Verão e sexo
Já perceberam como está ficando bonito o céu do Rio de Janeiro? Um verão de arretar... Dizem que as pessoas engravidam mais nesta época e é verdade absoluta, pelo menos constato isto no meu dia a dia de ginecologista.
Pena que as jovens, não desejosas da gravidez, são as maiores “vítimas”. Os dois lados da moeda afetam o psicológico e o social da mulher: quando ela fica grávida e assume o filho (geralmente parando de estudar e se divertir) ou quando ela “tira”.
Vejo com frequência pacientes com retenção de restos ovulares, infecção e hemorragia, causados por abortos realizados sem o menor critério. Acham que podem tomar um “remedinho” e “desaparecer” com a gravidez como por encanto. Muitas arrumam dinheiro para irem irem a clínicas clandestinas - e ninguém sabe o que vai acontecer lá dentro.
Quando decidem “ficar”, passam a odiar essa situação toda, durante todo o processo da gestação: o corpo muda; os coleguinhas vão se afastando; a família cobra; o parceiro rejeita, na maioria das vezes. Ela se prepara para o desconhecido, que vai levar consigo pelo resto da vida, não sendo incomum a falta de condição financeira para tal.
Pior é se casar sem querer casar - aquele jeitinho brasileiro...
A sequela emocional é séria e silenciosa. Não adianta dizer que um aborto provocado não deixa marcas emocionais, porque isto não existe. A mulher tem seu instinto e sabe o que está fazendo. O medo de ser castigada pelo seu ato, o medo de não poder mais engravidar, o medo de transar e acontecer de novo e a culpa por estar cometendo um assassinato, são uma constante. Isto atrapalha até o comportamento sexual desses jovens, até mesmo de mulheres e homens maduros!
Encontro gente de 14 anos engravidando. Não sei o que acontece aos 16 – a época mais crítica. Encontro mulheres de todas as idades e condição social tentando “gostar” de estarem grávidas para a coisa ficar menos insuportável. No mesmo dia, atendo pacientes com problema de esterilidade, fazendo de tudo para terem um filho e achando que isto seria uma bênção...
O momento é o grande ditador das regras. O momento de vida de cada um faz a pessoa ter conceitos diferentes sobre o mesmo assunto. É comum a rejeição do filho que é gerado, até mesmo naquela que o aceita de bom grado. A primeira rejeição são as mudanças do corpo e os sintomas indesejáveis. A outra rejeição é a responsabilidade que traz a criação de um filho, o receio de não ser capaz de cuidar, de educar, de amparar - e o que isso vai efetivamente modificar sua vida.
Os homens não ficam atrás. Eles fazem parte do processo e sofrem, quando existe uma relação de afeto com a parceira, porém fica bem mais fácil para eles se “afastarem” do que pra a mulher, a qual está diretamente ligada àquele ser.
Como Dona Menô diz, o tesão não deixa pensar na hora, mas é preciso. Tudo que é necessário para evitar a gravidez está ao alcance de todos, e são poucas as vezes em que uma mulher engravida sem nem suspeitar que isto possa acontecer.
Situações um tanto “masculinas” estão se incorporando ao comportamento feminino. Num dia desses uma moça queria saber qual remédio ela deveria tomar naquela noite para não engravidar, já que estava querendo transar. Perguntei se o parceiro usaria preservativo e ela me disse que ainda não tinha conhecido o parceiro - o que estava pretendendo que acontecesse naquele dia. A relação sexual deixou de ser uma coisa íntima e é mais do que comum ouvir da mulher que ela não teria coragem de pedir para usarem preservativo porque não tinham “abertura” para tanto... Imaginem pedirem um teste de AIDS, então!
As infecções sexualmente transmissíveis estão aí, cada vez mais frequentes. Ainda se morre pelo HIV e a cada segundo muitas pessoas são contaminadas e nem desconfiam.
E sobre o papovavírus? Denomina-se HPV um grupo de vírus que se instalam na genitália feminina e masculina, muito comum hoje em dia. Existe a vacina para os tipos mais agressivos. Estes vírus têm tanta afinidade pela genitália feminina que podem causar mutações no tecido e induzir ao câncer ginecológico.
