Deficiência: indiscrição Antideficiência: discrição

Deficiência: Indiscrição

Antideficiência: Discrição

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

É característico desta deficiência impelir a pessoa a falar e a agir irrefletidamente, sem acerto nem responsabilidade. Assim como a induz a divulgar prematuramente uma ideia, um propósito ou projeto, debilitando com isso a inteireza de suas forças psíquicas e morais, cuja soma constitui a reserva dinâmica das energias que robustecem a vontade, torna-a imprudente na emissão de um juízo, inoportuna, falante em excesso algumas vezes e, outras, desconsiderada e desleal para consigo mesma e para com o semelhante.

Tanto no homem como na mulher esta deficiência pode ter igual enraizamento, mas é ela, em particular, quem inflige a si mesma os maiores agravos quando não sabe se esquivar de suas instâncias. Esta deficiência causa dano quando se manifesta em detrimento da delicadeza, que é própria da natureza feminina, e que toma sua expressão no pudor. A entrega que faz a outros – seja por vaidade, por despeito, por inadvertência ou ingenuidade – de vivências de estrita ordem pessoal a vai desmerecendo, e, embora depois se arrependa disso, se vê obrigada a reconhecer que afetou um bem que devia conservar intacto. Cometida a indiscrição, as intimidades perambulam de boca em boca, disputadas pela curiosidade do ambiente. Não excluímos a delicadeza que o homem deve conservar, a qual em muito se consubstancia com sua própria honra.

A indiscrição afeta não só o foro íntimo do próprio ser, mas também o dos demais; empreendimentos e homens se malogram por culpa desta deficiência, de cuja nefasta in-fluência não têm escapado sequer as relações entre governos e povos.

Logosoficamente, significa "viver fora de si mesmo", ou seja, exteriorizar de forma inveterada o que pertence ao âmbito privado.

O discreto sabe medir suas palavras e atos,

e se expande ou se contém segundo o que seu juízo e prudência lhe aconselham

A indiscrição tem quase sempre origem em descuidos da educação, na carência de noções acerca do verdadeiro comportamento interno. A ignorância daquilo que cada um tem o dever de preservar do olhar e do ouvido alheios dá lugar à indiscrição, que afeta a vida íntima, patrimônio exclusivo e sagrado do indivíduo. Sua persistência no ser obedece à falta de consciência a respeito dessa vida íntima, desse patrimônio vedado pelas leis naturais à intromissão estranha.

Para alcançar essa consciência que falta, deve-se começar por conhecê-la mediante um rigoroso processo de ativação de seu funcionamento mental e psicológico. Isso habilita o ser para determinar as fronteiras que separam a vida interna da externa.

Deve-se renovar continuamente o propósito de eliminá-la, pondo os olhos do entendimento na antideficiência: a discrição, virtude que protege os caros segredos da intimidade. Como auxiliar dessa virtude, impõe-se a reserva, que contribui para evitar as inconfidências da indiscrição.

A discrição é a chave de segurança que fecha a porta das confidências mais doces e sensíveis, só pronunciáveis dentro de nós mesmos. Seu cultivo há de ser sempre uma das tarefas mais gratas ao espírito do homem.

Trechos extraídos do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, p. 48

Carlos Bernardo González Pcotche
Enviado por Edlamar em 14/09/2013
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