ROBERTO JUSTUS: APARÊNCIA OU COMPETÊNCIA ?

ROBERTO JUSTUS: APARÊNCIA OU COMPETÊNCIA ?

Heribaldo de Assis *

O empresário Roberto Justus disse, recentemente, que dentre dois candidatos igualmente competentes ele contrata aquele que tiver melhor aparência.Roberto Justus nasceu com traços europeus em um país cuja maioria é afrodescendente , veio ao mundo em uma família abastada e foi assim que obteve dinheiro para comprar um pouco de cultura.

Uma parca cultura que não concedeu-lhe bom senso o suficiente para não conceder declarações como essa – principalmente em um país que há pouco tempo aboliu dos anúncios dos empregos a obrigatoriedade de se ter “boa aparência” – pois geralmente ficava implícita nessa expressão a questão do preconceito racial. Diante de tal afirmação politicamente incorreta de Roberto Justus um repórter sensacionalista poderia até perguntar-lhe: - E diante de dois candidatos igualmente competentes : um branco e outro negro – qual o senhor escolheria?

Mas não existem dois candidatos igualmente competentes pois ,ao meu ver, competência é que nem impressão digital: cada um tem a sua ! Não existem pessoas igualmente talentosas pois , se comparadas, uma sempre vai demonstrar mais talento que a outra em determinadas áreas. Por isso a declaração de Roberto Justus não apenas é uma demonstração de preconceito mas também de incoerência e de despreparo para escolher realmente o melhor profissional para um cargo de uma empresa.

Trata-se de uma declaração altamente nociva que desumaniza mais ainda o mercado de trabalho no Brasil – um mercado de trabalho repleto de casos de Assédio Moral, exploração da mão-de-obra e discriminação (um nefasto mercado de trabalho que, comumente, exclui negros e deficientes físicos).

E, por falar em deficiência física – será que um candidato competente com estenose crânio-facial não teria uma vaga sequer em uma empresa de Roberto Justus?

Talvez essa declaração infeliz de Roberto Justus seja consequência de sua própria insegurança pois se Roberto Justus fosse negro e não tivesse nascido em uma família abastada será que ele teria obtido sucesso como empresário?Infelizmente vivemos em um país no qual o poder econômico , o sobrenome e a aparência subjugaram um mercado de trabalho no qual antes o que importava era o talento – o mesmo talento que está cada vez mais escasso nas agências de propaganda, na indústria fonografia e editorial e nos meios de comunicação...

* Escritor, Poeta, Filósofo, Compositor, Redator-publicitário e Licenciado em Letras pela Uesc - Universidade Estadual de Santa Cruz.E-mail: herisbahia@hotmail.com