Por que amamos a vida?
Por que amamos a vida?
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Muitos seres proclamam com frequência seu amor à vida, exaltando seu apego a ela nos momentos em que pressentem achar-se próximos ao final de seus dias. Porém, vejamos: sabem esses seres por que e para que amam a vida? São conscientes desse amor? São fiéis a ele? Como é esse amor: sincero, verdadeiro ou falso? Eis aí uma oportuna e conveniente reflexão prévia que fará compreender melhor o alcance deste ensinamento.
O fato de ninguém pensar nisso não impede que possamos fazê-lo nós, dando lugar, assim, a que possam pensar mais atinadamente os que ainda não o fizeram. Se, perante cada ser que valorize em algo o conceito da vida, nós nos apresentássemos com esta tríplice interrogação: “Para que você quer a vida: para reiterar o uso que fez dela, como no passado?; para reiterar o que está fazendo?; para o que fará?”, não se deterá, por acaso, para refletir com sensatez sobre o problema? Mais de um, ante sua própria consciência, não exclamará: “Que tenho feito de minha vida! Um acúmulo de misérias, cuja recordação, como as cascas de ovo, nada contém”? Que perspectivas se abrirão depois a seu futuro? Outras, talvez, que não sejam as de repetir o que foi feito no passado? Eis aí a questão.
As vidas dos que pensam, dos que se esforçam e se sacrificam pelo bem geral nos dão com eloquência a resposta
Para aqueles que carecem de um sadio conceito da vida, pouco importam as reflexões anteriores. “Queremos a vida para nos divertir”, dirão a si mesmos; “para gozar dos prazeres, da embriaguez ou da opulência, se até aí chegarmos. O resto não importa, não interessa.” Diante de semelhante quadro psicológico, comum a tantos seres, que fala com muita eloquência sobre o estado espiritual de uma grande parte da humanidade, não caberia perguntar se a criatura humana foi criada para empregar sua vida assim, dessa forma? Sua existência não encerrará uma finalidade superior? Não terá sido feita para que reproduza em si mesma os traços superiores de sua espécie, que a farão semelhante a seu próprio Criador? É possível admitir que a vida de um homem deva permanecer tão desprovida de valores? Não terá que conter elementos mais ponderáveis que seus meros apetites materiais?
As vidas dos que pensam, dos que se esforçam e se sacrificam pelo bem geral nos dão com eloquência a resposta. Por conseguinte, devemos pensar que aqueles, cedo ou tarde, compreenderão seu erro e se emendarão. Enquanto isso, o caminho se encontra aberto aos que desejam fazer de suas vidas um paraíso de felicidade.
Trechos extraídos do livro Diálogos, p. 202