A mística, atitude sensível da alma

A mística, atitude sensível da alma

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

A mística, atitude sensível da alma

Sendo a essência de um sentir espiritual, a mística manifesta-se livre e espontaneamente no íntimo de cada ser. O temperamento místico é inato na alma humana, e adquire seu sentido ideal quando expressa a aspiração de identificar-se com a alma universal.

No próprio instante em que toma contato com a vida – ao nascer –, o ser pronuncia sua primeira exclamação mística: é o grito incontido do primeiro triunfo sobre sua natureza. Repete-a pela última vez – mentalmente, caso não possa com os lábios – no momento de deixá-la, ao fechar os olhos para a luz do mundo.

A mística desenvolve-se no homem segundo seus sentimentos. Quanto maior é a evolução, tanto mais íntima, delicada e sublime é a pureza de expressão na atitude culta e respeitosa do indivíduo.

Quem já não pensou, nos momentos de dor ou de sofrimento agudo, em ser mais bondoso, generoso e tolerante com os demais?

Ao submergir-se nas profundidades de seu ser, para perscrutar os desígnios de sua vida, e emergir depois na superfície da consciência resplandecente de júbilo, o homem não pode se sentir nada menos do que maravilhado diante do supremo pensamento que animou sua existência. Essa mesma sensação de encantamento e esplendor, ele a experimenta diante de tudo o que comove sua inteligência; do que transcende o vulgar e fácil; diante da inefável pureza do belo, do heróico e do grande, seja em gestos, em fatos ou façanhas, e, enfim, diante de tudo o que, de uma ou de outra maneira, o incline a render um culto e uma estima que não se sente inspirado a tributar senão ao que promove o pronunciamento de seu espírito. Isso não é outra coisa que aquilo que deriva da mística em sua essência mais pura.

Todas as reações naturais da sensibilidade diante do que exalte a consideração humana, maravilhe a razão ou estimule fortemente a consciência merecerão o conceito de expressões místicas.

Os atos de abnegação, a caridade inteligentemente interpretada, que não malogra seus frutos, a cordialidade expressa na amizade leal e sincera, são outros tantos aspectos do verdadeiro enraizamento da mística na alma humana. E o são porque essas atitudes revelam a presença, no homem, de sentimentos que expressam ou tornam manifesto o mais puro e sublime de sua natureza. Poder-se-ia dizer que tais atitudes ascendem ao divino, uma vez que ultrapassam o plano das manifestações habituais.

A dor, o sofrimento, são também expressões místicas, quando aquele que os suporta experimenta o doce benefício que provém do bálsamo interno extraído da resignação, a qual, ao mesmo tempo que engendra a paciência, neutraliza os impulsos do desespero. Além disso, quem já não pensou, nos momentos de dor ou de sofrimento agudo, em ser mais bondoso, generoso e tolerante com os demais? Não foi e continua sendo a dor o que modifica e modera os temperamentos mais irrefreáveis, os caracteres mais incorrigíveis? Não é o padecimento o que se encarrega de fazer compreender – e ainda emendar – os desastres morais que seus excessos provocam? Quantas coisas são negadas pela soberba – que é a própria incompreensão –, mas que o ser se sente prodigamente inclinado a outorgar em seus momentos de dor, inclusive tudo quanto tem, se com isso fosse possível eliminar seu padecer! São místicas ou não essas atitudes? São místicas, com efeito.

Trechos extraídos do livro O Mecanismo da Vida Consciente, p.111

Carlos Bernardo González Pecotche
Enviado por Sinval em 16/12/2013
Código do texto: T4614330
Classificação de conteúdo: seguro