Gênero Textual Propaganda da marca de azeite andorinha

Introdução

Ao se falar dos processos de significação no texto publicitário, especificamente, o “Gênero Textual Propaganda da marca de azeite Andorinha”, convém indagar quais os processos linguísticos e não linguísticos envolvidos na produção dessa propaganda?

Não sendo de nossa autoria a escolha da pergunta tema deste ensaio, uma vez que este se justifica por compor trabalho final do módulo “Formação do Leitor: estratégias cognitivas”. Do curso de Especialização em Língua Portuguesa. Justifica-se o presente ensaio, por apresentar argumentações aos aspectos e estratégias de leitura, bem como contemplar as discussões levantadas ao longo do curso, como elementos de aporte teórico para arrolarmos uma análise compreensiva do gênero textual proposto.

Com base nessas informações preliminares, ajuíza-se a necessidade, não menos importante, de esclarecer a cerca do gênero ensaio, o que compõe em parte a primeira seção a ser apresentada nesse trabalho. Na sequência tentaremos mostrar alguns aspectos linguísticos envolvidos no discurso; tipos e gêneros de discurso, produção de sentido, e algumas considerações finais a respeito do tema.

Gênero: ensaio

Antigamente, no ambiente clássico de Platão, quando este separou obras literárias em gêneros; diferenciou-se a Epopeia da Tragédia, eliminando-as da República. Aristóteles, por sua vez, qualificou e distingui as obras, tornou-se o primeiro teórico da literatura e referência aos estudos literários. A poética dele consolidou-se como um paradigma do rótulo literário, ocasião em que os gêneros diferenciaram-se pelo modo da imitação (mimese) e não pelo seu conteúdo ou sua origem, outros métodos de classificação possíveis.

Atualmente, a literatura encerra outros gêneros e a noção de gênero estendeu-se de tal modo que impossível estudar o discurso sem uma teoria dos gêneros discursivos. A poética de Aristóteles sofreu grandes mudanças, a noção de gênero não está mais nos cânones da arte e da literatura. O romance é visto como texto em prosa, de longa duração temporal; em versos, a lírica, com um eu central; o conto, uma prosa curta e o ensaio, também um texto, centrado em prosa, que versa sobre determinado assunto sem esgotá-lo, resumindo pequenas dissertações menos definitivas que um tratado.

Em algumas concepções o ensaio é uma tentativa ou treino para se expor algum assunto, mas é certo que o ensaio vai muito além do que o senso comum reconhece. Podemos pensar a produção epistolar de Cícero e Sêneca, e até mesmo Lucrécio, em seu De rerum natura, produções que se encaixariam como ensaio – poderíamos assim chamá-las de ensaio? Certamente não.

O que faz um ensaio ser um ensaio, em alguma medida é manter um certo caráter dissertativo, enquanto um tratado ser mais concludente. As epistolas de Cícero, pode-se entender como dissertações curtas, sobre determinados assuntos, não concludentes, e em certa medida individuais.

É com Montaigne, no final do século XVI, que o ensaio se assume como um gênero a parte dos conceitos clássicos. O clássico conceito e o moderno far-se-ão mediante o tempo. Indubitavelmente o ensaio passa a ser o conceito moderno, sem a facilidade de definir-se e ausente das definições mais sucintas.

Mesmo que o individualismo fosse marca dos clássicos pensadores livres, não seriam ensaístas, pela simples razão do ensaio ser marca patente e inseparável do imediatista homem moderno.

Esta breve e muito falha exposição do gênero ensaio, se prestou a mostrar que conceituar é mais movimento restritivo ordenatório do que já existe, do que uma demiurgia. O ensaio assume a forma livre e assistemática sem um estilo definido. Por essa razão, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset o definiu como "a ciência sem prova explícita".

No trabalho que se seque, o ensaio documentado prestar-se-á como o que é escrito a partir da coletânea de informações e dados bibliográficos pertinentes ao curso já mencionado, utilizando-se desse gênero textual nos moldes de Moreno & Guedes (1997, p. 35),

Chamamos de ensaio documentado um trabalho escrito que se baseia em conhecimentos adquiridos através de pesquisa bibliográfica. Diferentemente do ensaio curto, que se organiza a partir de sua capacidade de pôr em ação os conhecimentos que você já tem, o ensaio documentado movimenta, também, sua capacidade de coletar e utilizar dados. Sua elaboração é mais vagarosa do que a do ensaio curto; sua extensão dependerá exclusivamente da complexidade do assunto e da quantidade de dados disponíveis.

Com esse pensamento dispomo-nos o ensaio do seguinte modo:

Aspectos linguísticos envolvidos no discurso

Percebe-se quando se discute concepções dos processos de leitura, a existência de um senso comum em admitir a leitura como algo importante e até mesmo essencial na formação de ledores interpretantes do espaço textual.