Não é todo mundo que vai conseguir arcar com as despesas da vacinação, uma vez que o custo é alto, e por isto acompanho centenas de pacientes com este mal. Hoje é muito comum mocinhas serem levadas para um centro cirúrgico para serem submetidas a cirurgias por portarem lesões malignas ou pré malignas transmitidas pelo sexo.
Vejo que a vacina contra o HPV (papovavírus ou papiloma vírus) veio para revolucionar, mas tenho receio de que, cada vez mais, a mulher venha a engravidar por dispensar o preservativo, por ser vacinada. Esquecem que não existe somente HPV por aí, mas uma série de doenças sexualmente transmitidas.
O mesmo acontece quando se usa algum anticoncepcional. Evita-se a gravidez, mas permite-se a exposição às doenças por contato sexual. E quanto à camisinha, se existem tantas falhas e ocorre a gravidez, da mesma forma ocorrem as doenças sexuais.
Uma outra vacina importante é contra hepatite B, que pode acarretar cirrose no fígado e câncer hepático. Eu sempre a recomendo, quando constato que a pessoa não é imune. O vírus da hepatite B pode ser transmitido por transfusão de sangue e por contato sexual. As pessoas voltam por anos para o exame de rotina, alegando que se esqueceram de vacinar ou que a vacina é cara (menos que um terço da vacina do HPV). Justificam-se que nos postos de saúde a vacina está em falta ou que é um “saco” procurar um lugar para se imunizar etc.
A hepatite C, também transmitida pelas mesmas vias que a hepatite B, pode levar a maiores danos ainda. Infelizmente não temos vacina contra ela.
Sexo é bom demais, principalmente quando compartilhado com quem amamos. Sexo faz parte do desenvolvimento do ser humano e, muitas vezes, é o que perpetua o relacionamento entre o casal, mas as pessoas não podem ter a fantasia de que as doenças só acontecem nos outros! Vejo todos os dias tudo quanto é tipo de gente, converso sobre dezenas de casos diferentes a cada instante e posso dizer com absoluta convicção que uma grande parte brinca com suas vidas.
O verão está aí... Praia, campo, passeios, férias, festas, encontros, descobertas... Saibam pensar e boas férias.
Leila Marinho Lage
Rio, 15 de dezembro de 2006
http://www.clubedadonameno.com
Já perceberam como está ficando bonito o céu do Rio de Janeiro? Um verão de arretar... Dizem que as pessoas engravidam mais nesta época e é verdade absoluta, pelo menos constato isto no meu dia a dia de ginecologista.
Pena que as jovens, não desejosas da gravidez, são as maiores “vítimas”. Os dois lados da moeda afetam o psicológico e o social da mulher: quando ela fica grávida e assume o filho (geralmente parando de estudar e se divertir) ou quando ela “tira”.
Vejo com frequência pacientes com retenção de restos ovulares, infecção e hemorragia, causados por abortos realizados sem o menor critério. Acham que podem tomar um “remedinho” e “desaparecer” com a gravidez como por encanto. Muitas arrumam dinheiro para irem irem a clínicas clandestinas - e ninguém sabe o que vai acontecer lá dentro.
Quando decidem “ficar”, passam a odiar essa situação toda, durante todo o processo da gestação: o corpo muda; os coleguinhas vão se afastando; a família cobra; o parceiro rejeita, na maioria das vezes. Ela se prepara para o desconhecido, que vai levar consigo pelo resto da vida, não sendo incomum a falta de condição financeira para tal.
Pior é se casar sem querer casar - aquele jeitinho brasileiro...
A sequela emocional é séria e silenciosa. Não adianta dizer que um aborto provocado não deixa marcas emocionais, porque isto não existe. A mulher tem seu instinto e sabe o que está fazendo. O medo de ser castigada pelo seu ato, o medo de não poder mais engravidar, o medo de transar e acontecer de novo e a culpa por estar cometendo um assassinato, são uma constante. Isto atrapalha até o comportamento sexual desses jovens, até mesmo de mulheres e homens maduros!
Encontro gente de 14 anos engravidando. Não sei o que acontece aos 16 – a época mais crítica. Encontro mulheres de todas as idades e condição social tentando “gostar” de estarem grávidas para a coisa ficar menos insuportável. No mesmo dia, atendo pacientes com problema de esterilidade, fazendo de tudo para terem um filho e achando que isto seria uma bênção...
