População Indígena Brasileira

INTRODUÇÃO

Como dissemos no artigo “O Que É O Índio” o objetivo do trabalho desse ano de 2013 é “as influências indígenas na cultura mestiça brasileira”. Entretanto, para tal, resolvemos escrever artigos introdutórios, que julgamos necessários para identificar o indígena brasileiro. Ou seja, quem foram aqueles que influenciaram a cultura hoje praticada pelo mestiço. Cultura mestiça resultante desse grande processo de miscigenação que, ainda, ocorre nesse caldeirão étnico, Brasil.

Para tal, iniciamos com o artigo “O Que É O Índio” e completamos com mais dois: o segundo, “Origem Dos Índios Brasileiros” e esse terceiro, “População Indígena Brasileira”. Assim, cremos ter possibilitado a identificação qualitativa e quantitativa de nosso indígena.

Para que possamos desenvolver esse artigo será necessário inicialmente enumerarmos alguns conceitos básicos, pois a diversidade, ou seja, o aspecto qualitativo do indígena brasileiro tem esses elementos como base, para a classificação da população indígena.

CONCEITOS BÁSICOS

ETNIA

Etnia, ou Grupo Étnico, ou ainda Povo é termo de origem grega utilizado para identificar comunidade humana, ou grupo de indivíduos, que possui afinidades de idioma e cultura. Ou seja, comunidade que partilha as mesmas tradições, costumes e língua. Essas comunidades geralmente reivindicam para si estrutura social, política e um território.

FAMÍLIA LINGUÍSTICA

O meio básico de organização da experiência e do conhecimento humanos é a língua, que também significa fator importante, para a cultura e a história de um povo.

Existem diferentes critérios de classificação das línguas. Hoje, os linguistas consideram que o mais apropriado é o critério genético, onde são reunidas numa mesma classe as línguas que tenham origem comum numa outra mais antiga e já extinta.

As línguas são agrupadas em famílias linguísticas que, por sua vez, são reunidas em troncos linguísticos.

Família Linguística é um grupo de línguas provenientes de uma língua ancestral comum. Ou seja, é unidade filogenética rigorosamente identificada por métodos utilizados pela Filologia, ciência que estuda as línguas, levando em consideração fatos influenciadores da evolução de determinada língua ao longo do tempo.

A língua ancestral comum é geralmente pouco conhecida, pois a maior parte das línguas tem história escrita muito reduzida. Apesar disso, é possível recuperar muitas das suas características, aplicando procedimento reconstrutivo desenvolvido no século XIX, pelo linguista August Schleicher, o método comparativo.

TRONCO LINGUÍSTICO

Tronco Linguístico é conjunto de famílias linguísticas que tenham origem comum. Essa origem é muito remota e, por essa razão, as semelhanças entre línguas de mesmo tronco podem ser muito sutis. Já nas famílias as semelhanças são maiores, pois as separações ocorreram há menos tempo.

Atualmente, os estudos para o caso da população indígena indicam famílias que, por não apresentarem semelhanças suficientes, não foram agrupadas em troncos.

A POPULAÇÃO INDÍGENA BRASILEIRA

NA ÉPOCA DO DESCOBRIMENTO

Certamente, o que mais interessa é a população atual, que é periodicamente atualizada pelos censos demográficos. O anterior ocorreu em 2010 e o próximo está previsto para 2020.

Apesar disso, para darmos visão histórica desses dados, o que permitirá algum entendimento da evolução dos estudos sobre a população indígena brasileira, vamos apresentar os momentos pesquisados, visto que a categoria indígena só passou a fazer parte nos censos a partir de 1991.

O que se confirmou nas pesquisas é que: devido à ausência de registros não existem números precisos sobre a população existente à época da chegada dos europeus, apenas estimativas; o território estava dividido por dois grandes grupos: os Tupis no litoral e os Tapuias no interior. Encontramos variações desde o mínimo de 500.000 a 1 milhão até o máximo de 10 milhões de índios na época do descobrimento.

Escolhemos a estimativa que apresentou melhores argumentos. Passamos a fazer parte dos que estimam a população indígena em torno de 5 milhões de indivíduos em 1500.

Se compararmos com a população portuguesa na mesma época, pouco mais de 1 milhão, é evidente que devemos aceitar essa estimativa até quando estudos diretos sobre o tema nos tragam dados diferentes, com base na documentação disponível, de acordo com a nova metodologia da demografia histórica.

A cada século decorrido correspondeu estimativas de perdas significativas causadas principalmente: pelas guerras, inclusive as de extermínio de tribos consideradas hostis e autorizadas pela Coroa Portuguesa; pelas epidemias provocadas pelo contato com o europeu; pelo desgaste com o trabalho escravo; e pela troca compulsória de cultura por meio da catequese.

Assim, historicamente a demografia indígena foi reduzida com o desaparecimento de boa parte de grupos indígenas, seja pela extinção física de seus indivíduos, seja por sua absorção á sociedade dominante.

