OPOSIBOOK - ELES PERDERAM O FOCO

Milton Pires

Tenho visto pessoas entrando e saindo de grupos no Facebook. As reações tem sido quase sempre as mesmas: no início o novo membro encanta-se com o grupo! Tem a impressão de ter descoberto as pessoas que “que tem a ver com ele” e que realmente estão dispostas a lutarem...a serem ativistas de tantas dessas causas que hoje transformaram o Facebook numa mistura de ONU com New York Times online...rsss..Mas isso, meus amigos, não dura muito. Logo vem aquela sensação de “estar perdendo o foco” como escreveu um dos membros do próprio grupo que eu administro..Surge daí a aquela coisa de “tirar a bunda da frente de computador e ir pra rua” não surge???

Pois é..sem ser nenhum especialista em psicologia de grupo e lembrando que “contracultura” é um conceito que (apesar não ter aí sua origem) nos remete aos anos 60, eu fiquei curioso sobre essa questão e hoje resolvi arriscar escrever alguma coisa.

Para começar, gostaria de dizer o seguinte: várias vezes prometi assistir até o fim um filme chamado “A Rede Social” e não consegui. Não sei exatamente o porquê, mas a antipatia despertada em mim pelo personagem de Mark Zuckerberg nunca me deixa concluir meu propósito..rss..Para ser franco, nem sei se deveria ir até o fim. Eu nunca li nada sério sobre essas redes sociais e não sei exatamente que tipo de embasamento esse filme poderia me dar. Apenas acho curioso, que num país onde não exista oposição alguma ao PT o Facebook pareça ser o suposto berço dela...Quem sabe não deveria eu chamá-lo de Oposibook (mistura de Oposição com Facebook) hein??

Meus amigos, chega de enrolar! Meu objetivo aqui é só um – afirmar, mais uma vez, que não existe oposição no Brasil e desmentir categoricamente que ela possa ser criada numa rede social. Não quero negar a importância do fenômeno, mas é ridículo pensar que possa ele substituir a estratégia gramsciana que durante décadas se infiltrou nas Universidades, Igrejas e Escolas. A revolução não será virtual; mas sim cultural! Por mais que que sejam capazes de reunir pessoas que pensam igual, as redes sociais não são instituições. Afirmo que não é a Democracia que garante a existência das instituições independentes, mas sim instituições independentes que garantem a Democracia. Isso no Brasil não existe mais.

Essa noção de Democracia online é falsa justamente por isso mesmo! O Facebook não representa instituição alguma além de si mesmo. Reunidas ali, as pessoas não devem esperar mais do que encontrar gente que possa pensar igual..mas se forem muito além disso, o resultado será de frustração. Esperar uma revolução via Facebook só vai levar ao sentimento de estarem perdendo tempo nele. Atenção pois aqui quero fazer uma ressalva: Não é perda de tempo algum estar nas redes sociais e participar de grupos que defendam coisas que acreditamos. A missão é exatamente essa: trocar ideias com as pessoas e, quem sabe, através disso iniciar uma contra-revolução cultural.

Lembrem, meus amigos, que nada caracterizou melhor a contra-cultura dos anos 60 do que o ativismo inconsequente..a sensação de “ter que fazer alguma coisa”..a ideia de “não ser como nossos pais”..Esses dias escrevi que tudo isso fundamentava-se em Marx. Lembrei que esse grande charlatão afirmou “Os filósofos até hoje trataram de interpretar o mundo; trata-se agora de transformá-lo”. Pois bem, já disse e vou repetir em outros termos – Façamos dessas redes sociais um espaço para executar o contrário! Vamos interpretar, e muito, o mundo antes de agir! Vamos sentar, sim, nossas bundas na frente do computador para estudar..para nos ligarmos a pessoas inteligentes e aos poucos criar uma nova “atmosfera política” no Brasil. Eu vi o PT fazer isso nos anos 80. Eles conseguiram sem internet! Não tinham nada parecido com rede social na época e, mesmo assim, olhem que resultado conseguiram – tem o pensamento brasileiro nas mãos...

Não subestimem a força das redes sociais; mas não tentem dar com ela o “pulo do gato”...Não usem do jeitinho brasileiro para tratar com o movimento revolucionário – não vai dar certo!

Tenham a noção clara da força do nosso inimigo, do tempo de enfrentamento necessário e lembrem disso quando participarem de qualquer grupo...Se esquecerem; vão sempre sair deles argumentando que eles “perderam o foco”...

PORTO ALEGRE, 13 de setembro de 2013.