HUMANISMO RENASCENTISTA EM

O PRINCÍPE DE MAQUIAVEL

 

Estamos entre os séculos XIV e XVI. Mudanças profundas na região que hoje conhecemos como Europa, mais precisamente na Itália, que, então, era constituída por várias cidades estados. Estamos no final da Idade Média e no princípio da Era Moderna. Tempo dos descobrimentos e da navegação, Cisma na Igreja Católica – Lutero, Calvino, primeiros passos do “divórcio” entre religião e estado, a chegada do antropocentrismo como nova visão filosófica. O homem como centro das atenções.

Este era o contexto da época em que viveu Maquiavel e que, obviamente, iria influenciá-lo profundamente em seus pensamentos e análises.

O homem renascentista ou o homem universal encontra-se na pessoa educada e que se sobressai na sociedade através de uma variedade de conhecimentos. Diferente do mundo atual, onde prevalece a “especialização”, na época o virtuosismo estava na universalidade do conhecimento. Saber de tudo para ensinar e sobressair.

Esta ideia surgiu durante a renascença italiana, “onde um homem pode fazer todas as coisas que quiser”. É a semente do humanismo renascentista, que considerava o homem forte e ilimitado em suas capacidades, e levou à noção de que as pessoas deveriam abraçar todo o conhecimento e desenvolver suas capacidades ao máximo possível. Ainda, os renascentistas mais talentosos procuraram desenvolver suas habilidades em todas as áreas do conhecimento, no desenvolvimento físico, conquistas sociais e nas artes.

O movimento renascentista tem sua origem e ponto de referência na Itália de onde se expandiu para os demais países da Europa Ocidental e teve grande influência no desenvolvimento da humanidade.

O humanismo renascentista pode ser apontado como ponto central da era Renascentista. Baseia-se em diversos conceitos, tais como : neoplatonismo, antropocentrismo, hedonismo, racionalismo, otimismo e individualismo.

O humanismo, antes de ser um ponto filosófico, é um sistema de aprendizado que faz uso da “razão individual” e da evidência empírica (experienciada) para se chegar às conclusões ao mesmo tempo em que se consulta os textos originais, ao contrário da escolástica medieval, que se limitava ao debate das diferenças entre os autores e críticos. Com isso fortalece-se o antropocentrismo e o racionalismo no mundo de então, dá-se muito valor à ciência.

Reconhecemos a concepção filosófica do humanismo na obra O Príncipe, de Maquiavel, quando ele (Maquiavel) estabelece o princípio da autoridade, de sua aquisição e conservação, propondo a noção de poder legítimo : “o poder deve ser tomado pela força, criado pelo direito. Para guardar o seu trono, o príncipe deve criar barreiras, inspirar a estabilidade, eliminar seus inimigos potenciais e sacrificar aqueles que se tornam insubmissos. A razão do Estado é o único motor da ação política". A ideia de uma nação unida em forma republicana começa a se delinear na cabeça de Maquiavel. Esta é uma postura antropocêntrica, percebemos a separação total do mundo temporal do mundo espiritual.

OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS” :

Este é o pressuposto, o ponto de partida do livro O Príncipe de Maquiavel. Mas, primeiro, é preciso explicar sob quais condições ele escreveu isso. Maquiavel acabava de sair da prisão onde foi inclusive torturado, tinha sofrido um fracasso total como homem público e viu seus planos políticos ruírem, tinha se metido em duas guerras sendo que a última foi um desastre total. Depois de libertado da cadeia, foi “exilado” na propriedade de sua família onde surgiu a ideia de escrever esse livro. A pergunta é : em que condições psicológicas Maquiavel se encontrava para escrever o livro ? Por que escreveu esse livro ? Qual o objetivo ? Escreveu para ele mesmo ou para quem ? Mandou cópia do livro para os Médici, mas não se sabe se leram. Aliás, o seu livro só foi reconhecido após a sua morte. Quais as frustrações ele escondia naquele momento ?

O Príncipe nada mais é do que um “manual de política”, onde o autor tenta, através da sua redação, recuperar-se diante da aristocracia, para, quem sabe, voltar à vida pública. Sua obra é toda baseada na sua própria experiência de vida, talvez até uma “revisão” de postura diante dos seus fracassos e do que ocorreu para acabar preso e destituído. Mas a sua capacidade de olhar de “fora” e analisar o emaranhado governo do qual fez parte, era um ponto diferenciado.

Na Itália do Renascimento reinava grande confusão. A tirania imperava em pequenos principados, governados despoticamente por famílias sem tradição dinástica ou de direitos contestáveis. A ilegitimidade dos poderosos gerava situações de crise e instabilidade permanente, onde somente o cálculo político, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra “os inimigos” eram capazes de manter o “príncipe”. Subjugar e reduzir à impotência a oposição, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com outros principados constituíam o ponto vital da administração do príncipe. Como o poder se baseava exclusivamente em atos de força, era previsível que pela força eram deslocado, deste para aquele senhor. Nem a religião nem a tradição, nem a vontade popular legitimaram e ele tinha de contar exclusivamente com sua força criadora. A ausência de um Estado central e a extrema multiplicidade do poder criavam um vazio enorme, onde os mais fortes venciam.

Maquiavel teve como objetivo primordial em sua obra O Príncipe a tese de que um líder para ser bem sucedido precisava equilibrar “virtude e fortuna” para assegurar os seus interesses de poder. Contudo, para que esse equilíbrio fosse viável, ele sugeria que valores morais oriundos da fé e da sociedade fossem postos de lado para não prejudicar as ações do rei. Assim, Maquiavel criou a cisão entre a moral e a política, deixando claro a sua famosa frase : os fins justificam os meios”.

Maquiavel em sua obra mostra que o príncipe ficava à mercê de seus inimigos, aqueles interessados em tomar o seu reinado. Assim, era preciso agir com equilíbrio, não podia agir como tirano, mas tinha que deter os traidores sem deixar-se ser odiado, incitando revoltas contra ele mesmo.

Para Maquiavel o ponto chave era o planejamento e a estratégia de todas as ações do princípe para a preservação do estado. Sendo um homem marcado pelos valores renascentistas, ele não admitia justificativas religiosas para fundamentar o poder do princípe.

Ainda hoje, Maquiavel é mal interpretado e mal compreendido. Críticos consideram a sua obra de forma moralista. Isso não é justo, pois é preciso levar em consideração o contexto da época e entender onde ele queria chegar. Leituras fundamentalistas prejudicam muito analises e interpretações. Ele escreveu, na verdade, um manual de “como ser um político bem sucedido” para a época em que se encontrava (apesar de ser válido até os dias atuais). O desejo dele era ver um Itália poderosa e unificada.

Seu livro tem 26 capítulos, na primeira parte que vai do capítulo I ao XI (base deste trabalho) ele faz uma análise profunda dos diversos tipos de principados e meios de obtenção (expansão) e manutenção dos mesmos. Nesta parte, ele apresenta a importância dos exércitos, a dominação completa do território conquistado, a importância da presença do rei no novo território, a necessidade da eliminação do inimigo líder do país dominado, o consentimento da violência como meio de obter resultados e impor o medo.

A contribuição de Maquiavel para a história da humanidade é irrefutável. Sua obra em tela ensinou e ensina vários políticos e governantes, tanto para o bem quanto para o mal, mas isso nada tem a ver com o autor e sim com o caráter de cada um. Sua obra entra para a história de forma perene e sempre atual, pois não perde a vitalidade, jamais.

 

Leandro Cunha
out. 2013

 

 

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 28/10/2013
Reeditado em 28/10/2013
Código do texto: T4545913
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