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PREPARATÓRIOS  E PROCESSOS DE SELEÇÃO PARA VAGAS EM EMPRESAS!


Como professora de inglês, um dia eu fiz um preparatório para CAE (Certificate in Advanced English), e graças a Deus, provei para todo mundo o que todo mundo já sabia: que eu sei falar inglês. Bem, para quem pretende dar aulas de inglês, é bom ter um diploma de Cambridge, pois ele nos destaca e abre portas.

Mas por que forçar um aluno a submeter-se a horas de preparatórios, se o seu objetivo não for o de lecionar inglês? 

Meus alunos sempre me dizem que, durante as seleções para vagas de emprego nas grandes companhias, muito raramente  pedem-lhes um diploma de língua inglesa; entretanto, os submetem a testes escritos, ou testes de gramática online (que também não provam nada, visto que qualquer pessoa poderá fazê-los no lugar do candidato à vaga) e entrevistas em inglês. Os testes online são geralmente cronometrados, e o aluno tem apenas alguns minutos para ler uma questão bem comprida e escolher a alternativa correta. Acho isso injusto! 

Eu sempre me pergunto: por que os cursos de inglês incutem nos alunos a ideia de ingressarem em um preparatório, que é caro e demorado, podendo chegar à duração de seis meses ou mais, cuja prova pode custar €150,00 (algo em torno de R440,00)? Isto, sem falar na quantidade de tarefas que eles terão para fazer em casa, e que levarão várias horas para serem cumpridas. Um diploma de Cambridge não vai ajudar ninguém a conseguir um emprego.

O que realmente deveria importar, não é se o candidato à vaga de emprego consegue ler rapidamente para conseguir fazer uma prova cronometrada. Qualquer um que saiba Inglês e que converse durante dez minutos nesta língua com um candidato a emprego, saberá se ele domina ou não a língua, e na dúvida, basta pedir-lhe que escreva uma redação de vinte linhas sobre qualquer coisa. No dia a dia de uma companhia, durante conference calls e  trocas de emails com estrangeiros, ninguém vai pedir a ele que faça um teste de gramática. E alguns testes de gramática aplicados em seleções de empregos são tão difíceis, que até mesmo um nativo da língua inglesa seria reprovado!

Na verdade, os preparatórios são uma indústria. Eles não se dirigem ao ensino da língua, visto que para ingressar em um, o aluno precisa ter domínio  do inglês correspondente ao nível de exame que ele pretende prestar. Os testes apenas os preparam para o formato dos exercícios das provas, ajudando-os a entender o que os examinadores esperam deles em cada etapa. Para quem deseja aprender mais, aconselho que procurem um curso que ofereça um pré-preparatório. Este sim, poderá ser bastante útil para quem deseja aprimorar seus conhecimentos.

Quanto aos processos de seleção para vagas em empresas, meus alunos às vezes me contam histórias risíveis, como o do entrevistador que pergunta: "Se você fosse um animal, qual animal seria, e por que?" Bem, eu responderia: "Seria um asno; assim eu teria a chance de arranjar uma colocação como entrevistador para vagas de empregos nesta companhia." Alguns processos de seleção são absolutamente ridículos.

Ouvi sobre o caso de uma psicóloga que reprovou uma candidata porque ela tinha o cabelo preso em um rabo-de-cavalo. Após analisar a candidata, baseada no rabo-de-cavalo da mesma, concluiu que tal penteado denotava desleixo. Também ouvi de uma ex-aluna que trabalhou no departamento pessoal de uma grande empresa a história da entrevistadora que colocava os currículos das mulheres bonitas no final da pilha de seleção. Achava que mulheres bonitas poderiam causar 'tumultos' na companhia.

Ao ler sobre dicas para entrevistas de emprego, cheguei a uma parte em que diziam que o entrevistado deve preocupar-se em usar um relógio de marca bem caro, pois isto denota preocupação com a pontualidade; ora, se ele pode pagar por um relógio caro de marca, para mim isto demonstra que ele não precisa do emprego.

Certa vez, cheguei a uma lista de 'illegal questions', ou seja, perguntas consideradas ilegais que rolam em algumas entrevistas de emprego; algumas delas: "Você se submeteria a um teste anti-dopping?"  "Você pretende casar-se e ter filhos?" (esta dirigida a mulheres solteiras), e algo ainda mais absurdo, como "Qual a sua opção sexual?" Espero que hoje em dia não se façam mais perguntas como estas!

Em algumas empresas, um candidato é detonado simplesmente porque não usa um relógio de marca, demonstra nervosismo durante a entrevista, não está calçando os "sapatos certos" que passem uma imagem de alguém preocupado com a aparência, ou simplesmente, usam rabos-de-cavalo. Bem, se eu fosse reprovada em uma empresa assim, ficaria feliz.

É tanta coisa desnecessária, preconceituosa, humilhante e pejorativa que acontece nessas seleções para vagas de emprego, que eu fico pensando: chegamos finalmente à época em que robôs (de carne e osso) substituiram os humanos.


 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 17/10/2013
Reeditado em 17/10/2013
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