Por que existem tantos crimes?
Mais do que axiológica (referente aos valores) esta questão se situa nitidamente na linha ontológica (referente ao comportamento do ser). Na verdade, o ser humano tem procurado, desde o início buscar as causas dos crimes, dos roubos e assassinatos, bem como de todas as guerras que fizeram sofrer a humanidade, sem nunca obter uma resposta que satisfaça.
Eu fiz uma tese recente, em meu doutorado, do tipo “Se Deus é bom, por que existe o mal?” (publicada aqui em E-Livros). Nesse contexto, há os crimes que são frutos da liberdade mal conduzida, em que o mal é praticado por pessoas que sabem o que estão fazendo. Roubam porque são ambiciosas; matam porque são más. São raros os crimes sem reflexão: todos têm consciência e liberdade de seus atos, e por isso ocorrem tantos descaminhos na sociedade humana.
Recentemente, por ocasião do feriado de Páscoa de 2007, só na Região Metropolitana de Porto alegre, ocorreram mais de cem homicídios em três dias. Entre os agentes desses ilícitos se encontra, cada vez mais, jovens, adolescentes. Por que tanta violência? Isso ofende o projeto criador de Deus, que é eminentemente amor e gratuidade. Se formos olhar o histórico familiar dos criminosos vamos encontrar, como motor de suas atitudes a palavras falta.
Sim, se olharmos bem, constataremos que entre eles falta emprego, escola, esporte, atividades culturais, etc. Esses valores, em falta na vida de muitas crianças, retiram, em muitos casos, as prioridades, o incentivo e não-raro, o sentido de vida. Os crimes nascem a partir de um modelo social egoísta, elitista, omisso, cego ao futuro e materialista. Há dias escutei alguém contar que numa determinada cidade, os meninos não queriam sair de uma dessas febem da vida, pois ali havia casa, comida, estudo, esporte e atividades musicais. Isto é tudo o que falta na vida das crianças e adolescentes à beira da delinqüência em tantas vilas, invasões e periferias das cidades. Onde a criança não é prioridade, o jovem é candidato ao vício, à marginalidade e à delinqüência.
Nessa omissão é possível enxergar culpa do Estado, das Igrejas, da Educação, da Saúde, da Justiça e da Sociedade, onde tudo aparece como um grotesco conjunto de omissões. Todos falam muito e fazem pouco. Gostam de denunciar, mas não botam a mão na massa. Deixamos de educar as crianças, e depois gastamos muito mais para prender os jovens que se desviaram do bem e da ética.
Existem tantos crimes porque somos omissos, comodistas, incapazes de equacionar nossos problemas, incompetentes de visualizar a ameaça desde o seu nascedouro. Nossos discursos são cheios de palavras e vazios de um conteúdo prático. Se tivermos uma visão sistêmica sobre os problemas das crianças hoje, evitaremos um macro-problema amanhã, como no caso, a situação atual, que fugiu do controle da sociedade e de seus mecanismos judiciais e policiais.
Há tantos crimes por causa da sociedade desarmada diante dos bandidos equipados; há crimes por causa da dureza dos corações; há crimes porque muitos dos nossos perderam referenciais éticos, religiosos e sociais.
o autor é Doutor em Teologia Moral