Liberais e democratas

Eu assisti alguns atos do XX Fórum da Liberdade, que ocorreu em Porto Alegre, na noite de 16 de abril no salão de atos da PUC, não que me excitem os pruridos liberais dos organizadores, mas para rir um pouco da desfaçatez com que eles tratam idéias tão sagradas como liberdade e democracia.

O convescote, com cheiro de conspiração, mesmo que não haja declarado, foi um piquenique dos neoliberais perfilados à ideologia do PFL, que agora de auto-intitula de “Democratas”. O rebu teve momentos hilários, se não fosse patético, beirando o ridículo, com alguns palestrantes conduzindo suas falas, na tentativa de vender seu peixe, há muitas décadas deteriorado.

O ato de abertura foi risível. O presidente do Instituto de Estudos empresariais fez uma apologia à propriedade privada, como se esta fosse de um valor absoluto. Ora, o que pode ser penhorado, confiscado ou ter seus títulos de posse anulados, jamais pode ser visto como algo absoluto. Absoluta é a verdade, a solidariedade, a sobrevivência.

Como não podia deixar de ser, o conferencista atacou o MST, afirmando de forma radical que a sigla quer dizer “miséria, sangue e terror”. Revelando uma cegueira social, o jovem tribuno parecia não enxergar no movimento dos “sem terra” uma tentativa de obter espaços num país com terras ociosas ou sub-utilizadas como, por exemplo, no plantio de oleaginosas exportáveis, que jamais serão alimento para o povo.

No segundo round tivemos uma sessão pastelão, onde o Vice-Governador Paulo Feijó espinafrou o Governo, revelando um racha perigoso e deletério. Depois, falou a Senhora Yeda Crusius, como que a prestar contas de hipóteses que ainda não chegaram a ser colocadas em prática. É interessante como alguns empresários de corte liberal criticam a ingerência do Estado (a quem eles chamam de “Estado-empresário”) na economia nacional. Seu objetivo é acabar com os direitos dos que trabalham.

Além disto, o empresário brasileiro, que quer um “Estado mínimo”, modelo que não deu certo em outros países, é incapaz de prosperar sem incentivos oficiais. Ele não subsiste sem as muletas do Estado. O que se viu, pela boca dos que usaram o microfone, foi uma enchente de teorias, onde a maioria filosofou de forma idealista, como deveria ser o Estado e a vida social no país.

Igualmente falaram muito em ética e liberdade, tentando provar que “os liberais vivem”. Só esqueceram de revelar, os jovens engravatados, onde estavam escondidos quando a ditadura matou e torturou, e deixaram de reconhecer que existe violência e miséria por causa da má distribuição da renda e da terra.

Filósofo e escritor.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 17/04/2007
Código do texto: T452868