Rumo à vida interna
Rumo à vida interna
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Viver a vida internamente significa ter conseguido ver e estimar essa vida dentro de si mesmo, o que permite por sua vez abarcar todo o mecanismo psicológico e mental do próprio ser; conhecendo-o em suas partes e funcionamento, chega-se a conhecê-lo em sua totalidade.
Todas as pessoas têm casas nas quais vivem. Essas casas estão destinadas àqueles que as habitam, a fim de que vivam nelas na intimidade, cuidando-as como coisa inseparável da vida. A maioria não faz, acaso, o contrário? Não agrada a muitos viver na casa de parentes e de amigos? Não gostam outros de meter-se frequentemente na casa alheia? E não há, ainda, aqueles que se rodeiam de parentes e de amigos, aos quais convidam quase diariamente, como se temessem estar a sós dentro de seus próprios lares? Muitos não usam sua casa somente para dormir? Assim é como o próprio lar permanece vazio e tudo ali evoca solidão e tristeza. Que atrativos pode ter em tais condições? Nenhum, certamente.
Analogamente, não é isto, grande parte do que acontece com a vida: em vez de se viver internamente, vive-se no externo, ignorando tudo quanto existe dentro dela? Não levamos continuamente nossos pensamentos fora da própria mente?
Levar os pensamentos fora da mente significa entregar a outros nossos projetos, pensamentos e ideias, comunicando-lhes ingenuamente, quando nem sequer estabelecemos as bases do que pensamos fazer.
A vida interna, que a Logosofia descreve, abarca a mental e a sensível, ou seja, a vida psicológica.
A atenção que nos exige o fato de viver nossa vida internamente não nos impede, em absoluto, nossa vida de relação com os demais; ao contrário, ela assumirá maior consciência. Mas dentro da atenção que nos reclama a vida interna, acha-se o estudo de nosso presente e de nosso futuro, sem deixar o exame de nosso passado, como elemento ilustrativo para as atuações vindouras. Que perspectivas tem nossa vida no presente? Que deveremos fazer para nos encontrarmos amanhã com um futuro melhor?
Esta indagação deverá ser como um espelho, no qual vejamos diariamente refletida a imagem de nossos propósitos. Somente assim se poderá fixar, de maneira permanente, o pensamento-raiz que depois haverá de brotar, crescer e florescer, tal como fora concebido.
O conhecimento logosófico abre novas possibilidades e amplia os horizontes mentais. Isto produz o inexprimível prazer de sentir palpitar a vida com felicidade em meio de gratíssimas emoções, que a consciência se encarrega de prolongar em evocações que se conectam a experiências felizes.
É preciso, pois, concretizar para a vida tudo aquilo que se aspirou, sem esmorecer ante as dificuldades, porque estas provam nossa resistência e a firmeza de nossa vontade.
Convirá, pois, que cada um assegure dentro de si mesmo a consciência da vida que vive, sabendo por que a vive. Isto criará constantes estímulos e a sensação de alegria que se haverá de experimentar suprirá a angústia anterior, permitindo, assim, na nova forma de vida, o nobre e amplo uso das faculdades da inteligência. Deste modo, tudo será útil e benéfico para a observação, desde que, para os fins da superação integral que se persegue nada seja indiferente.
Trechos extraídos do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico, p. 372