Propensão à licenciosidade x liberdade individual
Propensão à licenciosidade x liberdade individual
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
A propensão à licenciosidade acusa negligência e falta de escrúpulo, por parte da pessoa, para com aquilo que, na ordem dos costumes e da conduta, merece respeito dentro da sociedade. Influenciado por ela, tende à desconsideração de toda norma ou princípio ético e sensível, sem levar em conta sua importância social e sem ter noção do dano que, com isso, ocasiona tanto a si mesmo como aos semelhantes. Numa palavra, tende a menosprezar o correto, confundindo os meios que fazem possível a convivência decente e honesta com aqueles outros que propiciam a libertinagem.
Sob o rótulo de liberdade individual, tão explorado pelas pretensas ideias democráticas, o propenso a desmedir-se, seja no que for, logo termina por incorrer em excessos que põem em relevo o rápido arraigamento de uma modalidade que se tornou seriamente negativa e perigosa. A propensão, transformada agora em deficiência caracterológica, traduz-se por manifestações de rebeldia, sendo difícil extirpá-la, pois os que a possuem se acham sob a pressão de ideias dissolventes, tão perniciosas como as que o próprio fanatismo fomenta.
A liberdade não se concebe nem se exerce cabalmente
se a responsabilidade não a acompanha
Esta negativa tendência é percebida em todos os níveis sociais. Pode ser observada entre operários e demais empregados, estudantes e profissionais de nível superior, e em todos os casos revela o ser que não tem ideia clara a respeito da liberdade com que pretende reger-se, ou não sabe que liberdade significa também respeito, comedimento, dignidade, considerando-a tão-somente quando tolera o abuso e o desenfreio. Há de se saber, não obstante, que a liberdade não se concebe nem se exerce cabalmente se a responsabilidade não a acompanha, como faz a sombra em relação ao corpo que a projeta.
Terreno propício para a expansão da licenciosidade é a falta de uma sólida e efetiva educação social, que habilite o cidadão para defender sua vida contra a tremenda avalancha de estímulos negativos da hora presente; hora que arrasta consigo os germens da decomposição moral e espiritual, propaga a corrupção dos costumes, o desprezo pela dignidade humana, e abre um espaço fácil no seio da juventude, vítima da inexperiência, da desorientação e do desamparo.
Tendo em conta, pois, seu rápido avanço em todos os setores da sociedade, convém não esquecer que, se o número de afetados cresce à medida que o mal se estende, ou seja, em proporção ao avanço da licenciosidade convertida em norma, o esforço daqueles que não desejam aumentar seu número deve refletir-se na própria conduta, conferindo a ela um alto grau de dignidade, honestidade e respeito.
Trechos extraídos do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, p. 200