A REALIDADE E A FICÇÃO

As notícias da nave Voyager 1, e a estreia do filme Elysium, são belos exemplos que mostram o abismo entre a realidade e a ficção. Podemos ser inocentes e dizer que a Voyager é coisa do século passado, e que Elysium acontece no século XXII.

Essa inocência termina quando a realidade bate à porta. A pergunta é simples. Será que com nossas tecnologias e conflitos atuais, poderemos testemunhar o nascimento de um Elysium no próximo século? Com naves espaciais pousando em ruas e jardins, eu diria que não. Se depender apenas da hipocrisia humana, eu não duvido.

Mesmo que a discussão central de Elysium não esteja focada na tecnologia, cidades inteiras orbitando o planeta numa estação espacial daqui a cento e quarenta anos são impensáveis. Desde que a História espacial começou, molhamos apenas os dedos dos pés nesse mar. Para que um Elysium aconteça, teríamos de deixar a água chegar aos joelhos. Talvez, bem mais que dois séculos.

Com velocidade de 62.136 km/h, depois de trinta e seis anos, a nave Voyager 1 saiu do nosso sistema solar. Leva rumo às estrelas desenhos e figuras da nossa espécie. Indicação de onde somos. E mensagens de uma Humanidade unida e feliz.

Basta lembrar os grandes conflitos e genocídios que promovemos e cometemos nesse quase meio século depois do seu lançamento, para descobrir o quanto de mentiras a Voyager está levando sobre nós nessa viagem sem destino.

É um pouco dessas mentiras, que Elysium escancara diante dos nossos olhos. Quando a Voyager partiu não existia internet. Agora é possível assistir Elysium online sem a necessidade de se fazer download. Como não sou o Tio Patinhas, eu daria minha última moedinha, para saber a que distância estaremos de Elysium no século XXII.

Num planeta devastado e esgotado de recursos naturais, em 2154 a “elite humana” mudou-se para uma estação espacial. Elysium é um novo Jardim do Éden. Querendo ser malvado, em menor escala, a Brasília dos brasileiros. Ali, todas as doenças são curadas por máquinas assustadoramente simples.

Reparem na expressão facial de Jodie Foster quando a atriz estiver em cena. Foster consegue destilar todo o imperialismo da nossa raça. Capaz de tudo para continuar no poder. Se você não for parte da elite, pode ser usado quando for conveniente. E descartado a qualquer momento como um parasita. Outra simplicidade assustadora.

A nave Voyager indo “onde nenhum homem jamais esteve” leva um pouco das nossas mentiras. Elysium mostra nossa sedução pelo poder e hipocrisia. A nossa capacidade de cometer maldades na defesa dos nossos princípios. Quase enxergamos o sonho de Hitler em Elysium. Espero que não sejamos os primeiros mentirosos e hipócritas do Universo.