Atentado terrorista em Boston

Atentado terrorista? Logo após o desastre envolvendo as Torres Gêmeas no dia 11 de setembro de 2001, o jornalista (Gonzo!), Dr. Hunter S. Thompson (que, se possível, está implantando um Medo e Delírio no Além), deixou de lado, por um momento, sua coluna de esportes da ESPN - que passou a colaborar alguns anos antes de meter uma bala na própria cabeça em 2005 - para falar sobre o ocorrido... O atentado, para ele, foi o estopim para o início de uma nova "Guerra Santa", "um tipo de Jihad Cristão", que seria repleto de ódio religioso por fanáticos de ambos os lados - tanto pelos “mocinhos”, quanto pelos terroristas... &... Pouco mais de uma década, o pesadelo que se manteve inerte no inconsciente de muitos estadunidenses retornou por conta do que aconteceu em Boston no início desta semana...

Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, finalmente soltou o que todos norte-americanos já deviam estar esperando ouvir da boca do líder da nação, que o que houve foi um "atentado terrorista" (como disse Obama: "Quando bombas são usadas para atingir civis inocentes, o objetivo é um só: causar terror”)... Apesar das interpretações cabíveis ao uso do termo "terrorismo", no pronunciamento, a interpretação que vem a mente de supetão é a de "homens-mulçumanos-barbudos-não-civilizados-do-Oriente-Médio" aprontando novamente na terra do Tio Sam... O termo, ao menos, se estereotipou desta forma nos últimos anos... Assim sendo, estariam equivocados os que acreditam na falta de convicção e de discernimento daqueles que apontam o dedo para uma pessoa – no caso, de um povo inteiro – antes mesmo da mazorca ter o mínimo de esclarecimento?

Em uma via contrária a esse pensamento, alguns receberam com a maior naturalidade a informação por fontes policiais de que, na noite de segunda-feira, agentes revistaram um apartamento na área de Boston, referente a um estudante da Arábia Saudita... O jovem, que foi considerado uma “pessoa de interesse” na investigação, chegou, ainda por cima, a se ferir na explosão (ser atingido pela explosão poderia fazer parte de uma estratégia para criar um álibi, não? Afinal de contas, diferentemente de nós, o que se esperar de um "selvagem-não-civilizado-barbudo", certo?)... Alarme falso! Pouco depois, as próprias fontes policiais informaram que o saudita era inocente e que “dificilmente lançaria alguma luz sobre o atentado” (Alá é justo!)... Funcionários da Casa Branca dizem ser muito cedo pra afirmar os motivos dos ataques em Boston ou se foram cometidos por um grupo estrangeiro ou do próprio país.

Atentado terrorista? Sim. No entanto, parece que outro termo talvez precise ser criado para evitar o surgimento de determinados pré-conceitos seguidos de ações precipitadas, como foi o caso do jovem saudita, que deve ter passado por um grande “terror” ao ser inserido, mesmo que por um breve tempo, na lista de suspeitos nº 1 dos atentados ocorrido nos Estados Unidos da América.

Para fechar, resta apenas reler o texto do nosso querido jornalista Gonzo:

"We are going to punish somebody for this attack, but just who or what will be blown to smithereens for it is hard to say. Maybe Afghanistan, maybe Pakistan or Iraq, or possibly all three at once. Who knows? Not even the Generals in what remains of the Pentagon or the New York papers calling for WAR seem to know who did it or where to look for them." Fear and Loathing in America – Hunter S. Thompson on 9/11

(17/04/2013)

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Há quase três meses, eu escrevia esse texto acima sobre os atentados ocorridos na maratona realizada em Boston no dia 15 de abril. Na época, as autoridades norte-americanas ainda não sabiam explicar o significado do que havia acontecido e, muito menos, quem teria sido responsável pelas explosões que deixaram centenas de pessoas feridas e três mortas.

Poucos dias depois, um dos suspeitos, Tamerlan Tsarnaev, foi morto durante um tiroteio com a polícia. Seu irmão, Dzhokhar Tsarnaev, foi detido e acabou sendo “formalmente indiciado” pelos crimes. Os dois sendo de origem chechena.

No texto que eu havia escrito, levantei dúvidas relacionadas às tensões dos Estados Unidos quando o assunto é “terrorismo”. Quando este é abordado, a Lex Parsimoniae parece ter sido implantada pela grande maioria daquele país. Portanto, um pressuposto para colocar a afiada Navalha de Occam, ameaçadoramente, bem nas artérias carótidas (internas e externas) dos países do Oriente Médio. Justo?

Dzhokhar Tsarnaev, teria deixado um bilhete, no barco em que foi localizado pela polícia, em que explicava sua atitude: “Quando se ataca um muçulmano, ataca-se todos os muçulmanos“. Como uma Constituição-Carma impregnada no espírito instintivo do homem, a famosa lei de talião (olho por olho, dente por dente) ainda tende a prevalecer nas questões mais básicas do que parece se entender sobre justiça. Antes de morrer, Osama Bin Laden escreveu um manifesto intitulado “Carta para a América”, em que respaldava a lei de talião, criada por seu “conterrâneo”, Hamurábi (sexto rei da primeira dinastia babilônica - atual Irã). Na carta, Bin Laden diz: “se formos atacados, temos o direito de atacar de volta”. Justo?

Não precisa de muito esforço pra comparar (assim como muitos já o fizeram) e considerar o bilhete deixado por Dzhokhar como um eco do manifesto. Hoje, ele deverá comparecer ao tribunal, onde enfrentará 30 acusações, incluindo 17 puníveis com a prisão perpétua ou pena de morte (olho por olho...). Justo?

Esses atritos ainda vão se prolongar por muito tempo, o que nos dará mais espaço para podermos pensar a respeito... É em casos como esses, que paramos pra refletir & atualizar nossas próprias perguntas "platônicas/socráticas"... Hoje, no dia do julgamento do caso bárbaro, a questão não é mais “Atentado Terrorista?”, mas: “Justiça?”. E que ela seja feita! Justo?

Alea jacta est.

(10/07/2013)