EM 1957, SEGUNDO DARCY RIBEIRO

Em 1957, o etnólogo Darcy Ribeiro estudando o indígena brasileiro e restrito pelas informações existentes deixou as seguintes estimativas sobre a sua população.

O quantitativo estaria entre os 70 e 100 mil indivíduos distribuídos em 143 grupos tribais que, naquela ocasião, representavam tribos devido à dificuldade com a caracterização precisa se tribo ou subtribo.

As duas regiões onde estava concentrada grande parte dos índios são a Amazônica e o Centro-Oeste. Dos 143 grupos: 33 vivem completamente afastados da sociedade; 23 vivem em regiões raramente visitadas pelos civilizados; 45 vivem em contato permanente; e 38 vivem integrados à vida urbana ou rural. Talvez somente seis deles tenham populações superiores a dois mil indivíduos e somente um alcance os 5 mil. A maioria tem menos de quinhentos indivíduos.

Dos 143 : 26 falam línguas do tronco Tupi; 23 do tronco Aruak; 22 da família Karib; 18 da família Jê; 12 da família Pano; 5 da família Xirianá (Yanoama); e 37 de outras famílias ou troncos.

É desconhecido o quantitativo de grupos existentes quando teve início a colonização europeia. Sabe-se, entretanto que essa população decresceu rapidamente desde então e, não deixou de diminuir até hoje. Basta dizer que no ano de 1900 o número de grupos tribais era de 230, enquanto em 1957 era de 143. Pelos dados conclui-se que em 57 anos, desapareceram 87 grupos tribais.

INDICADA PELO CENSO DE 1991

A população total indígena apropriada pelo Censo Demográfico de 1991 foi 294.131 índios assim distribuídos pelas principais regiões do Brasil:

Norte – 124.615 – 42,4%; Nordeste -55.853 – 19%; Sudeste 30.589 – 10,4%; Sul 30.334 – 10,3%; e Centro-Oeste 52.740 – 17,9%.

Como somente agora no Censo Demográfico Brasileiro de 2010 o IBGE incluiu no questionário perguntas relativas à etnia e às línguas faladas das populações autodeclaradas indígenas os dados ficam restritos aos quantitativos nos censos de 1991 e no de 2000.

INDICADA PELO CENSO DE 2000

A população total indígena apropriada pelo Censo Demográfico de 2000 foi 734.127 índios assim distribuídos pelas principais regiões do Brasil:

Norte – 213.443 – 29,1%; Nordeste -170.389 – 23,2%; Sudeste 161.189 – 22%; Sul 84.747 – 11,5%; e Centro-Oeste 104.360 – 14,2%.

INDICADA PELO CENSO DE 2010

Distribuição Espacial

A população total indígena apropriada pelo Censo Demográfico de 2010 foi 896.917 índios assim distribuídos pelas principais regiões do Brasil:

Norte – 342.836 – 38,2%; Nordeste – 232.739 – 26 %; Sudeste 99.137 – 10,9, %; Sul 78.773 – 8,9%; e Centro-Oeste 143.432 – 16%.

Da população total – 896.917 – 517.383 – 57,68% têm seus domicílios em terras indígenas; e 379.534 – 42,32% fora das terras indígenas.

Em áreas urbanas estão 324.834, 36,22%, enquanto 572.083 – 63,78% em áreas rurais.

Etnias Indígenas Com Maior População

Tikuna – 46.045; Guarani – Kaiowá – 43.401; Kaingang – 37.470; Makuxi – 28.912; Terena – 28.845; Potiguara – 20.554; e Xavante – 19.259.

Ilustração de Algumas Etnias Por Região

Norte: Apurinã; Arara; Araweté; Kaiapó; Kanamari; Kaxinawá; Macuxi; Mayoruna; Ticuna; Tukano; Uai Uai (Wai Wai); e Yanomami.

Nordeste: Fulniô; Tremembé; Tembé; Pataxó; Potiguara; e Xucuru.

Sudeste: Guarani; Panakaru; Tamoio; Tupinambá; e Tupiniquim

Sul: Guarani; Charrua; Kaingang; e Karijó.

Diversidade Étnica

Apesar de haver ainda necessidade de muito mais estudos linguísticos e antropológicos que, certamente, alterarão o cenário atual o Censo Demográfico Brasileiro de 2010 indicou 274 línguas faladas por indivíduos pertencentes a 305 etnias diferentes.

Hoje são identificados dois Troncos Linguísticos: o Macro-Jê e o Tupi. Integram o Macro-Jê 9 Famílias Linguísticas e 35 Etnias, enquanto o ao Tupi 10 Famílias Linguísticas e 57 Etnias. Além disso, 127 Etnias se comunicam por meio de 18 Famílias Linguísticas não classificadas em Troncos Linguísticos e 86 Etnias falam línguas que não são classificadas nem em Famílias Linguísticas.

Para ilustrar, vamos enumerar exemplos em cada situação.

