RASGANDO AS CARTAS

Já não se terminam os romances como antigamente.

Era muito mais romântico (dramático, eu quero dizer) rasgar cartas e transformar fotos em picadinho ao final de uma história de amor.

Conheço casos em que a pessoa queimava tudo. Ou, pior, recortava o outro, restando apenas uma parte da fotografia.

Algumas pessoas até devolviam as cartas.

Que coisa mais antiga!

E mais bonita de se recordar!

Devo estar ficando velha.

Ficando não! Eu sou velha, assumida!

Pra essas e outras coisas voltadas para o romantismo, sou do passado, estou no tempo errado.

Ao invés de estar anos à frente, volto sempre ao tempo que eu gostaria que fosse o meu.

Eu queria sim, rasgar um monte de cartas, estraçalhar fotos, e chorar, desesperadamente fazendo isso, como se ali estivesse descarregando toda a minha ira (ou meu lamento pelo fim).

Deletar arquivos e imagens diante da tela de um computador não tem nada de emoção. É, no mínimo, estranho.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 17/07/2013
Código do texto: T4391237
Classificação de conteúdo: seguro