PRECISAMOS DE MUITOS COMO ELE

Certamente a voz pausada do senador Pedro Simon durante o programa “Dossiê Globo News”, não era de cansaço ou velhice. O senador pensava longamente antes de dizer qualquer frase. Que pudesse revelar algum deslize. Alguma revelação ainda proibida. Ou, que trouxesse no fim, uma pergunta difícil de responder. Teve uma.

A partir da metade do século passado, o senador Pedro Simon esteve perto, talvez, presente nos grandes acontecimentos da política nacional. E deixa certo sentimento de desesperança nos brasileiros, ao dizer que o Brasil era corrupto antes de 1964. Foi corrupto durante a ditadura. E continua corrupto atualmente.

Isso revela a incapacidade da sua geração de mudar o Brasil. Estar presente nos grandes acontecimentos não significam necessariamente mudanças. É compreensível, já que Pedro Simon sempre foi uma voz quase solitária. Inteligente, nunca se jogou inteiro para qualquer um dos lados. Não jogava. Fazia o seu jogo. Talvez, seu grande erro.

Isto responde a pergunta que eu faria com sua última frase, que fechou o programa. Quando ele diz: “Eu sobrevivi”, eu perguntaria: Como? Era desse tipo de pergunta que Pedro Simon tentava fugir. E quando não conseguiu, respondeu com uma dose exagerada de sentimentalismo. Quase infantil.

Perguntado por que assumiu o ministério do governo de José Sarney, o senador saiu pela tangência. Mandou retirar da parede um quadro, e mostrou a nomeação assinada por Tancredo Neves. Como se a política vivesse dessas simplicidades.

Mesmo assim, eu me atrevo a dizer que o senador Pedro Simon, fazia parte de um quarteto que poderia mudar os rumos do Brasil. Infelizmente três deles, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães e Teotônio Vilela, o último o maior dos quatros, foram abatidos por tragédias pessoais.

No programa, é exatamente os momentos em que o senador Pedro Simon, narra seus dramas pessoais que mais emocionaram. O melhor é que neles, o senador não precisou fugir de nada. Ali, ele foi ainda mais verdadeiro e intenso.

A morte do filho e da esposa. A depressão. A fuga. Sua desilusão com Deus. Depois a descoberta de Deus. O seu voto de pobreza. Tudo isso fazem do senador Pedro Simon, em breve aposentado da política, um exemplo. Que deveria ser seguido pelos que estão chegando agora.

No fim, o senador Pedro Simon deixa um pouco de filosofia para reflexão. Pode ser perigoso saber demais. É sabedoria falar apenas o que não vai comprometê-lo. Mesmo assim, é enigmático e assustador ao dizer que a Lei da Ficha Limpa só foi aprovada, porque todos no Congresso Nacional se borraram com os gritos das ruas.