A MUSICALIDADE ENTRE MÃE E FETO - Lia Lúcia A. de Sá Leitão
A MUSICALIDADE ENTRE MÃE E FETO
Lia Lúcia A. de Sá Leitão
RESUMO: Este artigo pretende mostrar a relevância musical no desenvolvimento da vida ainda em fase uterina. Embora não haja um campo de pesquisa amplo devido às dificuldades do feto estar protegido pelo útero e também pelas revelações mais novas de pesquisadores que apontam o desenvolvimento do feto em um meio bastante harmônico, o útero materno é sonoro, pois ruídos internos do organismo materno podem ser confundidos ou interagir com ruídos externos e principalmente com a voz materna. A musicalidade materna ao se comunicar com o feto oferecendo um ambiente menos hostil com a voz maternal leva o feto a reações de viabilizar algum movimento de prazer salutar para a criança em formação.
Palavras chave: musicalidade, maternidade, feto e afeto.
A musicalidade é para a vida humana uma sintonia de interação cultural, seja erudita seja popular há uma História que se perpetua de geração a geração e vence o limite de todas as dimensões de interação e integração, feto, criança, adolescente e adulto, e assim retomando mais uma vez o ciclo da vida.
A linguagem afetiva materna com o feto é sem sombra de dúvidas o primeiro suporte de boas vindas ao novo ser que se desenvolve mantendo uma interação entre a proteção do ventre e a vida que desenrola fora do útero.som tranqüilo e harmônico, compassado e grave pode causar mais tranqüilidade ao feto que o barulho ensurdecedor dos ritmos eletrônicos causando um certo desconforto pela rapidez melódica somada aos sons estridentes e agudos.
[...] se considerarmos que todos os fatos que ocorrem no período pré natal recebem registros mnêmico: que esse registro se dá e fica guardado apenas no nível do inconsciente; que todas as vivências pelas quais passa o ser no período pré natal iaô fazer parte de sua bagagem inconsciente, exercendo influência tanto sobre a personalidade pós natal como sob sua conduta e seu comportamento; e sendo o inconsciente objeto por excelência da Psicanálise, conclui-se que o estudo do psiquismo pré natal é de importância fundamental para esse campo de conhecimento. ( Wilheim, 1993. P.132 )
A musica é concebida pelo inconsciente e promove ao feto e posteriormente ao nascituro a sensação de felicidade e tranquilidade em meio a família e a correspondência afetiva com a mãe produzindo um envolvimento afetivo mais intenso com laços mais consistentes de sentimentos.
A maternidade sempre desenvolveu um aspecto peculiar com a harmonia dos sons promovendo em si um momento de comunicação e paz, afeto e espera aonde o feto possa sentir mais conforto e segurança afetiva.
A musicalidade exercida pela maternidade promove um desenvolvimento de atenção e paz ao feto, ou irritabilidade e desconforto, como alguns movimentos observados e relatados por gestantes em meio a eventos que promovem altos níveis semitonados.
Mesmo no útero materno o feto está mergulhado em um ambiente sonoro as vozes que em breve a criança irá identificar.
A criança que vem ao mundo com a carga emotiva positiva em que a mãe teve o compromisso de cantar canções de ninar, canções de brincadeiras, modinhas infantis, certamente essa criança desenvolveu-se cognitivamente de forma bem diferente de uma outra criança em vivencias bem adversas, extrema pobreza, reclamações, ambientes abaixo da linha de vida humana, fome e violências.
Esse artigo tem como objetivo apontar um modelo universal de bem estar através da comunicação mãe feto através da musica.
A Criança e o Seu Desenvolvimento Cognitivo através da Musica
Pesquisas desenvolvidas em diversas partes do mundo e com sociedade cuturalmente diferentes apontam que a musica é um viés universal de afetividade e compromisso mãe feto.
A influência musical partindo da mãe, no qual a voz da mãe possa ser identificada pelo feto é salutar para o desenvolvimento do bebê ainda no útero materno demonstrando que existem reações aos estímulos sonoros vindos do universo exterior.
O feto tem o poder dessa percepção seja para sua tranqulidade seja de irritabilidade.
Platão afirmou que a música é a ginástica da alma, devido ao fato da harmonia promover um rápido e profundo exercício cerebral que atravessa todos os órgãos do sentido humano levando o ser às nuances do afeto e da emoção.
Para o feto a paz exercida pela boa música tem caráter relaxante e não se pode descartar a atividade dos ciclos cerebrais pois baixando a ciclagem cerebral as atividades neuroniais e as sinapses são mais rápidas o que facilita a concentração e a aprendizagem (Ostrander e Schoeder,1978) tomando essa idéia é possível afirmar a identificação e o desenvolvimento cognitivo das crianças com alguns ritmos, letras e harmonias mesmo em fase pueril.
Afetividade e a Música
As atribulações do dia a dia, como as obrigações dos horários e as jornadas de trabalho, as contas a pagar, os compromissos sociais, estudos e outras tantas atividades que fazem da vida uma verdadeira roda viva fazem a mãe moderna dispor de um tempo dedicado à comunicação com o filho que ainda está em seu ventre.
Pesquisadores obtiveram comprovação de algumas de suas experiências como Cavalcante, 2004, em que reafirmou que as crianças permanecem mais calmas quando expostos a contextos harmônicos mais tranqüilos e mudam o comportamento causando uma aceleração de batimentos cardíacos e movimentos quando a música se torna mais agitada.