No universo dessa discussão, verificam-se questões intrinsecamente ligadas e passíveis de discussão, como o conceito de língua e linguagem, a definição de texto e leitura, e até mesmo os fatores para uma leitura eficiente.

Sabe-se que essas questões povoam o universo dos pesquisadores e, não raro, podem ser respondidas de muitas formas diferentes a considerar concepções distintas a respeito desses elementos.

Em consequência do que se postula a esse respeito, admiti-se a linguagem como a capacidade humana de se comunicar por meio de línguas, e normalmente conceitua-se língua, como um sistema de signos vocais utilizados como meio de comunicação entre comunidades linguísticas variadas.

Tais conceitos não são evidentemente o que se pode conceber como único e fiel, mas é algo a se considerar dentre as possíveis concepções de língua e linguagem.

Mesmo que o entendimento de língua e linguagem seja diverso e variado, pode-se capturar em Koch (2002) o entendimento de língua como representação do pensamento e passível de ser captada por um interlocutor de acordo com o que foi pensado.

Nesse entendimento, o texto pode ser considerado como a materialidade de uma representação mental de um indivíduo, e passível de ser interpretado, pelo ato de leitura, em que, por intermédio dessa atividade, captam-se as ideias do produtor do texto. Ao ato de leitura, normalmente leva-se em consideração muitos fatores a contribuir como agente favorecedor da capacidade interpretativa de quem lê.

Tais fatores compreendem-se em uma concepção interacional, em que os sujeitos interlocutores, num processo dialógico, constroem-se e reconstroem-se no texto. A esses processos interativos há uma gama de implícitos possíveis, quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes dessa interação.

É nessa interação que fatores vão contribuir para uma leitura eficiente. Esses fatores podem ser veiculados pelo texto a sugerir o conhecimento prévio do leitor, gerando modificações sutis nos esquemas mentais a exigir processos cognitivos de alto nível. – tais como habilidades de realizar inferências, habilidades linguísticas, memória, conhecimento de mundo, todos esses elementos juntos, contribuem para a construção de uma representação do texto.

Por fim, pode-se considerar no bojo dos entendimentos aqui arrolados, que a leitura – ato essencialmente humano, demanda para produção de sentido, complexo conjunto de habilidades linguísticas, cognitivas, e sociointerativas na relação autor-texto-leitor, e se valida como importante prática para a construção e individualização do cidadão.

Tipo e Gênero do Discurso

Já não se pode negar que o indivíduo humano é um ser discursivo. Seu ímpeto discursivo o leva a horizontes infinitos momentos de inter-relação discursiva dentro da multiplicidade de gêneros textuais que se prestam, não raro, a variados tipos de controle social.

Nessa perspectiva, pode-se em algum momento pensar em controle social como o acordo tácito que firmamos às leis como veiculo de organização e contenção social. O controle social, de certa forma pode ser visto nas variadas atividades discursiva, nas quais, muitas vezes não nos damos conta disso, mas certamente se revela sistêmico ao dar legitimidade a nosso discurso.

Este ensaio documentado, por exemplo, deve prestar-se a um fim acadêmico e encontrar-se circunscrito às normas a ele prescritas. O que dá credibilidade a esse gênero é a condição acadêmica de quem o redige, e se firma na intertextualidade, quando pesquisadores renomados – expertos nos assuntos arrolados, creditam ao texto o valor de verdade.

Assim, pode-se dizer que não há um determinismo dentro desse controle, mas sim a condição de ser incontornável. Pode-se pensar, porém ingenuamente, que o poder final de nossas decisões remonta à nossa fiel vontade, mas certamente, concebidos como seres sociais, dispomo-nos às ações controladas pelo sistema social, ao qual estamos submissos. Se por um lado estamos imersos a essa submissão, por outro, o gênero textual não se impõe, espera que o percebamos, e uma vez que tal imposição possa em algum momento conformar-se ao poder sociodiscursivo, vesse-se que o instrumento de esse possível poder, sem duvida, é o gênero textual.

Controlar as propriedades linguísticas de um discurso pode trazer-nos a uma condição de poder. Uma vez que dominar o código linguistico e seus elementos internos e externos, nos garante o discurso suasório.

Diante disso, produzir um discurso, parece não só ser possível comunicar e informar, mas de algum modo, entender que a produção discursiva, em certa medida, pode ir além, em que a ação discursiva se dá quando se deseja exercer qualquer tipo de poder ou de influência.

A esse entendimento, e no que diz respeito ao uso da linguagem, Koch (1992, p.29) nos diz:

Quando interagimos através da linguagem (...), temos sempre objetivos, fins a serem atingidos; há relações que desejamos estabelecer, efeitos que pretendemos causar, comportamentos que queremos ver desencadeados, isto é, pretendemos atuar sobre o(s) outro(s) de determinada maneira, obter dele(s) determinadas reações (verbais ou não verbais).

