As novas regras do jogo
Por Rodrigo Capella*
Aos poucos, as livrarias estão mudando a forma de recepcionar os leitores e autores. Aos leitores, oferecem lindas lojas, tratamento personalizado e distribuição adequada das obras. Quem vai comprar um livro nota, então, uma certa profissionalização e modernidade. Tudo organizado em ordem alfabética, catalogado por sessões e monitorado por uma máquina que permite escolhermos os livros pelo nome do autor, título ou até mesmo pela editora. É um luxo só!
Já aos autores, as livrarias oferecem salas e estrutura para a realização de eventos diferenciados, tais como sarau, exposição de quadros e a famosa conversa com o autor, na qual o leitor tem a oportunidade de fazer perguntas e levantar polêmicas.
Trata-se uma mudança de comportamento brutal, que reflete um certo amadurecimento das livrarias. Antigamente, leitores não podiam contar com a ajuda dos vendedores e, numa missão quase impossível, debruçavam-se em estantes empoeiradas para tentar encontrar um livro. Hoje, isso faz parte do passado. Profissionais bem treinados até sugerem livros e o melhor: entregam a obra em nossas mãos.
Infelizmente, como todo processo, esse também é lento e gradual. Muitas livrarias ainda desprezam o bom atendimento e bloqueiam as iniciativas de lançamentos diferenciados. Falo isso por experiência própria. A vernissage de meu livro "Poesia não vende", por exemplo, utilizou uma proposta que causou uma certa estranheza nas livrarias. Algumas deram o sinal verde, mas muitas não apoiaram a idéia de relacionar, ao vivo, a poesia com a pintura, música, teatro e a própria literatura.
Em pleno século XXI, mau pude acreditar que alguma loja de livros tivesse essa postura. Enganei-me. Conforme relatei, várias tiveram. Puro conservadorismo de quem precisa inovar para atender aos clientes. Obstáculos a parte, encontrei abrigo em uma livraria especial que disponibilizou até profissionais para afastar móveis, escolher os locais das atividades e servir coquetel.
Foi uma maravilha. O lançamento de "Poesia não vende" aconteceu em perfeita harmonia e contou realmente com apresentações poéticas, teatrais e musicais, além de pintura, misturando realismo e impressionismo. Tudo isso ao vivo, encantando leitores, valorizando a poesia e ajudando a formar novos poetas e escritores.
Esse tipo de evento só ocorreu porque algumas livrarias vêm adotando, ao longo dos últimos anos, o sistema americano de franquias, consolidado em lanchonetes. Quem abre uma franquia precisa seguir os moldes da loja original, é claro, mas tem segurança para inovar. Os números do Sebrae demonstram isso: antes de completar três anos, apenas 7% das franquias fecham, contra 60% dos negócios independentes, os chamados não-franqueados, considerando o mesmo período.
Percebe-se, então, que livrarias estão aprendendo as novas regras do jogo. Sabem que precisam estar modernas e mais flexíveis ás mudanças e propostas de lançamentos de livros. Em uma época, onde se compra obras com apenas um click, pensar de maneira conservadora é parar no tempo, perder leitores e ver a concorrência dobrar o faturamento.
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles "Transroca, o navio proibido", que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer, e "Poesia não vende", que traz depoimentos de Ivan Lins, Moacyr Scliar e Barbara Paz, entre outros. Informações: www.rodrigocapella.com.br