A mesma explicação científica serve para quem está com o bebê nos braços, o ritmo do coração faz a criança se tranqüilizar devido ao reconhecimento do batimento cardíaco que ouvia no útero materno, as canções de ninar também possuem seus aspectos positivos de afetividade, pois dessa forma o ser se sete acolhido e protegido pela mãe que é o ente próximo e querido e por conseguinte manterá uma maior ligação afetiva.
[...] lê o inconsciente da mãe e o organismo dela, vivencia o inconsciente e a consciência da mesma e, de forma particular, este exerce ações reguladoras específicas que interagem com o ser em gestação. Essa interação produz registros de memória que irão influenciar na formação da personalidade do novo ser.
( GOLFETO, 1997, p. 36 ).
A mãe e o feto sempre estarão em sintonia comum; ela constrói a maior rede de comunicação e integração com a criança nas trocas afetivas.
A criança por sua vez além de manter o laço afetivo vinculado ao sentimento de troca positiva também reflete suas emoções com suas respostas pessoais de modo a construir com a mãe um processo de continuidade e amadurecimento na formação do caráter e desenvolvimento cognitivo.
A despeito das canções de ninar é possível narrar fatos de adultos que jamais esqueceram suas canções de ninar favoritas e numa hora de emoção eclode da alma como carinho, são as memórias musicais que afloram diante da situação de convivência e proteção.
Há também acalantos que o adulto não tem explicação para suas próprias emoções, memórias de fatos que não encontram palavras para descrevê-los e até margeia a vergonha de não saber explicar a emoções de ternura há muito esquecido em algum lugar do cérebro que afloram sem explicações com algum relato e confirmação da genitora.
Enfim a comunicação através da boa música evidencia a necessidade de interação mãe feto e posteriormente a influência na primeira infância como ponto positivo para o desenvolvimento cognitivo e emocional do ser em formação.
É interessante ressaltar a necessidade de continuidade da música na vida infantil desde o ventre às atividades escolares da criança.
A prática de aprender ouvir pode conferir o gosto pela execução de sons sem muito nexo enquanto criança, mas o incentivo materno e o direcionamento educacional podendo estimular o exercício da musicalidade através de um instrumento ou da voz através do canto.
Realmente qualquer manifestação musical e harmônica favorece o desenvolvimento e a formação intelectual obtendo uma maior sensibilidade e senso perceptivo seja como feto, em toda a complexidade da sua formação individual ou através da evolução infantil em seus primeiros experimentos de reprodução sonora durante a primeira infância.
Nas Universidades de McGill (Canadá ) e Blood de Massachusetts (E.U.A) afirmam em suas pesquisas que o cérebro acata a musica e reage biologicamente relacionando aos circuitos prazerosos de bem estar e paz.
A música tem o poder de cura e pode ser utilizada como elemento prioritário para a cura de algumas patologias detectadas ainda no ser enquanto feto.
A sabedoria das avós aflora mementos seguidos ao afeto em que a criança busca o aconchego para dormir, ou mesmo o ventre da mãe que se aconchega para o descanso e no silêncio mais profundo da natureza humana mãe e filho quando se comunicam num solfejo de boa noite neném derrubando por terra qualquer teoria observável.
A Música Interage e Desenvolvendo a Relação Mãe e Filho.
A interação mãe e filho durante o período de gestação é fundamental para o desenvolvimento positivo da afetividade, mãe e filho. O repertório dos acalantos pressupõe-se que mesmo antes do nascimento o feto desencadeia movimentos de respostas através da movimentação no ventre da mãe e mesmo sem uma comprovação afirmativa por meio de comprovações científicas há o sentimento de segurança e aconchego.
A música refletirá no futuro como um ponto de apoio materno para a adaptação do ser à nova estrutura de vida que terá que assumir fora do útero o que será via de regras para socialização e interação com a mãe de uma vez que o feto é receptivo aos impulsos maternos e aos impulsos do seu próprio corpo.
Há uma cumplicidade entre mãe e feto naquilo que se refere ao amadurecimento emocional e aos anseios de cada um.
A proteção e o deixar-se cuidar, as memórias musicais marcam os dois universos em verdadeira simbiose de esperas, de curiosidades e de confiança.
A mãe interage na formação Fo feto desde as mensagens positivas de amor quanto como as modinhas de ninar ou canções que inspiram ternura e aconchego.
Segundo Bion:
Não vejo razão que o feto a termo tenha uma personalidade. Parece-me gratuito e sem sentido supor que o fato físico do nascimento seja algo que cria uma personalidade que antes não existia. É muito razoável supor que este feto, ou mesmo embrião tenha a mente que um dia possa ser descrita como muito inteligente. (BION, p. 91,1992)
Dessa forma há quem afirme a inteligência emocional do bebê que responde aos estímulos sonoros maternos.
Referências bibliográficas
CAVALCANTE, R. Música na cabeça. Disponível em: www.habro.com.br. Acesso em 03 out. 2011.
BION, W. R. Conversando com Bion. Rio de Janeiro: IMAGO, 1992.
WILHEIM, J. Psiquismo pré e perinatal. In ENCONTRO BRASILEIRO PARA O ESTUDO DO PSIQUISMO PRÉ E PERINATAL, 2., São Paulo. 1994. Decifrando a linguagem dos bebês: Anais... São Paulo: Associação Brasileira para os Estudos do Psiquismo Pré e Perinatal, 1997, p 203-211.
GOLFETO, J. H. a Experiencia no departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. In ENCONTRO BRASILEIRO PARA O ESTUDO DO PSIQUISMO PRÉ E PERINATAL, 2., São Paulo. 1994. Decifrando a linguagem dos bebês: Anais... São Paulo: Associação Brasileira para os Estudos do Psiquismo Pré e Perinatal, 1997, p. 34-41.