A amizade - simborlo de irmanação leal
A amizade - símbolo de irmanação leal
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Quando dois seres se conhecem e se vinculam amistosamente, ambos são pródigos em atenções; cada qual procura tornar mais cômoda a amizade do outro. Entretanto, mais tarde se esquecem disso e, materializando o espiritual, convertem o que é puro, nobre e sublime, nesse tipo de espigas que não servem para alimentar o corpo nem a alma, mas para varrer a sujeira; convertem essa instância de amizade, que conceituavam grata para o espírito, para o coração, para a própria vida, em uma vassoura, da qual um ditado muito velho diz, generalizando, que serve quando nova e depois só aparenta varrer, deixando tudo como estava, ou ainda pior.
Sobrevém, pois, o que inevitavelmente acontece quando se menosprezam as coisas que o uso desgasta. Os que provaram um dia os prazeres de uma doce amizade deslizam pela encosta da indiferença e começam a se desobrigar mutuamente das atenções que antes se prodigalizavam, sem que por isso cada um deixe de pretender para si mesmo a manutenção permanente dessas atenções que, como obrigação, pensa que lhe devem.
A atenção deve ser cultivada sem afetação, fazendo com que esse traço gentil, que tanto atrai e obriga, se produza naturalmente
A amizade – símbolo de irmanação leal dos espíritos –, que no lar se nutre no amor ou no afeto, quantas vezes sofre o descuido daqueles que depois buscam, sem achá-la nunca, a causa de suas desavenças e até de seus distanciamentos. É que a atenção deve ser cultivada sem afetação, fazendo com que esse traço gentil, que tanto atrai e obriga, aconteça naturalmente.
Não se deve esquecer que a relação e vinculação entre os seres estão constituídas por uma série de coisas e fatos que se entrelaçam. De nós depende que se mantenham como no primeiro dia em que se estabeleceram, pois do contrário se destroem; acontecerá o mesmo que com um suéter, cujos pontos, ao soltarem, irão destecendo-se, pouco a pouco, não restando ao final mais que um fiapo como recordação dele. Este é o drama da vida, do mundo, da humanidade.
O temperamento humano é muito suscetível; porém em todos os seres humanos existe uma boa condição, a qual permite corrigir erros, aplainar dificuldades e atenuar reações; essa condição é a que deixa o ser perceber o que outro fez em seu favor, mesmo que não esteja à vista; a que faz com que aprecie uma atenção, não pelo que ela possa significar como valor material, e sim como valor moral ou espiritual. Essa condição se transforma em virtude quando, receptivo o ser ao bem recebido, contribui para que se manifeste internamente a necessidade de corresponder a esse bem. É então quando se inicia novamente e se afirma esse intercâmbio de atenções, o qual, algumas vezes por ignorância, outras por incapacidade para compreender o que representa para a vida, se deixou de realizar, e que tanto contribui para suavizar as amarguras que os esforços cotidianos trazem consigo.
Trechos extraídos do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico, p. 196