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O JEITO É PASSAR FOGO”?
 
       A lesma pousou a mão asquerosa no ombro do preso, cutucou forte e sentenciou: “– Não entre em luta armada, companheiro, senão nós lhe passamos fogo”.
 
      De capuz, em uma dependência do DOI-CODI, em Fortaleza, o preso ilegal não pôde ver a cara do fantasma da repressão política, travestido de “juiz” e dono das inverdades da ditadura.
 
      Mas, após mais aquela semana de xadrez, o prisioneiro levou para casa esta verdade absoluta: a burra ditadura, de Castelo Branco ao grosso João Figueiredo, podia “passar fogo” nos seus opositores de ideologia.
 
      Isto se deu comigo, em 1977, dentro da Base Aérea, em uma Subexistência de domínio do Exército, então o coordenador dos macabros organismos paramilitares da repressão política, no País.
 
      Aquele era o terceiro confinamento, durante a burra ditadura de um generalato não menos burro e incompetente, posto que ventríloquos dos invasores ianques. Todos sabem que, aqui, mandava o Departamento de Estado norte-americano.
 
      A ver aqui, em imagens televisivas, lendo e ouvindo as peripécias do Primeiro Comando da Capital (PCC), que anda hoje a casar e a batizar, fazendo barba, cabelo e bigode, no Brasil, e já até lá fora, lembrei-me da mão nojenta e da voz asquerosa da lesma do DOI-CODI.
 
      Está estampado este fato em toda a imprensa nacional: o PCC, braço e cérebro do chamado “crime organizado”, sozinho ele, sem falar no Comando Vermelho e em outras facções menores, domina todos os presídios de “segurança máxima” (máxima é até risível!).
 
      Pois querem saber mais? A organização criminosa tem ramificações em 22 Estados das 27 unidades da federação*. Agora pasmem: possui mais de 11 mil integrantes, já com penetração no Paraguai e na Bolívia.
 
      Domina 90% dos presídios paulistas e é uma empresa poderosíssima: seu faturamento, em cerca de 80%, advém do tráfico de drogas, que eles gaiatamente chamam de “progresso”, além dos outros 20% das contribuições mensais e de vários meios ilícitos de arrecadação (assaltos, arrombamentos a bancos etc.).
 
      Muito armamento acumulado, mas muitas armas mesmo (ditas “ferraduras”), e tudo isto de elevada sofisticação. O arsenal, povinho pacóvio, vai de granadas, revólveres, pistolas, rifles, fuzis (AK-47, AR-15, M-16), metralhadoras, algumas antiaéreas, e bananas de dinamite.
 
      O curioso é que dizem ser o Exército que controla a comercialização da dinamite, atualmente usada em larga escala nos arrombamentos aos caixas eletrônicas. Cadê, não atua ou tem gente fechando os olhos?
 
      Outro arsenal é o dos bens de luxo da sigla criminosa: sítios, fazendas, mansões e apartamentos, carros importados e motos de alto preço. Uma farra de fortunas. Para ser curto e grosso, a tal organização fatura 120 milhões por ano, e, se fosse uma empresa pagante do Imposto de Renda, “estaria entre as 1.150 maiores do País”.
 
      Padres, freiras, donas de casa, operários, jornalistas, médicos, professores, inúmeros outros profissionais comeram o pão que o diabo amassou ao tempo dos “anos de chumbo”, com prisões ilegais, mortos e desaparecidos, aí também em cena aquele calhorda presidente plantonista o general João Batista Figueiredo – que disse publicamente preferir sentir o suor dos seus cavalos ao cheiro do povo.
 
      Em face do avanço sideral do crime, no Brasil, será que o jeito é “passar fogo”? Não desejo isto, mas a quartelada que infelicitou este país por 21 anos sequer promete “passar fogo” na arquimilionária facção do crime organizado.
 
      Se houvesse justiça para o crime comum, neste território pátrio, que os oito cardeais (Marcola, o cabeça), hoje engaiolados nas penitenciárias de Presidente Venceslau, Presidente Bernardes e Federal de Porto Velho, além de outros 6.000 membros também presos, mofassem na cadeia. E ainda seria pouco.
 
Fort., 20/10/2013.
 
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(*) Os dados numéricos aqui apontados eu os saquei da rev. ISTOÉ, Nº 2792, desta semana entrante.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 20/10/2013
Reeditado em 20/10/2013
Código do texto: T4534338
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