O VISITANTE

Não nos conhecemos. Ou, melhor dizendo: nunca fomos apresentados formalmente um ao outro. Vemo-nos com certa frequência há uma distância de alguns metros. Ele sempre se apresenta com a mesma indumentária. Particularmente não acho que amarelo e preto combinem muito bem, mas cada um tem sua maneira própria de vestir, expressando a sua identidade e o seu bem estar.

Não sei onde ele mora, onde faz refeições ou onde dorme. Uma coisa porém, esta eu sei: quase todos os dias, mal despontam os primeiros raios da manhã, lá está ele no fio telefônico, elegantemente pousado, quieto, talvez esperando o momento oportuno para enviar a sua saudação. Outras vezes, ainda sob as cobertas, sinto um tênue bater de asas como que avisando: “cheguei!” Após algumas flexões das asas e da cauda, firmemente equilibrado no fio, eleva o bico em sinal de reverência e solta o seu gorjeio: “Bem-te-vi... Bem-te-vi... Bem-te-vi...” Volta à postura original, e depois de um tempo intercalado pelo o silêncio, recomeça o seu canto: “Bem-te-vi!”

Passados tantos anos e tantas visitas matinais, apenas hoje parei para refletir e meditar neste bom dia que tanto força nos dá. O bem-te-vi canta o passado, visando o presente. Traduzindo o seu canto em ordem direta, é como se ele estivesse cantando: “Eu te vi bem. Eu te vi bem. Ontem tu estiveste bem.” E esta repetição é um alerta, e um alerta muito sério. É como se ele estivesse dizendo: “Se ontem tu estiveste bem, por que hoje estás assim? Olha o teu ontem com os olhos do hoje e compreenderás; olha o teu hoje com os olhos do ontem e te consolarás, porque o ontem é o hoje que passou.”

Não demorara naquele dia nem cinco minutos. O ruído estridente de uma buzina fez bater mais apressado o seu coração. Tomou a direção leste sem se despedir e perdeu-se de vista.

Continuo sem saber onde ele mora, onde faz refeições ou onde dorme. Mas consegui lembrar das palavras de Jesus: “Olhai as aves do céu que não semeiam nem ceifam, no entanto o vosso Pai do céu as alimenta.” O Bem-te-vi, por certo, é um bem visto de Deus.

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 11/07/2013
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