RESPEITEM OS NORDESTINOS
A hospitalidade é uma das principais qualidades do povo potiguar, que recebe de braços e coração abertos a todos os que visitam nossa Terra. Aos visitantes que chegam a estas paragens, o potiguar oferece aquilo que tem de melhor e, portanto, foi assim que recebeu o elenco da Rede Globo de Televisão, que escolheu as belezas singulares do Rio Grande do Norte para ambientar a novela de Walcir Carrasco, Flor do Caribe.
A novela retrata uma história ambientada na Vila dos Ventos um vilarejo próximo à Cidade do Natal cuja população sobrevive da pesca e do turismo. As paisagens mostradas aos telespectadores de todo o mundo e bem conhecidas pelos potiguares, são realmente de tirar o fôlego e é inegável que esta é uma grande propaganda para o setor turístico de nosso Estado, que merece nosso aplauso.
Ao mesmo tempo em que propaga nossas belezas para o mundo, a Rede Globo cospe em nossa cara; desrespeita-nos; trata-nos com desdém. Menospreza nossa cultura e nossas tradições. Justamente nós, seus anfitriões que recebe seu elenco com esmero, carinho e, sobretudo com educação.
Ora bolas! A forma como a Rede Globo retrata o povo nordestino é caricata e completamente fora da realidade. Somos nordestinos e não seres imbecilizados como aqueles que são mostrados pela TV. Os personagens agem como se a região Nordeste estivesse completamente fora do mundo globalizado, mas diferentemente do que a Globo reproduz, existem cabeças pensantes em nossa região. Somos nordestinos e potiguares orgulhosos dos valores que produzimos. Os nomes são muitos e no que se refere à arte representar, basta voltar o olhar para dentro da própria Globo, cheia de valores nordestinos.
O personagem Candinho, por exemplo, vivido pelo ator José Loreto é um completo idiota, porque somente um nordestino débil mental andaria pra cima e pra baixo com uma cabra a tiracolo. O rendeiro Lino, vivido pelo ator José Henrique Lingabue, também figura como outro nordestino caricato. Na trama o rapaz desponta como um estilista promissor, mas age como um perfeito imbecil. Tudo bem que o sujeito mora em um sítio. Isto, porém, não é motivo para idiotizá-lo. Afinal, até nos sítios do Rio Grande do Norte é possível fazer conexão com a internet.
Como se não bastasse mostrar o rapaz como “abestalhado”, ele faz uma viagem ao Rio de Janeiro com a namorada e vai com uma mala que, mesmo morando no sítio e precisando viajar de trem, nenhum nordestino levaria. Esta foi realmente uma caricatura demasiadamente infeliz: a mala amarrada com uma corda e um cantil pendurado! Para piorar o quadro, a avó do rapaz ainda dá uma matula para o infeliz levar na viagem.
Felizmente o tiro saiu pela culatra e a situação ficou vergonhosa mesmo para a namorada dele. Ora, a moça é paulista e vinda de uma grande metrópole. Caberia a ela, no mínimo, orientar o namorado a não chegar na Cidade Maravilhosa parecendo um palhaço ao invés de se parecer com um nordestino. Diferentemente daquilo que pensa a Globo, os nordestinos viajam não apenas para o Sul e Sudeste do País, mas para a Europa e países do Oriente. Existem nordestinos morando em Dubai. A glória pela descoberta de um segundo Sol, para seu governo, cabe a um potiguar, que atualmente faz conferências na Inglaterra e no Japão.
A personagem Maria Adília, vivida pela atriz Inez Viana é outro desastre. A mulher vive no Rio de Janeiro há mais de 30 anos e não perdeu o sotaque, fato surreal. Ninguém vive 30 anos em uma região diferente da sua, de maneira impune. A primeira providência é mudar a maneira de falar. Maria Adília nem parece viver em um centro do porte da Cidade Maravilhosa, que se orgulha de ditar moda para o resto do mundo. Pelo jeito, a Maria Adília vivia trancada numa redoma, porque vai vestir-se mal assim na Caixa Prego!
Nós somos nordestinos e nos orgulhamos de nossa cultura, porque, como muito bem disse Paulo Freire, “não existe uma cultura melhor do que outra”. Nossa cultura é diferente da outras regiões. E daí? Isto não nos torna melhores nem piores do que as pessoas que vivem em outros lugares. E quando falamos em cultura é bom que todos procurem conhecer o que nos, os nordestinos estamos produzindo nessa área, para o mundo.
E mais uma coisinha: A Cidade do Natal, berço do grande mestre Câmara Cascudo, é um celeiro de grandes artistas também no campo da música. Então, não dá para entender o motivo pelo qual, o point da novela, o bar de Cassiano - Flor do Caribe, só apresenta artistas de internacionais, porque Natal também tem artistas de renome internacional, tais como Valéria Oliveira, Cristal, Babal, Carlinhos Zens, Marina Elali, Roberta Sá, Mariângela Figueiredo, Pedrinho Mendes e muitos outros.
É importante ressaltar: Não venham para o Nordeste esperando encontrar pessoas vestidas de gibão e usando chapéu de couro. Esta vestimenta faz parte da cultura nordestina e pode ser vista nos nossos museus. Assim como, quando vocês visitarem o México, não vão esperando encontrar pelas ruas pessoas usando poncho e sombreros, porque isto também é parte da cultura dos mexicanos.
Nordestino fala cantando, fala "oxente" e "cabra da peste" porque isto faz parte da nossa cultura, assim como o carioca chia e usa palavrão como vírgula; paulista pronuncia com muita força a letra R e o mineiro fala uai. Quando alguém de outra região chega aqui, é muito bem recebido independentemente do seu sotaque, dos seus trejeitos, ou seja o que for. Isto porque o povo potiguar, conterrâneo de Câmara Cascudo, respeita a pluralidade cultural existente nesse imenso Brasil.
Portanto, respeito é bom e todo mundo gosta. Não tire “onda” com a cultura de um povo que os recebe tão bem, porque como eu acredito que diria Glória Kalil, “isto é chique, educado e elegante”. (02/ago/2013)