AUTO-SABOTAGEM
AUTO-SABOTAGEM
J.J.Fontes
Permitam-me recordar apenas um dos versos do grande sucesso do cantor, compositor e escritor Chico Buarque: “Tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu, a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá...” Pois bem: não foram raras as vezes que o destino carregou “pra lá” nossos projetos, nossos desejos, nossa felicidade. Com as devidas desculpas ao poeta, devo argumentar que é muito fácil atribuir nossos fracassos ao destino. O difícil, mesmo, é assumirmos a responsabilidade pelas nossas próprias falhas. A verdade é que todos nós possuímos dentro de nós muito mais medos e receios do que podemos imaginar. Desejamos a felicidade. No entanto, de forma inconsciente podemos vir a criar mecanismos de sabotagem para interceptar o nosso caminho em direção ao sucesso. Dificilmente percebemos que nos auto-sabotamos. Por que isto ocorre? Na maioria das vezes, é muito difícil entender que as dificuldades que encontramos no caminho estão saindo exatamente da mesma fonte, ou seja, da nossa cabeça, da nossa maneira de pensar e agir. Somos grandes mentirosos para nós mesmos. É nesse ponto que entra o autoconhecimento. Precisamos conhecer nossos pontos fortes, o que nos dá coragem, inclusive, para identificar e controlar os nossos pontos fracos. Temos de ser sinceros e compassivos com nós mesmos. A auto-sabotagem tem muitas origens e também muitas formas de se manifestar. Nós nos auto-sabotamos quando saímos do nosso propósito de vida. Somente pelo processo de autoconhecimento, bem como o conhecimento real dos nossos objetivos, anseios e metas, aonde queremos chegar e quais os caminhos e métodos que iremos escolher para alcançá-los, é que podemos entender se estamos ou não nos sabotando. Sentimentos ocultos de culpa, desmerecimento, ou sugestões hipnóticas relativas à própria incapacidade podem explicar porque estamos sendo inimigos dos nossos próprios sonhos e desejos. Na maioria das vezes, entretanto, o simples medo da mudança pode ser maior do que a força para mudar.
Para encerrar este tema, transcrevo um trecho de uma das obras de Jorge Luis Borges: “No primeiro volume de Parerga und Paralipomena reli que todos os fatos que podem ocorrer a um homem, desde o instante de seu nascimento até o de sua morte, foram prefixados por ele. Assim, toda negligência é deliberada, todo encontro casual um encontro marcado, toda humilhação uma penitência, todo fracasso uma misteriosa vitória, toda morte um suicídio. Não há consolo mais hábil que o pensamento segundo o qual escolhemos nossas infelicidades; essa teleologia individual nos revela uma ordem secreta e prodigiosamente nos confunde com a divindade.” (O Aleph - Cia. Das Letras-p.76)
jjfontes@hotmail.com