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O PLEBISCITO E O JEITINHO DOS RUMINANTES


 
      A ideia do plebiscito, esposada pela presidente da República, ainda em plena efervescência das recentes manifestações públicas, não era nada, não era nada, mas foi um esboço de ação. Objetivamente foi um esboço.  Daria certo? Isto sairia dispendioso à Nação? Certamente, sim. Não haveria tempo hábil para viger nas próximas eleições?
 
      Não tenho partido, hoje, menos ainda sou xereta de nenhuma das ratoeiras da dita “base aliada”. Não me digam que estou a tomar partido pela proposta; que cerrei os punhos e que fechei questão em torno da iniciativa presidencial. Não e não. Não sou um assecla de carteirinha da presidente.
 
      Agora, friamente vendo o que ela propôs, e prestei atenção nos pontos assinalados para um “pacto social”, tínhamos, em princípio, para ser tocado à frente, no plebiscito, o seguinte cardápio: educação, saúde, transporte, responsabilidade fiscal e reforma política.
 
      Tudo, aí, nos parece urgente e necessário. Mas vejamos em que o nosso brioso Congresso, com a desfigurada oposição proclamando tratar-se esse rol de propostas da presidente apenas um “oportunismo eleitoreiro e demagógico”.  
 
      Até podia ser oportunismo, não duvido. Mas o menu posto à mesa consubstanciava um passo avante no atendimento a certos prioritários clamores da sociedade. Educação, saúde e transporte, pelo menos. Só que, também, não se falou – ou falam? – em segurança, que anda uma calamidade, neste País.
 
      Sem ter coragem de ir às ruas, ficar de cara com as massas, senadores e deputados, mais que de repente, passaram a acenar com medidas – estas, sim – demagógicas, atropelando votações populistas, na tentativa de tirarem o traseiro da seringa.
 
      Sobretudo o DEM, o PSDB e o PPS soltaram a franga a criticar e a obscurecer o tal plebiscito sugerido pelo Planalto. Direito legítimo desses monstrengos de partidos. Os mesmos que, em tempo lá não tão distante, levantavam a saia e votavam tudo que eram medidas impopulares, realizando, inclusive, o leilão de boa parcela do patrimônio nacional. A privataria tucana é o maior e mais trágico exemplo.  
 
      De maneira oportunista – isto, sim –, oportunista, a Câmara Federal, ontem, esqueceu-se de todos os outros pontos da propositura presidencial e, augurando falta de tempo para adequar suas conveniências próprias às próximas eleições, em 2014, bateu o pé, sepultando, de vez, como inviável, a feitura plebiscitária.  
 
      E aí todos viram na imprensa, o que eles, os ruminantes do Congresso, reivindicam apenas para si, e somente para si: referendo (só para não ser o plebiscito esposado pelo Planalto), financiamento de campanha, sistema eleitoral e coligações partidárias. Um prato feito só para políticos. O Senado, ontem mesmo, em interesse próprio, rejeitou a diminuição de dois para um suplemente de senador. E haja ruminante a só querer levar vantagem.
 
      Trocando em miúdos, notem que educação, saúde, transporte (agora inventaram a tal de “mobilidade urbana”), e, de contrapeso, a responsabilidade fiscal, itens que, em tese, interessam diretamente ao povo, tudo isso para eles, ruminantes do Congresso, não tem a ínfima importância.
 
      Mas é bom que, com o jeitinho usual dos ruminantes, não se espere pelo retorno do povão às ruas e praças.
 
Fort., 10/07/2013.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 10/07/2013
Reeditado em 10/07/2013
Código do texto: T4380372
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