Não estou aqui para botar gosto ruim na comida de ninguém. Entretanto, o meu dever de cidadão brasileiro não me permite calar ante a verdadeira farra que os nossos chefes de governos municipal e estadual fazem com o nosso dinheiro suado, recolhido aos cofres públicos sob a forma de impostos.

            Veja bem, minha gente, a gastança desenfreada que os prefeitos fazem com a queima de fogos para comemorar a chegada do ano novo, que para mim é um dia qualquer, igual aos outros, que apelidaram de “Réveillon”, palavra oriunda do francês, que significa acordar, começar um novo dia, etc. Para ser honesto, iniciando pela minha própria cidade do Recife, capital de Pernambuco, o consumo de pólvora chegou ao redor de 15 toneladas, isso afora os gastos excessivos com a contratação de cantores locais e de outras regiões do país. Imagine-se que logo aqui em Jaboatão dos Guararapes, no grande Recife, essa quantidade teria chegado a 14 toneladas, e ainda por cima o expressivo valor pago com a contratação da cantora Cláudia Leite, da Bahia, que andou na casa dos R$ 440.000,00. A imprensa gritou, boa parte do povo também, mas a desculpa é que eles têm notas fiscais, descontam o imposto da cantora, e por aí vai.

            Claro, lógico, evidente, que essa prodigalidade nos gastos do erário é praticada por quase todas as cidades brasileiras. E a desculpa é a seguinte: “Ora, se o prefeito da cidade de São Paulo pode gastar tanto, por que a nossa pequenina urbe não tem direito”? Em todos os lugares é assim, o grande leva o pequeno a cometer erros imperdoáveis. O interessante é que os Tribunais de Contas não enxergam esse verdadeiro assalto aos cofres públicos.

            O que mais me dói na alma é ver que o setor da saúde de algumas das cidades festeiras, por exemplo, sofre amargamente com a falta de leitos, médicos, medicamento (em alguns casos até mesmo um simples esparadrapo), enfermeiros e até mesmo material de expediente e de consumo obrigatório. E a fila de doentes nos corredores das unidades hospitalares nos causa uma sensação tão grande de impotência, de desânimo com o nosso futuro e até de desgosto de ser brasileiro. Urge que medidas sejam tomadas já agora no início do ano, proibindo terminantemente que esse abuso volte a ser praticado no território nacional. Quem quiser fazer festa com o dinheiro do povo que procure a iniciativa privada! Tal procedimento, todavia, não garante que não haveria falcatrua, porquanto os custos pertinentes seriam adicionados aos preços dos produtos, e mais uma vez nós consumidores estaríamos pagando a conta, como sempre.
          
            Numa rápida soma, considerando apenas as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Jaboatão, temos que foram queimadas cerca de sessenta toneladas desse explosivo, o que significa jogar dinheiro fora, em detrimento das áreas mais carentes do Brasil, como segurança, transporte, educação e saúde. Sendo eu um promotor de justiça entraria com uma ação penal contra esses indivíduos sem coração, que teimam em fazer de boba a sociedade pobre nacional. Deveriam, todos, ir para a cadeia pelo que considero crime contra o erário e contra até o bem estar do nosso povo. Outra medida cabível seria descontar do Fundo de Participação (*) de cada uma das cidades o exato valor declarado como despesas de festividades de final de ano. E pensar que algumas dessas cidades estavam em situação de “calamidade pública” em dias próximos passados...

            O pior de tudo é que não se tem como conferir essas despesas assustadoras na quase totalidade dos municípios que integram o nosso país, até mesmo porque notas frias e recibos da mesma espécie podem ser fabricados a qualquer hora para ludibriar o cidadão sofrido e desesperado, que não enxerga nada de bom no final do túnel, isso se chegar até lá... Ora, quem vai discutir se a cidade A ou B queimou 15 toneladas de fogos de artifício, se o produto foi pros ares e não deixou nem resquícios aqui na terra! Tudo é muito lindo e maravilhoso por alguns minutos... E o depois...

            Vou ficando por aqui, não sem antes dizer que na questão da educação cerca de sessenta por cento dos professores estão lecionando sem ter a formação específica para a matéria curricular. A meu pensar é essa uma das causas da formação de doutores nas diversas áreas sem as mínimas condições de exercer suas profissões, tanto na rede pública como na privada. A OAB, por exemplo, só consegue aprovar uma base de 15% dos profissionais formados em direito, mas o que acham de um advogado lecionando matemática?! Outro fato que desestimula é que um professor ganha, em média, ao redor de 1,5 mil reais por mês, enquanto que um soldado da polícia de um dos Estados da federação começa a carreira percebendo quase R$ 5.000,00 (Cinco mil reais). Durma-se com um barulho desses! Na verdade, ambos estão ganhando pouco, e no momento atual da segurança brasileira, correm quase o mesmo risco de vida...
Meu abraço.             
 
