SEM UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff reconheceu como alarmante os casos de estupros do Brasil. Pelas estatísticas foram 47 mil casos em 2012. Usando outra estatística, são 26 estupros por grupo de 100 mil habitantes. Pior, é saber que nessas estatísticas são computados apenas os casos denunciados.

Diante dessa constatação, dizer que os casos de mulheres estupradas é o dobro do que as estatísticas mostram não é nenhum exagero. Dilma estava indignada. Era o mínimo que poderíamos esperar de uma presidente da república. E cobrou o fim da impunidade dos agressores. Não basta apenas cobrar.

Dilma colocou o dedo na ferida. Ainda falta espremer. E com força. O grande desafio é mudar nossas leis. O crime está se enraizando na sociedade como erva daninha. Estamos deixando a doença tomar conta. Depois não haverá antibióticos para curá-la. Não adianta se indignar apenas com estupradores indianos. Temos que punir os nossos.

Chego a pensar que a impunidade brasileira, está estritamente ligada a saída repentina da ditadura para a democracia. Ficaram os resquícios. De repente, punir nos reverte aos erros dos anos de chumbo. O que faz nossas leis premiarem estupradores com reduções de penas, e até com indultos como “dia das mães”. Uau! Um convite a novos estupros.

Outra estatística alarmante foi tema do programa “Painel”, do canal por assinatura Globonews. Um país que quer passar a noção de paz para o mundo convive com 50 mil casos de homicídios por ano. A maioria, mais de 70% sem punição. Somos uma espécie de Síria silenciosa. Para as notícias de lá, ainda mostramos uma falsa indignação. Para as notícias daqui, simplesmente viramos as costas. E vida que segue...

Willian Waack, âncora do programa, começou perguntando se a sociedade brasileira está anestesiada diante da violência. Eu diria que estamos mais que anestesiados. Somos complacentes com a violência. Muitas vezes, até cúmplices.

O filósofo Luiz Felipe Pondé, um dos entrevistados, usou uma metáfora ainda mais divertida e cruel. Ele disse que “estamos indo para o inferno, e se acostumando com o diabo”. Talvez, mais do que se acostumar estamos assustando o dito cujo.

Transformamos o verbo matar em esporte. Matamos nas portas das baladas. Nas portas das escolas. Matamos quem bateu no nosso carro. Matamos quem olhou pra nossa mulher. Até nossas crianças. E apesar do trocadilho, protegemos nossos cachorros com unhas e dentes. Estamos invertendo os valores. Acreditando ser normal.

O programa que terminou sem fórmulas mágicas, elas não existem com as leis que temos, revelou uma mensagem ainda mais assustadora. Além de compensar, hoje se discute o custo-benefício do crime. Decididamente logo estaremos assustando o diabo.