina quanto às diretrizes que a educação deve tomar. São os fatores econômicos que determinam à educação e a evolução da sociedade.
Então, quando se pergunta qual o termo mais adequado se orientação ou educação, professores e gestores têm dificuldade em defini-lo. Contudo, a educação é transmitida pelos pais, quer falem de forma clara, ou deficiente, ou ainda que se omitam. A escola cabe a orientação sexual de forma sistêmica, elaborada. Embora que, também se afirme que a orientação diz respeito ao desejo, a opção sexual, e a educação no que se refere à função social da escola.
Os PCNs (PCN, 1998, p. 304), afirmam que “a orientação sexual na escola é um dos fatores que contribui para o conhecimento e valorização dos direitos sexuais e reprodutivos”. E ainda afirma que os adolescentes têm todo o direito ao prazer. “Precisam aprender a considerar, também, os aspectos reprodutivos de sua sexualidade genital e, portanto agir responsavelmente, prevenindo-se de gravidez indesejada e das doenças sexualmente transmissíveis / AIDS”.
A sexualidade envolve sentimentos, crenças e valores que precisam ser percebidos, respeitados, dentro de um determinado contexto sócio-cultural e histórico e os educadores deveriam observar claramente que não se pode ignorar, quando se debate a sexualidade com os adolescentes e jovens. Trabalhar a educação sexual implica em discutir as questões sociais, éticas e morais. As relações entre liberdade, autonomia e respeito à intimidade devem estar presentes em todo trabalho educativo. Ela poderia ser aplicada de tal forma que, induzisse a participação dos alunos, através de discussões que possibilitassem conhecer o posicionamento de cada um quanto às suas dúvidas, suas divergências e seus pontos em comum. Rosely Sayao (1997 p. 275) enfatiza que a escola, os professores e os alunos convivem numa relação complexa de poder, de autoridade, no entanto, se o professor não souber ocupar seu espaço e lugar de autoridade, não terá chances de trabalhar para que o ensino aconteça.
No entanto, precisamos enfatizar que é preciso estar alerta para que a instituição não use essa abordagem para difundir sua ideologia, e doutrina religiosa, etc. sem, no entanto, abrir mão de sua responsabilidade ética, moral, religiosa, possibilitando trabalhar a sexualidade, com o conhecimento da realidade do cotidiano dos alunos, com conhecimento cientifico adequado, sem clichês, sem preconceitos do que é ou não pecado. Principalmente, o educador deve ser alguém aberto o suficiente para ouvir, e não evidenciar sua própria prática sexual, como aquela que deve ser imitada, mas buscando enfatizar a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa que é de extrema importância.
A escola é o palco onde surgem novas teorias educacionais, a inserção de tecnologias da informação, incluindo o uso de microcomputadores, da internet, o ensino a distância, etc., ferramentas que deixaram de ser vistas como modismo, mas como equipamento indispensável na complementação da educação formal.
É fundamental destacar que a falta ou ensino deficiente de orientação sexual tem exposto as meninas, as adolescentes, no que diz respeito à contracepção, Isto tem sido motivo de evasão escolar, em decorrência de uma gravidez não planejada. Além de enfoques puramente psicológicos, pois a realidade de uma mulher com vida sexual ativa, é muito diferente da visão que a adolescente tem do uso do seu corpo.
O desafio da escola é não “se perder” como um lugar de aprendizagem, no entanto, vemos que a família e a comunidade transferiram à escola essa tarefa, e isso inclui principalmente o professor, que além de suas atribuições em transmitir o conhecimento, tomou para si à responsabilidade de resolver os problemas sociais. A expectativa está em que ela deve trabalhar os indivíduos para se tornarem cidadãos de bem, numa tentativa de suprir a ausência ou a deficiência dos pais, da sociedade e do Estado. E mais, como fomentador para diminuir as desigualdades sociais, e transpor as barreiras da multiculturalidade. Dessa forma, a educação se tornou o novo salvador da pátria!
A Questão da Aprendizagem: o que Ensinar e a Forma de Apresentar os conteúdos
O que ensinar é outro ponto de extrema importância. Elaborar um programa de orientação sexual seja como tema interdisciplinar, multidisciplinar ou como disciplina isolada, demanda conhecimento e tempo. Antes de apresentar um plano de ensino e de aulas sobre orientação sexual é necessário que haja um estudo prévio da realidade da instituição de ensino que se pretende instalar o projeto. Se a escola é publica, se é privada de ensino confessional ou não. Quem são os alunos e seus pais, qual a plataforma pelo qual a escola está estabelecida?
