Investigar sim, julgar não!
Li um artigo interessante sobre o jornalismo investigativo, onde a articulista reclamava sobre diariamente o jornalista ter que enfrentar numerosos obstáculos para obter informações. Se assim não fosse, creio que não teria muito sentido a nossa profissão, ainda mais quando se aplica o adjetivo de “investigativo”. É obvio que as portas estão sempre fechadas para aquele que deseja especular em cima de algo, principalmente quando há a suspeita que iremos tripudiar.
Noto que há uma exagerada preocupação, por parte de alguns novatos e, principalmente, estudantes, quanto a levar um tiro na barriga ou ter o destino de Tim Lopes. Há o perigo e isso não podemos negar, mas aquele que tem medo, que fica imaginando fuga, certamente nunca será um jornalista de vanguarda, um bom jornalista investigativo. Em tempo, é bom lembrar que jornalismo investigativo não é apenas contra o tráfico ou contra as contas públicas. Investigar faz parte de todas as editorias.
Ao pé da letra, investigar é seguir os vestígios, indagar, inquirir, pesquisar. E uma notícia que não preencha o mínimo desta condição nada acrescenta, pois será um boletim informativo, característica de uma redação onde só se diz oficial, a versão do rei! O leitor tem o direito de estar informado corretamente.
Mas, ao ser criada a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, ABRAJI a idéia vai mais além. Acredito que devemos ser um grande sistema de informações para a imprensa, cooperado, embora a lista que temos na Internet não nos convence disto. Uma ferramenta para a pauta investigativa em escala maior a de nossa rotina de redação deverá acontecer e superar todos os nossos bancos de dados individuais. Alguns colegas já se esforçam nisto.
Quando digo “a lista que temos na Internet”, é porque me inscrevi nela e a cada dia recebo dúzias de e-mails, aos quais leio todos, mas raros eu respondo (ainda estou na fase investigativa. Dêem um sorriso, por favor), e quando o faço, procuro estar colaborando com um colega, feminino ou masculino! A grande maioria das mensagens que chegam a minha caixa postal da Internet.
A lista de jornalismo que deveríamos usar para trocar informações investigativas é mais usada para pedir ajuda para encontrar endereços de e-mail, telefone, ou outro contato, quando isso o interessado deveria buscar no Google ou outra ferramenta de busca, e ainda facilmente através da lista telefônica eletrônica.
Vamos fundo, vamos investigar, trocar informações e lutar para um país mais transparente. Para que as contas públicas assinadas por políticos de qualquer legenda, tragam o timbre da seriedade, e que estejam abertas não para jornalistas, mas para todos os cidadãos. Isso sem dúvida valerá manchete de primeira página. Mas que nossos passos não sejam tão largos a ponto de pular pequenos obstáculos, e tão pequenos a ponto de não alcançar a outra margem e cair no precipício.
Entre outros temores, naturais de um jornalista que mora no Sertão, como eu estou, está a preocupação de que alguns colegas, envolvidos pela idéia de constarem de uma lista de jornalistas investigativos, passem a agir como policiais, juizes ou justiceiros! Investigar sim, arbitrar penas ou determinar julgamentos não é o nosso papel. Sempre é bom lembrar a assertiva de um falecido amigo, que dizia: “jornalista é cordialmente detestado”, portando um pé atrás com aqueles que se mostram muito colaboradores.
Investigar sim, determinar penas ou punições cabe a Justiça, que por sua vez pode se valer de nossa colaboração, apenas!
********************************************
(*) Seu Pedro é Pedro Diedrichs, 59 anos é jornalista editor do jornal Vanguarda de Guanambi – Bahia, - seupedro@micks.com.br