A pressa como negação do tempo

A pressa como negação do tempo

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

A pressa, fruto da impaciência umas vezes e outras, da ausência de controle na distribuição do tempo, torna o homem intolerante, violento, irascível e insensato. Esse febril afã de pretender que tudo se faça na hora ou se encurtem as distâncias por obra de magia, é tendência generalizada; observando uns e outros, comprova-se que nenhuma pressa tem razão de ser, salvo, naturalmente os casos excepcionais.

Oferece um típico exemplo quem lança seu automóvel a toda velocidade para chegar o quanto antes ao lugar escolhido para seu veraneio, e na metade do caminho se detém para lanchar, despreocupadamente, demorando-se às vezes em excesso, para lançar-se de novo em desenfreada corrida, bramando de ira em cada passagem de nível, detido ante o cruzamento de algum tranquilo comboio ferroviário; oferece-o, também, aquele que, ao ser atendido em qualquer solicitação, manifesta como advertência que está muito apressado, ou protesta iradamente, ante a menor demora, para passar depois, longas horas num bar ou entretido entre amigos. Poderia citar-se, igualmente, o caso daquele que, tendo concebido um projeto, queira vê-lo realizado no momento, deprimindo-se por toda dificuldade que encontrar em sua execução, e abandonando-o, finalmente, por parecer-lhe que sua realização demorará muito. Em singular contraste, aparece um fato, repetido com certa frequência, que é que as pessoas que atendem aos apressados nem sempre se apressam, parecendo a estes que aqueles demoram deliberadamente; entre ambas as partes produzem-se assim conflitos de apreciação do tempo, que raramente chegam a se conciliar.

Que frutos pode obter de seu tempo o apressado,

se depois o perde inutilmente, por viver em um constante estado de ofuscação?

Não há dúvida alguma de que a reflexão e a paciência inteligente são as que levam o homem a serenar seu ânimo e a equilibrar seus estados psicológicos.

Se, encontrando-nos em um pomar e desejando comer uma fruta, reparamos que está verde, apesar da pressa deveremos aguardar seu natural amadurecimento. Muitos, arrancando-a antes do tempo, encontram um sabor desagradável ao prová-la, desprezando um manjar que, saboreado oportunamente, teria sido delicioso.

Com os propósitos ocorre algo similar; já se tem visto quantos seres os formulam sem ter a paciência de esperar que eles se convertam em realidades, por querer saboreá-los, como no caso da fruta, antes de seu amadurecimento. Propicia-se, ao contrário, o advento da realidade, seja esta o amadurecimento da fruta ou a culminação de um propósito, quando, no primeiro caso se rega a planta com frequência, buscando livrá-la das pragas que costumam afetá-la e, no segundo, quando se cultiva o propósito, esforçando-se na conquista de sua realização, enquanto o livra das dificuldades que, à semelhança das pragas, costumam entorpecer seu desenvolvimento e até malográ-lo.

Trechos extraídos do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico, p. 291

Carlos Bernardo González Pcotche
Enviado por Edlamar em 12/08/2013
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