(*) – Para quem não conhece, o Fundo de Participação dos Municípios é uma verba mensal de 22,5%, distribuída pelo Governo Federal, oriunda da arrecadação de Imposto de Renda e do Imposto Sobre Produtos Industrializados em todo o país.
 
Ansilgus.
ATUALIZAÇÃO - 02/01/2014 - 07h15
 
Rio paga R$ 1,1 milhão para Carlinhos Brown e Lulu Santos no Réveillon
Na cotação do Réveillon do Rio, um Carlinhos Brown e um Lulu Santos valem três vezes mais do que uma Beth Carvalho ou um Nando Reis.
Em evidência por conta da participação no reality show "The Voice Brasil", Lulu e Brown tiveram os cachês mais altos da virada carioca – R$ 550 mil cada um. Eles se apresentaram no palco principal, em frente ao Copacabana Palace, nos horários nobres: o cantor carioca tocou imediatamente antes da virada (a partir de 22h20) e o baiano, logo após a queima de fogos (0h16).

02/01/2014 - Jacó Filho comentou assim:
Excelente trabalho mestre! O povo adora festa, mesmo que no mesmo instante, algum parente morra na porta dum Hospital por falta de estrutura ou quem atenda... Só a conscientização pode fazer isso ter jeito, porém o PT/comunistas fazem lavagem cerebral há mais de trinta anos, e as pessoas foram sendo cozidas devagarzinho igual sapo posto na água fria e aquecida aos poucos... Agora estamos sendo queimados vivos, mas só percebem pessoas que ficaram isentas do processo, como eu, você e mais alguns, que são muito poucos pra fazer diferença, mas vamos até onde podermos... Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...
 

 03/01/2014 - Mario Roberto Guimarães comentou assim:

Meu caro Ansilgus, ao ler o seu artigo e os comentários do Jacó, Mathias (meu conterrâneo) e Claudio, não há o que acrescentar, vocês puseram o dedo no cerne da questão, como de costume. É de se lamentar a maneira como, ao longo dos anos, esse povo tem sido conduzido e manobrado, como bem o disse o grande Zé Ramalho, em sua canção "Admirável Gado Novo". Parabéns, feliz Ano Novo e que Deus o abençoe.Um abraço,Mario.
 
02/01/2014 - E Mathias assim se expressou:
Ansilgus, aqui no Rio foi muito pior. No réveillon foram queimadas 24 toneladas de pólvora na presença de mais de dois milhões de pessoas (haja banheiros para tanta gente).E no O Globo de hoje,centenas de turistas e espectadores registraram queixas de roubo,furto e arrastões nas duas delegacias de Copacabana,preste atenção,falam de centenas.De manhã do dia primeiro, a praia de Copacabana amanheceu coberta de montanhas de lixo enfeitava a paisagem com garrafas,vidros,sacos,resíduos de comidas, e de acordo com a Comlurb, foram removidos 368 toneladas de porcarias. Quanto custou tudo isso? E qual é o benefício final do réveillon? Parabéns amigo Ansilgus pelo brilhante artigo, e boas entradas em 2014. Abraços fraternos amigo.
 
03/01/2014 - Ana Campos fez o seguinte comentário:
Eu também tenho algumas críticas com relação a estas festas. Concordo que há certo exagero, principalmente com relação aos preços dos cachês, mas, segundo informações, as despesas são divididas com a parceria entre o setor público e a iniciativa privada. Não sei bem ao certo quais são os termos dessa parceria, mas, infelizmente, as leis permitem que fatos como estes ocorram. Quanto à queima de fogos, eu até concordo com algumas críticas, mas, sou suspeita para falar, porque eu adoro, para mim é um espetáculo fascinante. Compreendo a questão que você coloca sobre a carência de recursos para a saúde e para a educação, mais investimentos devem ser feitos, com certeza. É sempre muito bom ler textos com uma boa análise crítica, como os seus. Abraços.
 
04/01/2014 - Deyse Felix comentou assim:

Pois é, Amigo Ansilgus. Eu já havia rascunhado uma crônica, mas fiquei em dúvida se postava ou não. Um trecho que escrevi: "Toneladas de fogos de artifício fizeram explosões nos Céus do País! Enquanto isso, nos postos médicos faltavam simples rolos de algodão, de esparadrapos, gaze, sem contar com os médicos que se ausentaram, ficando de plantão alguns que estão em fins de estudo, mas falta-lhes a prática." - E tem mais... Numa véspera de Natal fui às pressas a um plantão médico de um Grande Hospital (não era o San Marco da novela), eu havia derramado óleo quente sobre minha perna. Lá, eu caí nas mãos de um atendente que passou mercúrio cromo sobre a queimadura. Pensei que fosse morrer de dor. Para concluir tive que voltar ao tal hospital no primeiro dia normal e passar por um mini cirurgia plástica. FIM DO MUNDO? Até parece.
 
