Para aficionados em bula
Nos dois últimos anos tenho observado pela Internet um massacre contra o uso de pílulas anticoncepcionais, em especial, contra um produto de última geração produzido por uma indústria farmacêutica idônea e com histórico em pesquisas pioneiras.
Aqui não cabe fazer propaganda de remédio, muito menos de laboratórios – o assunto é outro e muito mais importante, a meu ver.
Alguém começou a divulgar as complicações que teve com o uso de um medicamento anticoncepcional a base de progestágeno e estrogênio, que é a forma mais usada até hoje. Isso tomou um vulto impressionante, a ponto de eu receber de desconhecidos e amigos dezenas de alertas quanto à referida medicação.
Multidões de mulheres aderiram ao “movimento”, relatando as mazelas que sofreram com a mesma medicação. Muitas usuárias apavoradas suspenderam a medicação e minhas pacientes entraram em pânico, achando que a mídia tinha descoberto algo que o laboratório omitia.
O laboratório, por sua vez, enviou aos médicos explicações e esclarecimentos sobre o caso, tranquilizando os profissionais. Por ser uma empresa ética, a divulgação apenas se restringiu aos médicos ginecologistas e à Internet, em seu site.
Só que a população, a formadora de opiniões, não tem acesso a estas informações.
Não levanto bandeiras quanto a anticoncepcionais hormonais e acho que cada paciente, dentro de suas condições clínicas e sua vida sexual, tem o direito de ter acesso e explicações sobre todos os métodos contraceptivos e fazer sua escolha.
Uma consulta para se explicar sobre como não engravidar e ensinar o uso do método escolhido pode demorar muito tempo, o que faz o médico resumir tudo e ser o mais lacônico possível.
Por outro lado, as pacientes lêem bulas, perguntam às amigas ou copiam o que a outras tomam, baseadas apenas em informações leigas. Isto tudo sem o menor critério de investigação clínica e laboratorial!
É o caso: “Melhor eu tomar isso do que engravidar e fazer um aborto...”. A sorte é que estas medicações foram por anos pesquisadas e conseguem evitar a maior parte dos efeitos colaterais inerentes a elas.
O uso indiscriminado, o fácil acesso nas bancas de farmácia, o seu preço (geralmente de baixo custo), a imprudência de certos médicos em não investigar e não acompanhar uma usuária de “pílula e a dificuldade da maior parte da população em ter contato frequente com um médico, faz com que a auto-medicação e o uso de medicações contra-indicadas sejam uma constante em nosso meio. Somado a isso, a praticicidade de apenas ingerir todos os dias um remédio, de fácil transporte e sigilo, leva adultas e adolescentes, sem a menor consciência do que tomam, serem vítimas de efeitos colaterais, algumas vezes fatais.
Até um anti-térmico pode causar a morte, um anti-alérgico pode causar alergia.
Nenhuma medicação é totalmente inócua e os médicos sabem muito bem disso. Devemos ter capacidade de escolher quem pode ou não pode tomar pílula anticoncepcional, e, mesmo assim, uma mulher inteiramente saudável pode ter complicações com ela, tanto a curto quanto a longo prazo.
Nada é mais ético do que esgotar todos os recursos diagnósticos e tentar tratar a pessoa de algum mal. O médico não é obrigado a curar, mas é obrigado a tentar curar. Para isso, lançamos mão de nossos conhecimentos e damos um pouco de nós como pessoa, ouvindo e procurando entender do que se queixa o paciente.
Se a paciente em questão foi ou não bem atendida, eu não sei. Só sei que não se pode deletar da face da terra medicações que beneficiam milhões de pessoas todos os dias e são responsáveis pelo controle da natalidade e do bem estar familiar.
A pílula anticoncepcional existe há mais de 40 anos (foi lançada na década de 60). No início eram compostas de grande dose de estrogênios e progestágenos, o que levava a riscos enormes para a parte circulatória e cardivascular, dentre outras patologias, pois são complicações dose-dependentes. Entretanto, não há, até os dias atuais, a fórmula mágica que sirva para todas as mulheres.
Iatrogenia significa alteração patológica provocada no paciente por diagnóstico ou tratamento de qualquer tipo. Mais especificamente, “iatros” em grego significa médico e “genia” vem de genesis, origem. Ou seja: iatrogenia significa o resultado de qualquer ação médica.
Qualquer médico, que atue como médico, já causou algum tipo de “iatrogenia” em alguém, consciente disto ou não.
Só acontece com que tem peito de fazer a coisa. Ou melhor, tem sempre que haver alguém pra fazer o trabalho “sujo”.
Que façamos com consciência...
