A arte de ensinar e a vontade de aprender

A arte de ensinar e a vontade de aprender (3.ª parte)

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

Quando os aspirantes ao conhecimento iniciador das elevadas verdades acudiam às fontes onde se ministrava o ensinamento criador, eram instruídos previamente acerca de como deviam liberar a mente de todo preconceito e dispor-se, com humildade e limpeza de alma, a receber a luz que haveria de iluminar suas inteligências ávidas pelo saber superior. Isso prova, de modo definitivo e convincente, que nada deve merecer um conceito de seriedade e estima maior do que esta ciência do pensamento supremo que encarna a vida universal e que, por fim, aprofunda a vida humana até os seus rincões mais recônditos e obscuros.

Como é possível, então, pensar que conhecimentos de tal nível hierárquico haverão de ser obtidos como um dom do céu, sem que para isto se requeira aplicação nem esforço algum? Não se pode conceber seja tendência natural a de consentir que o próprio entendimento atribua ou conceda, melhor dizendo, tão pouca importância a este gênero de investigações. Geralmente se utiliza para elas o escasso tempo que resta depois de terminadas as atividades do dia e, ainda assim, costumam ser relegadas a segundo plano, para se dar preferência às habituais distrações. Há, inclusive, os que presumem que fazem um favor se, prestes a cultivar o conhecimento transcendente, colaboram com outros em tão fecundo labor, pois não pensam que, enquanto se aperfeiçoam e se beneficiam, contribuem para fazer mais efetiva a obra que se desenvolve para o bem de todos.

O exercício de tão elevada docência é uma arte em que estão resumidas as virtudes mais elevadas

Deve-se admitir, pois, que foi, é e seguirá sendo a tarefa mais difícil e delicada esta de ensinar, a cada inteligência, a forma de multiplicar sua força expansiva e penetrar, como dissemos, até os rincões mais recônditos e obscuros da vida humana. O exercício de tão elevada docência é, sem discussão alguma, uma arte em que estão resumidas as virtudes mais elevadas: a sabedoria, considerada como a maior de todas, por conter a essência das demais; a paciência, que auspicia os processos do ensinamento sem forçar nem alterar as funções do entendimento, propiciando, mais propriamente, que este se acentue de forma natural; a abnegação, que preside os sentimentos e tem um lugar de honra no coração dos grandes, que também fortalece o espírito e permite o culto do sacrifício a serviço do semelhante. Poderiam ainda ser enumeradas outras que, por sua natureza, servem à vontade posta a serviço de tão elevada docência; entretanto, haverão de bastar as enunciadas, para que se possa julgar o conceito que deve merecer quem, tirando horas do repouso depois de longas jornadas de intenso labor, dedica-as generosamente, sem exigir nada de ninguém, a ensinar com a palavra e com o exemplo a realização da mais justa e nobre das aspirações humanas.

A arte de ensinar encontra sua máxima expressão na alma daqueles cuja vontade de aprender faz possível que o bem que recebem e o saber com que se instruem sejam uma completa e efetiva realidade para seu aperfeiçoamento integral.

Trechos extraídos de artigo da Coletânea da Revista Logosofia, tomo 2, p. 163

Carlos Bernardo González Pcotche
Enviado por Edlamar em 02/09/2013
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