Eu odeio a normalidade
Eu odeio o normal, o trivial, o concreto, o previsível...
Eu gosto mesmo é de ver cadeirante jogando basquete, cego compondo música e pobre feliz.
Este papinho de estudar e estudar, trabalhar e trabalhar, consumir e consumir e depois reclamar, reclamar e reclamar me dá ânsia.
Eu gosto de ver foto de churrasco na laje, de sentir o sorriso sem saber o sobre nome e de respirar verdade em poemas ditados por analfabetos.
Eu gosto de conversar com ex puta, ex viciado, ex traficante... os atuais políticos, líderes religiosos e policiais cheiram hipocrisia.
Eu quero ver um paciente de Síndrome de Down presidente deste país, um autista pintando quadros em praça pública e hospitais cheio de palhaços.
Eu quero ver a humildade nas mastros de bandeiras e a covardia humana enterrada embaixo da árvore da casa do vizinho fofoqueiro.
Eu quero ver passeatas para clamar amor urgente, justiça aos inteligentes e cadeia para os inteligentes que se camuflam de burros em prol do enriquecimento ilegal.
Eu quero todo mundo pelado quando a procissão passar, todo mundo abraçado quando a guerra chegar e todo mundo unido quando qualquer líder político quiser zombar da nossa cara.
Eu odeio a normalidade.
Eu odeio ser vítima de uma sociedade que presa a ordem encima da infelicidade e condena rebeldes que querem um mundo com paz e menos hierarquia.
Eu quero a felicidade una de uma forma mais leve...eu odeio pessoas pesadas, sérias e dogmáticas.
Eu quero a liberdade da minha espécie antes que o homem sapiens vire pó ...antes que as lágrimas da maioria encham as piscinas da casa de uma minoria.
Glauco Viana.