As mulheres do governo

Eu fico revoltado quando escuto alguma dessas “cabeças coroadas” da política nacional afirmar que o Brasil é um país pobre. Há tempos participei de um programa de entrevistas, numa tevê da capital, onde o assunto derivou para a questão social, apontando a pobreza como causa de todos os problemas do Brasil.

Conheco um cidadão, funcionário concursado de um dos poderes da República, que anda sempre se queixando de seu salário, na faixa de cinco dígitos. Acontece que essa pessoa, tem duas casas, duas mulheres e cerca de meia-dúzia de filhos para sustentar, além daquilo que as duas mulheres chamavam de “obrigação de manter o status”. Assim não há dinheiro que chegue, e pode levar o “gastão” a perigosos patamares, beirantes do ilícito e da trampa.

No Brasil ocorre a mesma coisa. Nosso PIB é bem significativo, mas gastamos demais, em mordomias, salários, representações, penduricalhos e outros alhos. Por exemplo: para que quase seiscentos congressistas? Para fazer o que fazem, uma centena seria até demais. No “efeito cascata”, caberia reduções no Judiciário, nas Assembléias e nas Câmaras mortuárias. O salário é o de menos. Um Deputado Federal ganha, só de salário, por volta de R$ 180.000 por ano, mais o “custo” (?!) de seu gabinete passa de um milhão. Multiplique-se isto por seiscentos (acrescidos aí os senadores). Para que investir tanto em um Congresso colocado sob suspeita, que produz leis dúbias e nem sempre em favor do povo e da cidadania?

Para quê tanto gasto com o Judiciário, se temos uma justiça morosa e nem sempre eficaz? Por que o país subsidia alguns produtos agrícolas, se esse dispêndio não resulta em favor do povo que tem fome? Temos supersafras de grãos exportáveis e espigas chochas destinadas à alimentação dos miseráveis. No âmbito federal, estadual e municipal, usam-se as receitas para pagar, enormes e perdulárias folhas de pagamento.

Se o cidadão mencionado linhas acima, tinha duas mulheres e vários filhos, o governo do Brasil tem mais, e todas gastadeiras, como o Executivo, Legislativo, Judiciário, e outras instituições e autarquias que só tiram e nada acrescentam. Para quê forças armadas tão numerosas e dispendiosas (única classes com aumentos anuais) se nossa virtude pacifista aponta o inverso?

Há mais de uma década foi instituída a CPMF para fazer frente à crise da saúde e da previdência. Pelo sucateamento destas, pode-se afirmar, sem temor de erro, que aquela contribuição, uma mala mensal de dinheiro, está sendo desviada. Talvez para as “mulheres do governo”.

Com isto, dá para concluir que não somos um país pobre, mas um conjunto de governos que não sabe sua renda, seus ingressos e seus recursos. Se aquele cidadão vivesse apenas com uma mulher, sustentando seus três filhos, mesmo mantendo o status, viveria bem, com sobras até. Assim funciona com a economia do Brasil.

Concluindo, dá para se dizer que o Brasil é um país rico, com uma das mais perversas distribuições de renda e terras do planeta.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 06/04/2007
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