A escola está diretamente envolvida na questão do ensino-aprendizagem, o que ensinar quando ela elabora uma matriz curricular que beneficie todas as disciplinas, mas no que diz respeito à sexualidade humana, ela deve abordar conteúdos que envolvam o desenvolvimento humano e a descoberta da sexualidade, no contexto familiar, nas relações de amizade, namoro, casamento, filhos, o comportamento e a saúde sexual, habilidades pessoais, a sociedade e a cultura. Além de estudos voltados a higiene corporal, prevenção das ISTs e Aids, prevenção a gravidez não planejada, etc., e, os valores morais, que estão presentes nos relacionamentos interpessoais, caso contrário dará margem para interpretações dúbias. Nesse planejamento é necessário incluir os pais, pois as bases sólidas de valores morais e espirituais são de sua alçada.
Jimena Furlani (2004) escreve que, mesmo na “puberdade, já é possível conversar sobre menstruação, gravidez, ato sexual, higiene corporal, relações de gênero, vida social, namoro e, expressão de afeto”. Qualquer trabalho, seja com criança ou adolescente, deve ser feito de modo continuo e permanente, ou pelos menos, deverá durar um tempo razoável para que possam ser discutidas, além de informações, novas atitudes incorporadas pelos indivíduos frente à sexualidade coletiva e individual.
A discussão atual é quanto à distribuição de camisinhas nas escolas. Especialistas em educação sexual afirmam que a distribuição agilizará a discussão da educação sexual na escola. A educação, além de todas as deformações que estamos cansados de comentar, tem uma relação muito estreita com a comunidade, pois encontramos nela valores morais e religiosas, que vão de encontro aos projetos; alguns de saúde pública, e outros na melhoria do aprendizado.
Parece-nos uma contradição, mas percebemos que a escola executa o papel de legitimar a exclusão, sob a alegação de que ela não está preparada para isso ou aquilo e vai deixando tudo para depois. Embora que, já há algumas mudanças no ar. É preciso “antes de falar em educação sexual e distribuição de camisinhas, nas escolas - aprender a ler e interpretar a realidade conjuntural, sobretudo a de Terceiro Mundo e, consequentemente, a nossa”. Essa é a interpretação que a Professora Juçara Cabral faz, a partir de sua longa experiência no Estado de Santa Catarina. Ela aponta para as queixas dos alunos; entre elas, a péssima qualidade das camisinhas, ou simplesmente não conseguem obtê-la.
A educação ou orientação sexual, qualquer que seja o título em vigor, não pode ser trabalhada por modismo, ou por ordem do MEC, mas deve ser trabalhada sim, a partir da análise de cada instituição de ensino básico. É necessário que seja de forma criteriosa, para que o educador não sofra retaliações por parte da escola, dos pais dos alunos, e tenha sua prática pedagógica vista como permissiva e pornográfica, manchando assim sua competência como professor e a sua reputação como ser humano.
Não é sem razão que o deputado Elimar Máximo Damasceno (Prona-SP) elaborou um projeto de Lei nº. 5.918/2005, que para entrar em vigor, ainda precisa ser votado pelas Comissões de Educação e Cultura, de Constituição e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD) - Art. 24, II, disponibilizado no site da Câmara Federal em 20/10/2005 que dá liberdade de incluir ou não, a composição da disciplina no histórico escolar do aluno, caso esse alegue que o conteúdo está em oposição a “crença religiosa, ou objeção de consciência”. Enfatizando ainda que, se a disciplina integrar o número de horas da carga horária mínima do curso, a escola seria obrigada a oferecer disciplina ou atividade alternativa aos alunos isentos de freqüência. No entanto, o próprio deputado considera que “a orientação sexual é uma necessidade, em face ao exagero e multiplicidade de informações que não são selecionadas e são transmitidas pelos meios de comunicação de massa”, e que algumas escolas têm tratado o tema de forma “permissiva”. Talvez essa seja uma solução provisória para que situações anteriormente descritas não aconteçam.
Quem está Habilitado a Ensinar a Educação Sexual?
A grande questão é quem serão esses facilitadores, e se esses conteúdos forem
verdadeiros, os resultados aparecerão de forma efetiva. A escola precisará estar inserida na comunidade, ajudando no processo de mudanças, e não simplesmente transmitindo ou repetindo conhecimentos. A questão tem que ser abordada com coragem!
