Felicidade concreta
Um dia li um poema da Adélia Prado que falava do seu desejo de ter "um amor feinho".Achei-o tão lindo que me atrevi a parafraseá-lo num modesto poema para também reafirmar a minha vontade imensa de ter um amor assim do jeitinho que ela descreve.
Na minha concepção ( e creio que na de Adélia também), um amor feinho é aquele de pés no chão, que não se arvora em desejar o imponderável, que não vive de discutir a relação, que não tem visão futurista.Pelo contrário, é um sentimento palpável, palatável, que se encanta com as possibilidade do efêmero, com as alegrias ocasionais,com as carícias feitas à luz do dia, na lida diária pela sobrevivência.E à noite? Ah, esse tipo de amor não é menor na sensualidade, na lascívia, quem disse? Mas não precisa de lingerie fina, de tratado de performance sexual.Nem pensar.Os amantes do amor feinho se encostam, se tocam e o calor já toma conta.É pelo cheiro, pelo tato, pelo paladar que o amor feinho se revela e se incendeia.Pois que ninguém tenha dúvida que pega fogo, e como!
Então eu me encantei de tal maneira por esse texto que aqui estou eu saudosa dessa amorosidade, carente desse afeto que quase nunca é louvado, mas é tão real e, paradoxalmente, tão bonito.E como gosto de ler vários autores para fazer minha tessitura textual, li também uma crônica de Martha Medeiros, gaúcha pra lá de encantadora, que sempre escreve coisas que me sensibilizam profundamente.Ela também fala de como seria fácil ser feliz, se as pessoas fossem mais despojadas do egoísmo, da ambição.A felicidade é simples e, por isso rara, uma vez que as pessoas não veem , não sentem a carícia ao alcance da mão, buscam sempre o que está distante, suspiram sempre pelo ideal e se afastam do que é possível, concreto, imediato.Aí a roda da solidão, dos corações baldios vai girando, aumentando mais e mais a descrença no amor.Sempre queremos mais, sempre estamos em busca do que os outros têm.Nem o amor escapa à ganância do capitalismo, pois acaba sendo associado aos bens materiais que traz ( ou não) consigo.
E a felicidade que deveria ser realista, passa a ser utópica e, assim, inatingível.Se a gente não consegue ser feliz aqui-agora, se perdemos o sorriso e o brilho no olhar provocados pelo prosaico da vida, aí não tem mais jeito: estamos fadados ao infortúnio.Não há mais chance para a felicidade.
Então fica aqui o meu pedido reiterado e ainda mais convicto: quero um amor sempre feinho, que me proporcione e me permita oferecer-lhe um presente adornado de aromas de uma horta bem cuidada, de uma comida feita na hora, com muito cheiro verde e temperinhos inventados, com chamego feito à sorrelfa, quando a vontade vem ( e ela é tão recorrente!), pelo simples e verdadeiro prazer de estar junto.Pode existir felicidade mais realista do que essa?
Um dia li um poema da Adélia Prado que falava do seu desejo de ter "um amor feinho".Achei-o tão lindo que me atrevi a parafraseá-lo num modesto poema para também reafirmar a minha vontade imensa de ter um amor assim do jeitinho que ela descreve.
Na minha concepção ( e creio que na de Adélia também), um amor feinho é aquele de pés no chão, que não se arvora em desejar o imponderável, que não vive de discutir a relação, que não tem visão futurista.Pelo contrário, é um sentimento palpável, palatável, que se encanta com as possibilidade do efêmero, com as alegrias ocasionais,com as carícias feitas à luz do dia, na lida diária pela sobrevivência.E à noite? Ah, esse tipo de amor não é menor na sensualidade, na lascívia, quem disse? Mas não precisa de lingerie fina, de tratado de performance sexual.Nem pensar.Os amantes do amor feinho se encostam, se tocam e o calor já toma conta.É pelo cheiro, pelo tato, pelo paladar que o amor feinho se revela e se incendeia.Pois que ninguém tenha dúvida que pega fogo, e como!
Então eu me encantei de tal maneira por esse texto que aqui estou eu saudosa dessa amorosidade, carente desse afeto que quase nunca é louvado, mas é tão real e, paradoxalmente, tão bonito.E como gosto de ler vários autores para fazer minha tessitura textual, li também uma crônica de Martha Medeiros, gaúcha pra lá de encantadora, que sempre escreve coisas que me sensibilizam profundamente.Ela também fala de como seria fácil ser feliz, se as pessoas fossem mais despojadas do egoísmo, da ambição.A felicidade é simples e, por isso rara, uma vez que as pessoas não veem , não sentem a carícia ao alcance da mão, buscam sempre o que está distante, suspiram sempre pelo ideal e se afastam do que é possível, concreto, imediato.Aí a roda da solidão, dos corações baldios vai girando, aumentando mais e mais a descrença no amor.Sempre queremos mais, sempre estamos em busca do que os outros têm.Nem o amor escapa à ganância do capitalismo, pois acaba sendo associado aos bens materiais que traz ( ou não) consigo.
E a felicidade que deveria ser realista, passa a ser utópica e, assim, inatingível.Se a gente não consegue ser feliz aqui-agora, se perdemos o sorriso e o brilho no olhar provocados pelo prosaico da vida, aí não tem mais jeito: estamos fadados ao infortúnio.Não há mais chance para a felicidade.
Então fica aqui o meu pedido reiterado e ainda mais convicto: quero um amor sempre feinho, que me proporcione e me permita oferecer-lhe um presente adornado de aromas de uma horta bem cuidada, de uma comida feita na hora, com muito cheiro verde e temperinhos inventados, com chamego feito à sorrelfa, quando a vontade vem ( e ela é tão recorrente!), pelo simples e verdadeiro prazer de estar junto.Pode existir felicidade mais realista do que essa?