A Inquisição (infelizmente) não acabou
“Se perseguiram a mim também haverão de perseguir a vocês” (Jo 15,20)
O que mata mais, o fogo das fogueiras ou o boicote das intolerâncias e radicalismos atuais? Infelizmente, alguns segmentos da minha Igreja, andando na contramão da história e do próprio Evangelho de Jesus, não permitem que os teólogos pensem, nem que o povo reflita livremente sobre as realidades do mundo. Tudo tem que vir servido em legítimos “pratos feitos”.
O que houve contra o teólogo Jon Sobrino foi um assalto à liberdade e ao profetismo da América Latina. Ele foi mandado calar, teve duas de suas obras recolhidas e proibido de ensinar e profetizar... Isto revela que a caneta e os decretos vivificam as chamas das fogueiras armadas contra aqueles que tinham a coragem de pensar, de dissentir e de mostrar que “o Espírito sopra onde quer”, independentemente de cargos, hierarquias ou pensamentos entrevados. Parece que esses censores não sabem que onde está o espírito de Deus ali tem que haver liberdade (cf. 2Cor 3,17).
A verdadeira libertação, trazida pelo Jesus no bojo de sua atividade messiânica (cf. Lc 4, 18) parece que para alguns não é boa notícia, mas uma ameaça. Os pobres, antes bem-aventurados e destinatários das promessas do Reino, ao que tudo indica se converteram em um estorvo a todo um processo de espiritualidade de evasão. Evasão da verdade, da misericórdia, da atividade missionária. Pilatos perguntou a Jesus a respeito do sentido da verdade. Perguntou e – como muitos – virou as costas para não escutar a resposta.
Com atos como este, sofre o corpo místico de Cristo, que se torna mais burocrático, litúrgico, sacramentalista, e menos profético e apaixonado pela causa dos pobres. Hoje se escuta falar de muitas coisas em nossos templos, menos nos pobres, nos sofridos e nos que têm fome. Parece que o discurso de Jesus - por subversivo - foi banido.
Antônio Mesquita Galvão
Teólogo leigo, 65 anos
Escritor, Biblista e Doutor em Teologia Moral