05/01/2014 - Aila Brito comentou assim:
Amigo, parabéns, pelo belo brado. Assino contigo. A verdade é que os políticos, para amenizar ou atrair o povo, proporciona breves momentos de alegria, em detrimento de interesses realmente importantes. A precariedade da saúde, transporte, moradia e educação, que assombra nosso país; como se assim anestesiasse o ego, e permutasse a 'fatia do pão', pela beleza da 'visão'. A queima de fogos é sem dúvidas um belo espetáculo, mas suas consequências são desastrosas. É a poluição, é o pão que falta na mesa do pobre, é o drama que fere o cidadão. Haja vista que é uma boa soma de dinheiro que se esvai, nesse rastro de fumaça. Mas, nada se cria apenas se copia. O grande faz, o pequeno imita. E todo nosso Brasil, pratica direitinha a lição. Num exemplo, temos como 'legado', O Antigo Império Romano, com sua política do pão e circo. Parabéns pelo instigante artigo! Um abraço.
 
04/01/2014 23h10min - There Valio comentou assim:
Também concordo com você, é o exagero dessas comemorações, essa gastança de dinheiro que poderia ser usado para o benefício da população, principalmente, saúde e educação que estão tão precárias no serviço público. Não que eu seja contra comemorar, mas não tem cabimento os gastos que fazem os nossos políticos, pois acham que somente divertimento é o que o povo precisa... Saudações caro amigo Ansilgus, e desejo-lhe um ano de 2014, de muita paz, saúde e prosperidade. Abraços. There.
 
05/01/2014 09h52min - Sonya Azevedo assim comentou:
Excelente artigo como sempre. Nos países ricos há queima de fogos concentrado em um único lugar. Quem quiser que se desloque para ver. Aqui, em Salvador, em uma orla de aproximadamente 50 ou 60 km, a cada cinco ou 10 km, houve toneladas de fogos sendo queimadas, fora o show que contou com 04 cantores de peso: Caetano, Gal Costa, Maria Bethânia e creio que o outro foi Gil. Pelo menos se pagou por qualidade musical. rsrsrs. E o povo aplaude!!!!!!! E depois vai para a televisão gritar que não recebeu bom atendimento após passar mal com a fumaceira que inalou dos fogos. Haja incoerência!!!!! Um feliz 2014 de muito amor, saúde, sucesso e prosperidade. Muita luz e paz. Abs.
 
05/01/2014 - Eula Vitória assim comentou...meu abraço:
...Queimar fogos! Simbolismo cauterizador de consciências!!! Sonhos pobres, realidades parcas! Queimam-se as decepções anteriores; festejam-se futuras esperanças nas multicores faíscas pelos céus do amanhã que se abre. O poder sempre pode consumir, consumirá. Mesmo que partes das massas gritem, esbravejem inconformadas... O fogo do poder aquecerá os sonhos, cauterizando as mazelas furtivamente nos fogos, nos sonhos de cada um: Inconscientes! Apagar-se-ão um dia?...Queria até viver pra ver, mas particularmente acredito que: J A M A I S! Infelizmente... O homem tem sede de ser visto, notado, reconhecido, lembrado... até nos epitáfios ecoam-se memórias !
 
06/01/2014 07:38 - gajocosta fez seu comentário, grato:
Parabéns, caríssimo Ansilgus. Aplaudo a acidez e veracidade do texto e comentaristas, a profunda crítica de cidadãos, que, como eu, se sentem lesados no uso de seus impostos, esta absurda gastança de um dia, que nada acrescenta de bem estar ao povo que a assiste por algumas horas, e gata a vida em filas de precário atendimento médico, coloca seus filhos em desmanteladas escolas de pífia atuação educacional. Este país é mesmo surrealista, cego para as reais e urgentes reformas, enquanto junto com o fugaz brilho dos fogos, torra o presente e o futuro. È repugnante e desanimador; fogos de artifício, artifício do pão e circo que atuam há anos e cegam a visão dos cidadãos. Meus efusivos aplausos. Urge que as antenas atentas do escritor insista nestas teclas (sempre as mesmas, infelizmente) e agora a nova atração: a Copa e os espúreos gastos. Mais uma vez, sinceros aplausos pela contundente página de indignação! Um grande abraço, José.
 
05/01/2014 22:05 - Fábio Brandão comentou assim, grato:
Seria importante que a sociedade se conscientizasse que está sendo roubada descaradamente e sendo privada daquilo que realmente é necessário como investimentos em saúde e educação. Mas não vejo luz no final desse túnel.Parabéns por mais este artigo consciente de um cidadão atento a todas as falcatruas dos nossos homens públicos.Um abraço,felicidades e um ano novo repleto de alegrias e realizações...