A arte de governar a si mesmo

A arte de governar (1ª parte)

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

Considera-se algo sabido, segundo a definição corrente, que política é a arte de governar. Mas, se a política fosse isto, já se teria conseguido realizar, verdadeiramente, a consumação máxima do sentido do termo. Por infelicidade, existe a esse respeito uma distância que se mantém em muitos povos da terra sem nenhuma variação apreciável.

No processo histórico das sociedades humanas, desde os tempos imemoriais até o presente, percebem-se idênticas inquietudes e idêntico afã de alcançar as posições diretivas, enquanto as organizações sofrem os vaivéns das lutas partidárias. Uma vez composta, cada agremiação política proclama aos gritos, ante as doutrinas adversárias, a qualidade insuperável de seus postulados, e cada uma, por sua parte, trata de pressionar por todos os meios a seu alcance a decisão majoritária que haverá de lhe dar o triunfo.

Mais claramente, a política poderia ser definida como a arte de chegar ao governo, pois a capacidade para desenvolver o processo do programa próprio até alcançar o fim proposto no campo da política não implica, de modo algum, a capacidade para guiar o processo dos demais.

A arte de governar, o homem começa a aprendê-la no dia em que ascende ao poder,

sempre que as tarefas, problemas e conflitos que deve atender e enfrentar lhe permitam exercer livremente, sem pressões estranhas à sua função, essa difícil arte.

A política suscita dissensões e temores, os quais raramente abandonam o governante, por mais bem intencionado que seja, porquanto as críticas ou as ideias contrárias às suas gestões de governo pareceriam impedir que se apague o fogo das paixões que mobilizaram e pressionaram as lides partidárias em plena efervescência eleitoral.

E é estranho, quase diríamos inverossímil, que um cidadão chegue à mais alta função pública sem se haver apoiado em forças populares nem contraído compromissos de todo tipo, e o conjunto dessas forças e compromissos depois reclama para si o poder de indicar rotas e decisões. Não se viu muitas vezes como os partidos políticos absorvem a vontade do chefe de Estado, impondo-lhe suas decisões e mandados? E não é por acaso o temor de ser abandonado pelos que o levaram ao poder o que faz com que ele ceda às suas exigências ou às daqueles que lhe prestaram seu concurso ou lhe serviram nos momentos febris da luta?

A nave do Estado deve sulcar águas agitadas por tormentosas correntes, cada vez que um novo capitão empunha o timão, e é de muito séria gravidade para um barco que se acha às voltas com temporais, em alto-mar, que comecem também a se agitar seus tripulantes, seja por falta de víveres, seja por questões que nunca faltam e que eclodem, geralmente, quando as situações se tornam indefinidas.

Ceder constantemente às exigências das forças populares que prestam seu apoio não implica dirigi-las, orientá-las ou encaminhá-las para finalidades superiores de governo.

Trechos extraídos de artigo da Coletânea da Revista Logosofia, tomo 2, p. 246

Carlos Bernardo González Pcotche
Enviado por Edlamar em 17/08/2013
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