Magister sum

De repente apareceu por aí a notícia que a minha Igreja pretende fazer voltar o latim nas celebrações das missas, tal qual ocorria antes do Concílio Vaticano II (1962-1965). Depois vieram os esclarecimentos a respeito do uso litúrgico do latim em algumas solenidades internacionais, onde se faz necessário uma língua comum.

Assim como o inglês é a língua do comércio, o francês, da diplomacia, e o grego enfeixa os termos da teologia, o latim conduz, por excelência, a liturgia. Na infância cantávamos o “Tantum ergo Sacramentum, veneremur cernui...”. Mesmo assim, tal emprego daquela que é considerada uma “língua morta” reacende o debate, pois hoje ninguém mais sabe latim.

A essência do seu uso na Missa ocorre em um diálogo entre o celebrante e o povo (antes representado pelos coroinhas). E hoje? Quem sabe latim para responder ao padre nos momentos adequados?

Eu estudei latim, na década de 50, no Colégio das Dores e no Júlio de Castilhos (ambos em Porto Alegre). O estudo da língua de Cícero me acompanhou durante cinco anos. Minha geração proclamava: “conjuga e declina e saberás a língua latina, como dizia o Fassina” (um antigo professor do “Julinho”). Que saudades do Ludus, do Padre Valente, da Gramática do Ragon e das “Traduções de Clássicos” do Lodero!

Hoje eu vejo com bons olhos essa novidade. Uma vez que dou cursos de Teologia, Ética e até Marketing aos padres, já me vejo ministrando aulas de latim a sacerdotes, religiosos e coroinhas”.

Dedicado ao estudo dessa língua, fui considerado “latinista”, e por esta razão dava aulas particulares aos colegas menos atentos às armadilhas do currículo. Por esta razão eu era chamado, por mestres e colegas de magister (professor). Até hoje, quem é bam-bam-bam em análise sintática, e sabe português de fato, apoiado por um bom vocabulário, foi bom aluno de latim. Sem dúvidas!

Assim como formei algumas turmas de grego, pretendo fazê-lo com o latim, afinal, “Aesopus et alii auctorem polivi versibus senaris per dicendi ad populum”. Um dos tantos crimes perpetrados por essas desastradas “reformas do ensino”, deflagradas de tempos em tempos, foi a exclusão do latim, da filosofia e da sociologia.

Em lugar dessas matérias instrumentais e culturais, a ditadura incluiu matérias ideológicas, ufanistas e proselitistas, como “Estudos de Problemas Brasileiros” e “OSPB”. Se a Igreja vai resgatar, em parte o uso do latim, a educação pretende trazer de volta a filosofia, a sociologia e a psicologia para o segundo grau.

Bem já é hora de treinar. Se alguém lhe disser “Introibo ad altare Dei”, responda, rapidamente “Ad Deum qui laetificat iuventutem meam”. É por aí...

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 14/04/2007
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