Leila Marinho Lage
21 de abril de 2007
Nos dois últimos anos tenho observado pela Internet um massacre contra o uso de pílulas anticoncepcionais, em especial, contra um produto de última geração produzido por uma indústria farmacêutica idônea e com histórico em pesquisas pioneiras.
Aqui não cabe fazer propaganda de remédio, muito menos de laboratórios – o assunto é outro e muito mais importante, a meu ver.
Alguém começou a divulgar as complicações que teve com o uso de um medicamento anticoncepcional a base de progestágeno e estrogênio, que é a forma mais usada até hoje. Isso tomou um vulto impressionante, a ponto de eu receber de desconhecidos e amigos dezenas de alertas quanto à referida medicação.
Multidões de mulheres aderiram ao “movimento”, relatando as mazelas que sofreram com a mesma medicação. Muitas usuárias apavoradas suspenderam a medicação e minhas pacientes entraram em pânico, achando que a mídia tinha descoberto algo que o laboratório omitia.
O laboratório, por sua vez, enviou aos médicos explicações e esclarecimentos sobre o caso, tranquilizando os profissionais. Por ser uma empresa ética, a divulgação apenas se restringiu aos médicos ginecologistas e à Internet, em seu site.
Só que a população, a formadora de opiniões, não tem acesso a estas informações.
Não levanto bandeiras quanto a anticoncepcionais hormonais e acho que cada paciente, dentro de suas condições clínicas e sua vida sexual, tem o direito de ter acesso e explicações sobre todos os métodos contraceptivos e fazer sua escolha.
Uma consulta para se explicar sobre como não engravidar e ensinar o uso do método escolhido pode demorar muito tempo, o que faz o médico resumir tudo e ser o mais lacônico possível.
Por outro lado, as pacientes lêem bulas, perguntam às amigas ou copiam o que a outras tomam, baseadas apenas em informações leigas. Isto tudo sem o menor critério de investigação clínica e laboratorial!
É o caso: “Melhor eu tomar isso do que engravidar e fazer um aborto...”. A sorte é que estas medicações foram por anos pesquisadas e conseguem evitar a maior parte dos efeitos colaterais inerentes a elas.
O uso indiscriminado, o fácil acesso nas bancas de farmácia, o seu preço (geralmente de baixo custo), a imprudência de certos médicos em não investigar e não acompanhar uma usuária de “pílula e a dificuldade da maior parte da população em ter contato frequente com um médico, faz com que a auto-medicação e o uso de medicações contra-indicadas sejam uma constante em nosso meio. Somado a isso, a praticicidade de apenas ingerir todos os dias um remédio, de fácil transporte e sigilo, leva adultas e adolescentes, sem a menor consciência do que tomam, serem vítimas de efeitos colaterais, algumas vezes fatais.
Até um anti-térmico pode causar a morte, um anti-alérgico pode causar alergia.
Nenhuma medicação é totalmente inócua e os médicos sabem muito bem disso. Devemos ter capacidade de escolher quem pode ou não pode tomar pílula anticoncepcional, e, mesmo assim, uma mulher inteiramente saudável pode ter complicações com ela, tanto a curto quanto a longo prazo.
Nada é mais ético do que esgotar todos os recursos diagnósticos e tentar tratar a pessoa de algum mal. O médico não é obrigado a curar, mas é obrigado a tentar curar. Para isso, lançamos mão de nossos conhecimentos e damos um pouco de nós como pessoa, ouvindo e procurando entender do que se queixa o paciente.
Se a paciente em questão foi ou não bem atendida, eu não sei. Só sei que não se pode deletar da face da terra medicações que beneficiam milhões de pessoas todos os dias e são responsáveis pelo controle da natalidade e do bem estar familiar.
A pílula anticoncepcional existe há mais de 40 anos (foi lançada na década de 60). No início eram compostas de grande dose de estrogênios e progestágenos, o que levava a riscos enormes para a parte circulatória e cardivascular, dentre outras patologias, pois são complicações dose-dependentes. Entretanto, não há, até os dias atuais, a fórmula mágica que sirva para todas as mulheres.
Iatrogenia significa alteração patológica provocada no paciente por diagnóstico ou tratamento de qualquer tipo. Mais especificamente, “iatros” em grego significa médico e “genia” vem de genesis, origem. Ou seja: iatrogenia significa o resultado de qualquer ação médica.
Qualquer médico, que atue como médico, já causou algum tipo de “iatrogenia” em alguém, consciente disto ou não.
Só acontece com que tem peito de fazer a coisa. Ou melhor, tem sempre que haver alguém pra fazer o trabalho “sujo”.
Que façamos com consciência...
Leila Marinho Lage
21 de abril de 2007