Algumas Famílias Linguísticas do Tronco Macro-Jê: Jê; Karajá; e Maxakali; algumas Etnias: da Família Jê: Kaingang; Kayapó e Xavante; da Família Karajá: Karajá; e da Maxakali: Pataxó.

Algumas Famílias Linguísticas do Tronco Tupi: Mawé; Mundurukú; e Tupi-Guarani. Algumas Etnias: da Família Mawé: Sateré-Mawé; da família Munduruku: Mundurukú; e da Família Tupi-Guarani: Guarani Kaiowá; Karipuna; e Tamoio.

Algumas Etnias de Algumas Famílias Não Classificadas em Troncos

Da Família Aruak: Apurinã; Baré; Terena; e Uapixana (Wapixana). Da Família Karib: Matipú; Makuxi; Tiriyó; e Wai Wai (Uai Uai). Da Família Pano: Kaxinawá. Da Família Tukano: Desána; e Tukano. Da família Katukina: Kanamari. Da Família Nhambikwara: Alantesu; Negarotê; e Nhambikwara. Da Família Yanomami: Sanumá; e Yanomámi.

Algumas Etnias que falam línguas nem classificadas como Famílias.

Atikum; Karijó; Pankararu; Potiguara; Tikuna; Tupiniquim; e Xucuru.

CONCLUSÃO

Na observação dos dados quantitativos de 1957, 1991, 2000 e 2010 podemos concluir:

- a Amazônia é a região com população indígena mais expressiva;

- as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste concentram a maior parte da população indígena;

- mais da metade da população indígena vive em terras indígenas e pouco mais de um terço vive em áreas urbanas;

- o crescimento de 100 mil, estimado em 1957, para os quase 300.000 do censo de 1991 deve incluir um desconto a real crescimento demográfico, em virtude da grande carência de dados em 1957;

- já, o aumento expressivo de 294 mil para 734 mil nos nove anos para a realização do censo de 2000 não pode ser compreendido devido à mortalidade, à natalidade e à migração e sim a um expressivo número de pessoas que se reconheceram indígena, principalmente nas áreas urbanas.

Na observação dos dados qualitativos é possível concluir:

- de 1957 a 2010 houve avanço no estudo de antropólogos e filólogos, pois: Aruak considerado Tronco Linguístico passou a categoria de Família sem integrar nenhum dos dois troncos hoje (2013) definidos; surgiu o Tronco Macro-Jê com 35 etnias falando idiomas reunidos em 10 Famílias Linguísticas; e construíram melhor definição ao Tronco Tupi, já existente em 1957, com 57 etnias falando idiomas reunidos em 11 Famílias Linguísticas;

- algumas etnias julgadas extintas como Tamoio e Karijó foram indicadas no censo de 2010;

- esses dados qualitativos se iniciaram com o Censo de 2010 que incluiu perguntas relativas à língua e à etnia;

- o Indígena Brasileiro tem sua diversidade expressa em 305 etnias e 274 línguas e acreditamos que uma das causas dessa diversidade está em sua origem também diversa. Abordamos essa origem no artigo “Origem dos Índios Brasileiros”.

Com esses três primeiros artigos: “O Que É O Índio”; “Origem Dos Índios Brasileiros” “População Indígena Brasileira” tentamos fazer um esboço de nosso indígena com sua diversidade de forma a nos próximos artigos discorrermos sobre suas influências na cultura mestiça brasileira.

Foi essa diversidade indígena a matriz do Brasil Mestiço.

“Matriz Brasil” é nosso esforço para expressar em rimas e também melodia a diversidade indígena brasileira, bem como reverenciar ao ventre nativo e gentil, a matriz Brasil.

Matriz Brasil

Canamari; Kariri; Tumbalalá;

Guarani; Ianomami; Kanindé;

Kalabaça; Aranã; Tupinambá;

Apurinã; Uapixana; Araweté.

Potiguara; Panacaru; Pauxi;

Tabajara; Paracanã; Kaiapó;

Arara; Caingangue; Macuxi;

Xavante; Minuano; Pataxó.

Matipu; Juruna; Munduruku;

Caxinauá; Tremembé; Nauá;

Uai Uai; Tupiniquim; Xucuru;

Terena; Mayoruna; Xacriabá;

Ticuna; Baré; Zoró; Karuazu;

Tucano; Curaçá; Fulniô; Karajá.

Da bela e rica terra,

ventre nativo e gentil

nossa origem encerra,

sublime matriz Brasil.

FONTES:

Livro: Índios do Brasil – Julio Cezar Melatti

Folheto: Os Indígenas no Censo Demográfico de 2010 – IBGE

Sites:

acemprol.com;

answers.yahoo.com;

basilio.fundaj.gov.br;

genealogiahistoria;

geocities.ws;

significados.com.br; e

wikipédia.org.

A canção "Matriz Brasil" encontra-se nesse mesmo "Site" no endereço:

www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/58480

J Coelho
Enviado por J Coelho em 07/11/2013
Reeditado em 07/11/2013
Código do texto: T4560600
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