E agora, Severino?

Texto inspirado na bela poesia de Carlos Drummond de Andrade:

"E Agora, José?"

O século XXI foi marcado pela exuberância da tecnologia. Torna-se fácil afirmar, que nos dias atuais, é pouco provável que exista alguém sem acesso a algum tipo de instrumento tecnológico.

O rádio já não é mais "aquele". O mercado exibe televisores da mais alta tecnologia. Comprar, deixou de ser motivo de deslocamento e cansaço, pode-se adquirir qualquer produto por meio da internet.

A pipoca da trivial panela de pressão, pula com mais frequência nos micro-ondas da vida. O avanço tecnológico não para por aí: localizar um itinerário deixou de ser complexo depois do propagado GPS. Enviar um documento, questão de minutos.

O mundo virtual tomou conta. As redes sociais conseguem interligar uma comunicação em segundos.

Tudo ficou mais rápido, motivado pela praticidade trazida às pessoas. A sociedade muito ocupada e cada vez mais ansiosa tem muito a agradecer a tecnologia vigente - apertar um botão e ver a coisa pensada funcionar.

Máquinas e máquinas. Muitas, trouxeram às pessoas vantagens e mais vantagens, outras ainda não se sabe(ou sabe-se) o tamanho do estrago trazido.

Braços bravos e fortes nas lavouras dos sertões, sustentaram por décadas, famílias inteiras, que lamentavelmente, só contavam com esse tipo de sustento.

Nenhuma moda de viola, sequer a "Paciência" de Lenine - ...O corpo precisa de mais alma, a alma precisa de mais calma... - conseguiram retratar a rotina de pessoas cortadoras de cana, por exemplo. Acidentes e tantos acidentes, com mutilações: dedos, pernas, braços, sem indenizações nenhuma, registram o cenário desse serviço.

As máquinas, em grande parte, vem substituindo este trabalho. Bom para os patrões, os donos do negócio: produto mais rápido, enquanto que, máquinas não requerem indenizações (embora raríssimas).

Que mal poderiam ter causado essa substituição?

Onde estão e como vivem, os Severinos, os Josés, Marias e Luzias? E o legado antes, deixado aos filhos dessas pessoas - a lavoura - foi substituído por quê? Haveria necessidade de um programa "bolsa lavoura"?

A tecnologia atinge a todos, mas serve a todos?