TORNAR VISÍVEIS OS INVISÍVEIS

Recentemente esteve na ilha de Lampedusa o papa Francisco no intuito de rezar com refugiados indocumentados, oriundos de países do Norte da África, gente sem muita esperança de dias melhores em seus torrões natais.

A mesma viagem fora feita pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi há dois anos quando mandava no governou da Itália. Prometeu mundos e fundos sem que, depois, tivesse cumprido quaisquer de suas promessas, dentre estas, campo de golfe, criação de uma zona franca e até cassino.

Lampedusa é uma ilha da região da Sicília, do arquipélago das Ilhas Pelágias no Mar Mediterrâneo, entre Malta e a Tunísia, entremeio da África e do continente europeu. Tem cerca de cinco mil habitantes. Geograficamente é parte do continente africano e dista um pouco mais de 100 km até o continente europeu.

Terra de turismo, de muito sol e de corpos bronzeados perante corpos queimados pelo sol das fugas em desespero, esqueléticos da fome infinda da Mãe África. Lampedusa, terra de diversão e que sempre recebeu refugiados de toda sorte, pessoas fugindo de realidades duras, de guerras ou perseguições políticas ou religiosas, como a que tem sido impingida à menina Malala Yousafzai, ativista paquistanesa refugiada no Reino Unido, e que luta pela educação em seu país para as meninas e foi alvo do Taliban recentemente, quando, baleada na cabeça, quase teve a vida ceifada.

O Papa falou da globalização da indiferença que nos atinge diante da problemática da imigração em todos os recantos do mundo. Milhares de refugiados chegam à Ilha e muitos, não agüentando tal périplo, sucumbem ainda em alto-mar. Homens, mulheres e crianças, famílias inteiras se aventuram nessa jornada fugindo da fome e da guerra financiada por grandes potências mundiais interessadas nas riquezas naturais existentes.

E essas nações ricas não dão importância nenhuma ao que acontece durante as viagens dos imigrantes para o continente europeu nem como viverão esses estrangeiros que aportam em Lampedusa ou mesmo em qualquer parte da Europa. Isto não é problema deles e sim das xenófobas leis italianas para imigração.

Francisco foi à Lampedusa para rezar e mais ainda para despertar as consciências adormecidas, até mesmo das pessoas de boa vontade. Não se trata de uma visita piegas nem muito menos somente chorar as mortes que ninguém chora. Muita coisa aconteceu e ainda acontece nessa Ilha. “Eu não podia fingir que não acontece nada porque no fundo do mar há 20 mil mortes”, disse a prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini no dia da histórica visita papal.

O Governo italiano não dá muita importância para quem reside na Ilha e muito menos aos indesejados visitantes que navegam na esperança de fundearem suas embarcações em terra firme. Não há hospital, as mulheres dão a luz em Palermo. A água escorre salgada pelas torneiras, proveniente de Nápoles, quase impossível ao consumo. E a promessa de Berlusconi? Ficou no vazio e na desesperança dos habitantes do lugar, como ficamos nós no Brasil, ante o indiferentismo da classe política diante dos problemas que nos afetam cotidianamente.

Talvez a visita do papa Francisco às terras de Lampedusa não mude muita coisa. Mas chama a atenção do mundo que teima em não perceber a fome que grassa no continente Africano, a guerra entre grupos tribais na Líbia, as insatisfações na Tunísia e outras situações de desprezo pela vida em todas as suas vertentes. Alerta-nos que devemos sair da inércia que nos atinge a todos e nos incita à tomada de novas posturas e outra consciência.

Em Lampedusa há 20 mil possibilidades de se chorar. São vinte mil mortos e a incapacidade de chorar essas mortes, segundo o Papa na homilia durante a missa, celebrada com um cálice de madeira, resto de uma embarcação aportada na Ilha, tem sido cada vez mais globalizada.

Há setores conservadores do clero local que não viram com bons olhos essa visita do Papa. Também há outros segmentos que a entendem, não somente como importante, mas, também como necessária para que se dê a possibilidade de tornar visíveis aqueles que já há muito estão invisíveis.

José Luciano
Enviado por José Luciano em 14/07/2013
Código do texto: T4386072
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.