Quem que ainda não trabalha com educação sexual, seja o professor ou gestor que tem dificuldade em lidar com o assunto, ou procurará capacitação ou continuará com o discurso confortável de dizer que é contra. Saúde e educação andam juntas e, não há outra maneira viável, mas precisa ultrapassar o enfoque “médico-higienista!” Em outros momentos históricos, a Saúde se uniu com a Educação e, mal ou bem, encontraram para resolver ou minimizar um problema de saúde pública. Nessa ordem, assuntos que são de extrema importância como à questão da higiene corporal, coisas elementares que deveriam ser ensinadas pelos pais e um reforço por parte da escola, mas ao contrário, a escola tem assumido esse papel quase que por completo.
O ideal seria termos uma disciplina chamada educação sexual ou orientação sexual, com uma carga horária de 30 horas semestrais no Ensino Superior e no Ensino Médio Assim, poderíamos dispor dos assuntos com tempo adequado para trabalhar os conteúdos na abordagem descrita anteriormente, tendo o aluno como co-responsável por essa aprendizagem, bem como o envolvimento dos seus pais. No entanto, sabemos que isso oneroso para a escola, pois implica na contratação outro professor, aumentando em mais uma disciplina a vasta matriz curricular do ensino médio.
A educação superior tem grande responsabilidade na formação desses docentes. Poucas são as universidades no Brasil que dispõem na matriz curricular dos cursos de pedagogia e psicologia, a disciplina educação sexual ou com nome similar. Segundo a Professora Juçara Cabral, no Estado de Santa Catarina existe capacitação docente desde 1990 e, após divulgação da Proposta Curricular de 1998, atualmente a Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC possui no currículo da graduação em Pedagogia, a disciplina Sexualidade e Educação, com uma carga horária de 4 horas semanais e 60 horas-crédito semestral.
Quanto às universidades dos Estados do Nordeste, não encontramos uma instituição que incluísse a educação sexual educação, ou sexualidade e educação como disciplina. Eventualmente, acontecem seminários, etc., em que o assunto é abordado, ou como tema transversal em alguma disciplina. A formação do professor precisa incluir a educação sexual, pois ele estará em sala de aula, e deparar-se-á com questões dessa ordem no cotidiano de sua prática pedagógica, demandando conhecimento e segurança do profissional para saber lidar com elas.
Conclusão
A sexualidade faz parte do contexto social, é exercício de cidadania e sinaliza o direito de exercê-la. Cabe à escola se fazer presente, não como controladora da vontade do sujeito, mas como aquela que estabelece uma linha de reflexão sobre o tema sexualidade, possibilitando ao alunado a opção de escolha. Ela tem trabalhado o homem como um indivíduo compartimentalizado e esvaziado de suas dimensões históricas, cultural, social, humana e sexual. Precisa ser trabalhada numa visão de política pública, cuja função é não perder de vista o indivíduo, mas trabalhar a partir do papel que cada um exerce no contexto social, na escolar, no envolvimento do aluno e seus pais, do gestor ao professor, do corpo administrativo, principalmente, do professor que está em contato direto e permanente com os alunos.
Os professores ou facilitadores precisam ter suas vidas sexuais ajustadas para não incorrer no risco de influenciarem seus alunos. Isso implica em ajustes emocionais. A visão do educador deve ser de um conceito ético-cristão, sem exercê-lo de forma opressora, dogmática e idealizada. A sexualidade deve ser trabalhada como conteúdo, e não como meio de corrigir comportamentos e conseqüências verificadas no ambiente da escola. É necessário que os profissionais envolvidos, seja o psicólogo, o médico, o teólogo, o filósofo, o professor, tenham conhecimento em educação. Não basta ter formação acadêmica em psicologia, em medicina, em teologia, etc., mas conhecimento das práticas pedagógicas.
O que queremos afinal, quando o assunto é educação e orientação? Como será a sociedade do futuro que se chama hoje? Será que faremos como a filosofia, cuja postura está no exemplo clássico de que “A ave de Minerva só alça vôo ao entardecer”? A escola tem como proposta preparar crianças, adolescentes e jovens na construção do ser humano como cidadão.
Concluímos que a Educação Sexual ou Orientação Sexual é uma necessidade, tem urgência na construção do conhecimento para a prevenção e saúde, pois não há mais espaço na sociedade pós-moderna para uma conduta preconceituosa e insatisfatória por parte de educadores, gestores, e órgãos educacionais competentes que regulamentam a educação no país.
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ENTREVISTAS
Professor-Mestre em Psicologia-Roberto Luis Warken-sc
Professora- Mestra em Psicologia- Thays Maia Barbosa-SC
Professora-Mestra em Psicologia-Juçara Terezinha Cabral-SC
Professor –Doutor em Antropologia- Mauro Cherobim
Doutora em Psicologia (PHD)- Ilma Ribeiro Silva- São Francisco-CA-USA; e et al.