INVERSÃO DE VALORES II "O RÓTULO"

INVERSÃO DE VALORES II “O RÓTULO”

É surpreendente no mundo contemporâneo como alguns valores são invertidos. Pessoas são jugadas pelos seus atos, pelas suas vestes, pelo seu salário, pelo seu comportamento, pela sua crença ou até mesmo pelas suas escolhas pessoais, coisa que não diz respeito a mais ninguém.

Outro dia tive vontade de esbofetear um vendedor que, pelo meu carro, deduziu quanto eu tinha em minha conta bancária. Era um dia de Domingo, plantão para aumentar as vendas em uma concessionária de veículos, olhem só que falta de compromisso, parei no meu carro com 10 anos de uso e entrei no estabelecimento para uma olhada mais de perto nas promoções do plantão. Entrei, circulei alguns modelos, abri a porta de outro e nada. Havia três vendedores conversando na porta da loja bem por onde eu entrei, todos perceberam minha entrada e ninguém se movimentou. Eu também não dei muito cabimento, nem chamei ninguém, afinal tinha saído de casa meio descompromissado, de bermuda e chinelo de dedo. Pois bem, sabe o que eu fiz: voltei para casa, troquei de roupas e troquei também o carro por um modelo importado bem novinho de meu sogro, e voltei à loja. Mal estacionei o carro percebi uma disputa para vê que me atendia, um deles quase veio abrir a porta do carro que eu estava com uma calorosa recepção: Olá Senhor Vamos visitar nossa loja enquanto tomamos um suco bem geladinho? Eu com meus óculos escuros Ray Ban falsificado até na China, com um carro emprestado e sem um puto no bolso, desdenhei. Subi e me dirigi até o modelo que achava que era o mais caro da loja, foi aquele alvoroço: Senhor este carro é excelente, muito novo e está na promoção, interrompi o F.D.P. do vendedor e logo lhe perguntei, este carro é 2013? Não moço, é 2012 respondeu o vendedor. Eu só pra não ficar por baixo falei, é muito velho não me interessa, mais uma vez desdenhei. Vocês tem algo mais sofisticado, mais novo? Infelizmente não senhor, este é o carro mais novo/caro da loja. É realmente este modelo não me interessa, o que eu queria comprar mesmo era aquele prata bem do canto! Pois não senhor, vamos andar no carro? Não, eu andaria meia hora atrás quando parei aqui num carrinho velho lembra? Passei na frente de vocês, e todos me ignoraram. Rapaz, o vendedor quase morreu de vergonha. De qualquer forma, obrigado por nada. E me retirei de alma lavada e enxaguada como dizia o saudoso Odorico Paraguaçu. Em outra ocasião fui mais arrumadinho em outra concessionária, minha mulher sempre me diz e eu acho um absurdo: “O mundo trata melhor quem se veste bem”. Então vamos lá, entrei a procura de um carro usado e me deparai com “o vendedor”, um velho conhecido de infância, o cara me falou: o departamento de usados é com outro vendedor, mas, quanto você pretende pagar nas prestações? Tantos reais, respondi. Você tem alguma grana pra entrada? Sim, tenho “X”. O cara me pegou pelo ombro e disse: Vamos ali olhar um carro, me apresentou um modelo 2014 lindo, branco, completão, tem até comandos de som e computador de bordo no volante, Sem nenhuma burocracia nem demora, me convenceu em uma hora a sair da loja dirigindo meu Chicão. Aquele cheirinho de novo me fascinou e me fez esquecer à máxima acima citada. Pois como sempre digo: têm males que vem para o bem, o criador fecha a porta e escancara as janelas. Chicão chegou no dia de São Francisco de Assis, por isto o nome. Agradeço a São Chiquinho a falta de profissionalismo dos vendedores da outra concessionária e a astúcia de quem me fará feliz nos próximos anos. Maerson Meira 29/10/2013

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 29/10/2013
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