Decfciência: credulidade - antideficiência: saber
Deficiência: Credulidade
Antideficiência: Saber
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Torna-se evidente esta deficiência na pessoa que dá crédito fácil a tudo quanto ouve, sem prevenir-se contra o erro ou a falsidade, e sem avaliar as consequências de aceitar tudo sem prévia participação do entendimento.
Obedece à falta de experiência no trato com as pessoas, como também ao pouco proveito extraído dessa experiência como moderadora dos excessos de confiança no próximo. É natural que seja comum nas pessoas simples e ingênuas, que tudo aceitam de boa-fé.
Seja qual for a causa que determina a credulidade, ela sempre acusa na pessoa a entrega submissa da mente à sugestão alheia.
Ocorre às vezes que uma pessoa assim, depois de cair nas múltiplas ciladas armadas para sua candidez, reage de tal maneira contra ela que abraça decididamente o extremo oposto, convertendo-se de pronto no mais desconfiado dos seres, tanto que até perde as melhores oportunidades, justamente por recear quando menos deveria fazê-lo. Tudo isso é fruto da inconsciência, já que tal coisa não acontece a uma consciência ativa, que sabe mobilizar a tempo os elementos de juízo requeridos pela razão quando vai ser comprometido, em sua totalidade ou em parte, o patrimônio físico, moral ou espiritual do ser.
Desarraigar a credulidade por meio do saber é afastar para sempre um mal
que os seres humanos têm padecido há séculos
Mediante a assimilação de conhecimentos logosóficos, a mente humana estabelece defesas que a imunizam contra os inconvenientes desta deficiência. Tão logo a inteligência começa a enriquecer psicológica e espiritualmente a vida individual, aumentam os acertos e diminuem os erros. Nasce e afirma-se dentro do ser a confiança em si mesmo, e já não se cai na credulidade, porque se consulta invariavelmente o próprio juízo antes de aceitar o alheio; já não há perigo de cair na renúncia do próprio pensar, cedendo tão legítimo direito – como tantas vezes já ocorreu às vítimas desta deficiência – aos falcões da dialética social, política ou religiosa, os quais, deslumbrando as mentes com os voos da imaginação, agarram suas presas, já previamente escolhidas.
A credulidade põe em perigo a independência do ser. Eis aí a razão fundamental que nos assiste ao sustentar que o homem não deve crer, mas sim saber, pois somente a posse do conhecimento garante a liberdade própria e protege a vida contra toda intromissão estranha.
O saber é muito difícil de realizar. Exige empenho, sacrifício, estudo e experiência, mas a compensação que oferece é tão grande que, podendo avaliá-la, ninguém deixará de tentar sua posse.
Certamente, não é necessário chegar à sabedoria para eliminar a credulidade. Nada disso; bastará munir-se dos elementos que a Logosofia oferece para que o ser fortifique sua vulnerável psicologia e contraponha suas defesas mentais à sedutora voz do engano.
Desarraigar a credulidade por meio do saber é afastar para sempre um mal que os seres humanos têm padecido há séculos, por falta de uma sadia e construtiva orientação espiritual.
Trechos extraídos do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, pp. 140 a 142