Os perigos de se confiar no acaso

Os perigos de se confiar no acaso

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

Esta é uma propensão que inibe o homem no sentido de tomar determinações oportunas e felizes, com parti¬cipação ativa de seu esforço e aptidões. Atraído pela parte artifi¬ciosa do acaso, prefere confiar em temerários desenlaces, que poucas vezes acabam sendo favoráveis.

Pode-se perceber quanta ilusão, ingenuidade e insensa¬tez convivem na pessoa que assim se conduz.

A impossibilidade de conquistar pelos próprios meios o que se deseja, seja por incapacidade, seja por desproporção entre as ambições e as aptidões para alcançá-las, é geralmente a causa desta propensão no homem, cuja mente começa a ativar-se com a ideia de que o acaso pode satisfazer seus desejos, solucionar seus problemas ou convertê-lo da noite para o dia em privilegiado da fortuna. Desta atitude ilógica nasce o que leva tantas pessoas a correr incansavelmente em busca do sugestivo feitiço da sorte.

Quem confia no acaso põe nisso boa parte de especula¬ção, pois tende a fazer o menos possível em favor de suas necessidades ou aspirações. É isso o que mostra quem realiza uma operação comercial sem um prévio e criterioso exame dos problemas que essas questões envolvem, e sem assegurar-se da forma de enfrentar eventuais reveses; quem empreende uma longa viagem sem colocar seu veículo em condições; quem pretende sair de uma enfermidade sem fazer de sua parte nada para dela se livrar; quem empresta ou compromete valores, confiando em que haverão de se multiplicar prodi¬giosamente; quem confia no jogo para remediar suas precárias economias.

A confiança no acaso submete o indivíduo a situações de aperto

Sua vida é insegura, ameaçada pela impre¬visão, pois sob o fascínio do acaso ele chega a arriscar tudo, sem pensar nas consequências. Nem as aflições nem a realidade mais convincente curam a pessoa de sua cândida tendência, porque sempre ensaia alguma justificativa, a modo de consolo, para atenuar seu erro. Quantos fracassos, quantos desenganos ela precisa experimen¬tar para chegar ao epílogo de sua equivocada conduta.

Para evitar que esta propensão se converta, com o tem¬po, em força psicológica dominante, aconselhamos esperar tudo da própria capacidade. Recorde-se que o futuro jamais deve ser deixado nas mãos do acaso, pois com isso se corre o risco de anular as próprias possibilidades.

Confiar em si mesmo, eis aí a chave. Confiar em si mesmo sem recorrer jamais a uma aparente Providência, manifestada sob o signo do acaso.

Trechos extraídos do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, p. 195

Carlos Bernardo González Pcotche
Enviado por Edlamar em 15/08/2013
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