Radiografia da violência
Os sistemas, oficiais ou não, costumam buscar, fora do seu âmbito, as causas para as crises e os problemas. Raramente são capazes de estabelecer uma autocrítica ou elaborar um mea culpa. É mais fácil atribuir culpas e responsabilidades a outrem do que assumir suas falhas. Muitas pessoas também agem assim, incapazes de identificar as causas de seus tropeços.
Hoje em dia, a violência assusta a todos. São os assaltos, os seqüestros, os roubos a banco, as balas perdidas, o tráfico de drogas e outros descaminhos. O massacre recente nos Estados Unidos, bem como tiroteios diários nas favelas do Rio, e os assaltos a bancos, por aqui, revelam a face macro dessa assertiva. E fica sempre a questão: a violência é causa ou efeito?
Erram os que só atribuem motivações socioeconômicas (miséria, desemprego, saúde deficitária) à violência. As gangs que se engalfinham nos estádios, compostas de jovens de classe média (alguns até universitários) desmente aquela tese.
O fato é que a violência está aí. Não só nos Estados Unidos, na Europa ou nas favelas cariocas. Ela está perto de nós; batendo em nossa porta. A partir dessa constatação irrefutável, algumas questões se impõem. Antes, a mídia gaúcha atribuía a violência a um provável mau desempenho do Secretário da Segurança, José Paulo Bisol. Hoje, mais de quatro anos depois da sua saída, a situação está pior do que nunca. Isso evidencia que a culpa não era de Bisol.
A violência está maior do que nunca, e o lobby da bandidagem é tão poderoso que chegou a derrubar, recentemente, um Secretário de Segurança no Rio Grande do Sul. É um sinal dos tempos!
O que fermenta tudo isto é a impunidade e a corrupção. Os crimes pessoais estão aí, pedindo justiça. Junto deles, outros, de repercussão internacional, como o massacre de Eldorado de Carajás, a morte do Padre Josimo, no Maranhão, o assassinato de Chico Mendes, em Xapuri, a morte da Irmã Dorothy, no Pará, e a execução de Margarida Alves, na Paraíba, tudo aponta para uma revoltante impunidade.
Como a violência se presta muito para explorações políticas, o cidadão acaba sendo duplamente vítima: primeiro porque é alvo dos marginais; depois, porque é obrigado a se trancar em casas gradeadas, deixando de ir a determinados lugares para não se expor. Cidadãos presos e bandidos soltos. Os matadores de Chico Mendes e Margarida Alves estão soltos até hoje.
O desarmamento, conforme eu havia previsto, deixou as coisas piores, uma vez que desarmou o cidadão e fez aumentar a audácia dos criminosos. Acho que é de pouca eficiência colocar o exército nas ruas. A maioria dos recrutas não tem treinamento policial. A matança pode ser pior.
Consola-nos observar a desventura dos outros, vendo que tem gente em situações piores. Mas será que isto resolve os nossos problemas?