Fábricas de sonhos
As pessoas do nosso tempo, em geral, foram levadas a depositar suas esperanças naquilo que se convencionou chamar de “modernidade”. Esse estágio socioeconômico, que por sinal chegou e passou de forma indefinida, não resolveu os problemas da humanidade, como fome, saúde precária, educação, paz e preservação da natureza.
Pelo contrário, aumentou-os e ajudou a confundir os pensamentos e as idéias de muita gente. Inclusive os “intelectuais”. Na seqüência, a “pós-modernidade”, que se esperava portadora de soluções mais eficazes, trouxe um vazio, ou – no diagnóstico de Sartre – uma náusea.
Por conta disto, desde as últimas décadas do século XX, vários segmentos dos Meios de Comunicação têm tentado, através da indução às panacéias modernas, despertar na humanidade alguns sonhos, como o erotismo, o consumismo, o individualismo e a falsa segurança, quem sabe para combater as doenças modernas, como a depressão, a ansiedade e o desespero, males criados a partir do subconsciente em conflito.
Para combater a insegurança física, apelaram para o militarismo, poder de polícia, repressão, casas gradeadas e todas as formas de proteção. A segurança psíquica, em muitos casos, se baseia na auto-ajuda, nos Prozac da vida e nas terapias de apoio e atividades correlatas.
Deste modo, como atitude de defesa, a sociedade humana tem criado fábricas de sonhos, como loterias que prometem enriquecimento do dia para a noite, alienações como os Big Brother e coisas parecidas, além das fábulas, como as novelas da tevê, o idealismo oco, as competições esportivas, a ficção dos romances pseudo-históricos, o engodo das terapias de “vidas passadas”, os sistemas religiosos de mínima consistência, e tantas teorias de evasão que se encontra por aí.
O fracasso de tantos projetos revela a incapacidade do homem que não fundamenta em Deus os seus planos. O homem moderno vive uma angústia de quem busca algo para acreditar, para se agarrar, como um náufrago que procura uma bóia. Incapaz de se organizar, o ser humano pós-moderno se joga ao prazer pelo prazer, às promessas de felicidade duvidosa, às paixões e à busca da riqueza fácil.
Dessa busca desordenada, insuflada pelas fábricas de sonhos, surge a corrupção, o desejo de resolver tudo pelo modo mais fácil, que muitas vezes passa pela violência, pelos arranhões à ética e pela ruptura de tantos paradigmas sociais. Quando não faz isto, se refugia sob uma intelectualidade estéril ou uma espiritualidade escapista, em geral alienante. Não conseguindo os objetivos traçados pelas ilusões, a pessoa cai na revolta, na indiferença, na angústia existencial.
Essa distorção assusta, na medida em que se observa pessoas cada vez mais jovens mergulhando nesse torvelinho de irrealizações. Assim como o otimismo contagia, o baixo-astral corrompe e destrói.
Aprofundando essa reflexão, quem tem fé é capaz de descobrir que só Deus é capaz de infundir a verdadeira esperança, suscitar sonhos que se realizam, e dão um concreto sentido à vida humana.