O momento é o grande ditador das regras. O momento de vida de cada um faz a pessoa ter conceitos diferentes sobre o mesmo assunto. É comum a rejeição do filho que é gerado, até mesmo naquela que o aceita de bom grado. A primeira rejeição são as mudanças do corpo e os sintomas indesejáveis. A outra rejeição é a responsabilidade que traz a criação de um filho, o receio de não ser capaz de cuidar, de educar, de amparar - e o que isso vai efetivamente modificar sua vida.
Os homens não ficam atrás. Eles fazem parte do processo e sofrem, quando existe uma relação de afeto com a parceira, porém fica bem mais fácil para eles se “afastarem” do que pra a mulher, a qual está diretamente ligada àquele ser.
Como Dona Menô diz, o tesão não deixa pensar na hora, mas é preciso. Tudo que é necessário para evitar a gravidez está ao alcance de todos, e são poucas as vezes em que uma mulher engravida sem nem suspeitar que isto possa acontecer.
Situações um tanto “masculinas” estão se incorporando ao comportamento feminino. Num dia desses uma moça queria saber qual remédio ela deveria tomar naquela noite para não engravidar, já que estava querendo transar. Perguntei se o parceiro usaria preservativo e ela me disse que ainda não tinha conhecido o parceiro - o que estava pretendendo que acontecesse naquele dia. A relação sexual deixou de ser uma coisa íntima e é mais do que comum ouvir da mulher que ela não teria coragem de pedir para usarem preservativo porque não tinham “abertura” para tanto... Imaginem pedirem um teste de AIDS, então!
As infecções sexualmente transmissíveis estão aí, cada vez mais frequentes. Ainda se morre pelo HIV e a cada segundo muitas pessoas são contaminadas e nem desconfiam.
E sobre o papovavírus? Denomina-se HPV um grupo de vírus que se instalam na genitália feminina e masculina, muito comum hoje em dia. Existe a vacina para os tipos mais agressivos. Estes vírus têm tanta afinidade pela genitália feminina que podem causar mutações no tecido e induzir ao câncer ginecológico.
Não é todo mundo que vai conseguir arcar com as despesas da vacinação, uma vez que o custo é alto, e por isto acompanho centenas de pacientes com este mal. Hoje é muito comum mocinhas serem levadas para um centro cirúrgico para serem submetidas a cirurgias por portarem lesões malignas ou pré malignas transmitidas pelo sexo.
Vejo que a vacina contra o HPV (papovavírus ou papiloma vírus) veio para revolucionar, mas tenho receio de que, cada vez mais, a mulher venha a engravidar por dispensar o preservativo, por ser vacinada. Esquecem que não existe somente HPV por aí, mas uma série de doenças sexualmente transmitidas.
O mesmo acontece quando se usa algum anticoncepcional. Evita-se a gravidez, mas permite-se a exposição às doenças por contato sexual. E quanto à camisinha, se existem tantas falhas e ocorre a gravidez, da mesma forma ocorrem as doenças sexuais.
Uma outra vacina importante é contra hepatite B, que pode acarretar cirrose no fígado e câncer hepático. Eu sempre a recomendo, quando constato que a pessoa não é imune. O vírus da hepatite B pode ser transmitido por transfusão de sangue e por contato sexual. As pessoas voltam por anos para o exame de rotina, alegando que se esqueceram de vacinar ou que a vacina é cara (menos que um terço da vacina do HPV). Justificam-se que nos postos de saúde a vacina está em falta ou que é um “saco” procurar um lugar para se imunizar etc.
A hepatite C, também transmitida pelas mesmas vias que a hepatite B, pode levar a maiores danos ainda. Infelizmente não temos vacina contra ela.
Sexo é bom demais, principalmente quando compartilhado com quem amamos. Sexo faz parte do desenvolvimento do ser humano e, muitas vezes, é o que perpetua o relacionamento entre o casal, mas as pessoas não podem ter a fantasia de que as doenças só acontecem nos outros! Vejo todos os dias tudo quanto é tipo de gente, converso sobre dezenas de casos diferentes a cada instante e posso dizer com absoluta convicção que uma grande parte brinca com suas vidas.
O verão está aí... Praia, campo, passeios, férias, festas, encontros, descobertas... Saibam pensar e boas férias.
Leila Marinho Lage
Rio, 15 de dezembro de 2006
http://www.clubedadonameno.com