Nzinga Mbande Ngola, a rainha Ginga (1582-1663)
Eu, como outros ingênuos, tenho a preocupação ou a candidez de, em vendo uma palavra escrita de duas ou mais formas, imaginar que só uma destas formas é permitida. Assim é, muitas vezes, não sempre. Admito. Digo, admito.
O nome da nossa rainha varia vezes sem conta: Njinga, Jinga, Nzinga e Zinga (Mbandi).
O nome em causa não parece ter nunca uma forma estável.
As formas Njinga, Jinga, Nzinga e Zinga, as quais atrás referi, são todas permitidas?
Jinga é forma erudita, legítima, usadíssima: Njinga é menos usada “modernamente”, mas é lídima forma nacional, usada pelos antigos, e NÃO preferida pelos modernos que se não finem de amores por inutilidades gráficas.
Zinga e Nzinga estão no mesmo caso. Nzinga e Njinga não têm direito a “n”, como Cavungo. Ora, se o Zinga da rainha, e a Jinga que alguns linguistas consideram como sendo a correcta, não se escrevem sem o “n”, (no quimbundo Njinga), porque não usam tal letra no Jinga? Mistério!
Discrodo da linguista Amélia Migas, que disse: «O português, porque não tinha "Mb" registou "Banza". Mas o termo não é português! Quando alguém não conhece uma língua "bantu" como ... "Banza" não vai poder pensar que é "Mbanza" e aí a comunicação terá problemas.»
Em Jinga e Zinga, etc., está perfeitamente o “j” e “z”, porque se pronunciam; mas em Njinga, Nzinga, etc., que vem cá fazer o “n”? Se ao menos se fundasse uma tradição! Mas nem isso, porque os meus avós escreveram sempre Njinga, Nzinga… Funda-se apenas no ridículo alarde de uma falsa erudição: «O menino escreve N-g-i-n-g-a, porque vem do quimbundo…»
Donde vêm estes pedagogos é que ninguém sabe.
E, mesmo nestes casos, tem havido que aconselhe e pratique Jinga…, por obediência à regra e facilitação de leitura.
E a prova de que, adoptando-se esta regra, ela não seria disparatada, está em muitos casos …, em que se omite o “n” sem razão etimológica, e só para indicar a pronúncia. Quer exemplos? De Ncavungo não se fez Ancavungo, fez-se Cavungo; de Ncambundi, Cambundi; de Ndalatando, Dalatando, etc. E, contudo, nem Cavungo, nem Cambundi, nem Dalatando, têm mais de uma forma.
É verdade que isto pode ter uma resposta que os linguistas não podem dar, porque desconhecem como foi registada o nome em causa; mas prova a influência da regra no aportuguesamento geral. E, a tal ponto ela domina, que até a homens letrados tenho ouvido unicamente “injinga”.
Entre os meus amáveis consulentes e correspondentes, há um extraordinário caturra, que teve a paciência o e vagar de me enviar sucessivamente “setenta e sete vezes”, a seguinte pergunta: __«Njinga, Jinga, Nzinga ou Zinga Mbandi?»__
Tem-se apenas o inconveniente de que Zinga não é usada; e como Njinga não é erro, e é usado, vamos com o uso. É o caso de zimbo e do Zambi.
Mas vá sabendo de Agostinho Neto preferiria mzimbo. O pior é que nós todos dizemos zimbo; e como não é erro…
O “n”, ali, não tem razão fonética nem racional e por isso escrevo quase sempre Jinga.
“Quase sempre”, porque, em certos documentos e periódicos que não são meus, deixo-me às vezes ir com a onda, se a onda não leva muito enxurro.
As letras, em português, não são sinais decorativos: representam sons. Portanto, não há razão fonética nem racional para as grafias Njinga e Nzinga, porque o “n” não fere na pronúncia.
Eu privilegio, de certo modo, o critério fonético, em desfavor do critério etimológico. Tal como sucede com a supressão, do lado lusoafricano, das chamadas CONSOANTES MUDAS em palavras como “ato” (e não “acto”), etc.
Eu prefiroJinga, não só porque isso me impõe as tradições da língua, mas também porque essas tradições estão de acordo com a fonética, e esta é base capital da nossa língua.
Reagindo sempre contra tudo o que se me figure abusão, vou escrevendo Jinga, sem “n”; mas nem por isso ouso capitular de erro a outra forma «Nzinga», visto que ela, hoje, é subscrita pela maior parte de gente que escreve, e até sem reclamação dos linguistas.
Ora, se um linguista fornece resposta, dá-se-lhe crédito. Mas crédito, hoje, é algo muito escasso na praça…
Embora seja desconhecida como foi registada a palavra, o uso corrente dos escritores e a pronúncia beiroa, ___que é bom argumento em casos análogos, ___autorizam a grafia Njinga.