Ao pensamento da autora, somam-se conceitos de argumento e intenção – aquele como inscrito na língua, e este, como ato comunicativo. Nesses termos, ao se falar em interação comunicativa através da linguagem, o uso de gêneros variados se constrói por condições históricas e socialmente constituídas, não por uma mera invenção pessoal. Por isso, a intergenericidade, em algum momento pode ser compreendida como intertextualidade a detonar determinados propósitos em certos gêneros textuais e consequente contribuir para a produção de sentido e convencimento do incauto leitor.

Produção de Sentido

Pode-se dizer que a relação do sujeito com o mundo, em uma perspectiva lato sensu, deve-se a um ato de percepção. Nessa construção filosófica, a percepção é assim uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico-fisiológica a um conjunto de estímulos externos – firmados na concepção dos empiristas, nem uma ideia formulada pelo sujeito – no entendimento intelectualista. A relação dá sentido ao percebido e ao percebedor, e um não existe sem o outro. Chaui (1994).

Um texto, por exemplo, é uma proposta de produção de sentido. Tal fato nos permite dizer que o texto só se completa quando há participação do leitor ouvinte. Ao produzir-se um texto, não estão apenas, ou estritamente envolvidos elementos linguísticos, mas toda uma gama de elementos a contribuir para a produção de significado.

Produzir significado, seja assim, pelo ato de leitura textual ou de mundo, a fixar-se em um complexo conjunto de habilidades linguísticas, cognitivas, e sociointerativas na relação autor-texto-leitor.

Se o autor é o mundo, o indivíduo ao assumir-se nesse universo já se revela como possibilidade de atribuição de significado. O fato de ser inerente ao ser humano o ímpeto de atribuir sentidos às coisas – perturba-o a falta de relação entre as coisas do mundo.

Assim, significar é um fato inerente ao ser. Lidar com o que é – não lhe basta. Ir além é a possibilidade de desvendar o que pode ser. E nesse “avancer”, a psique humana não se limita ao que está literalmente posto, mas, ao contrário, vai além das aparências do que se descortina aos órgãos dos sentidos.

Desse ponto de vista, e tomando a metodologia fornecida pela Gramática de Construções, Dugue & Costa (2012) nos diz:

“Acreditamos que a metodologia fornecida pela Gramática de Construções, de base corporificada, possa ser ampliada para explicar fenômenos discursivos e, com isso, melhorar a nossa compreensão de como funciona o discurso e nos permitir explicar as estruturas e processos do discurso de uma forma mais sistemática. [...] as construções discursivas ( piadas, contos, charge, anúncios, editoriais, cartas etc) são aspectos de negociação intersubjetiva no interior dos quais ocorre o trabalho conjunto de construção de sentido. [...] os sujeitos se inserem numa determinada moldura e, dentro dela, exercem um jogo de linguagem particular. A manipulação das formas simbólicas, por meio das práticas discursivas, resulta na manipulação significativa de nossa própria percepção da realidade. E, uma vez reconhecendo que a condição humana é dependente do trabalho de simbolização, sem o qual sequer poderíamos falar de cultura, entendemos que são as práticas discursivas que tornam significativas nossas experiências.”

Pode-se arrematar esse entendimento dos autores, dizendo que é no contexto dinâmico do domínio do significado, de onde as nossas experiências emergem e arquitetam novos significados, que as histórias se desenrolam. O domínio, nesse caso, não será assim, concebido como um sistema fechado. Esse dinamismo permite-nos manipular formas simbólicas, intermediadas por práticas discursivas em que construímos a realidade como uma sucessão de acontecimentos. Esses acontecimentos: causa e efeito.

Algumas considerações finais a respeito do tema.

Acredita-se que as considerações aqui arroladas configuram-se como elementos pertinentes ao curso “Formação do Leitor: estratégias cognitivas”. Ademais, acredita-se que tal elemento, em sua totalidade ou em partes, regulou-se para as considerações seguintes, nas quais, se deseja mostrar as estratégias do “Gênero Textual Propaganda da marca de azeite Andorinha”.

O texto proposto, e anexo a este trabalho, define-se inicialmente por apresentar formato de um fôlder, contendo uma imagens característica de rosto feminino e uma outra representativa de uma lata do azeite Andorinha. Também compõe a propaganda um texto em fonte manuscrito e a representação gráfica do desenho de uma ave andorinha. Deve-se destacar que todo o conjunto publicitário encontra-se publicado nas cores preto e branco.

Na apresentação sugerida, a imagem feminina conduz-nos a entender momentos de reflexão e o texto associado às imagens, materializa, supostamente o pensamento reflexivo das personagens retratadas no fôlder.

Percebe-se que a estratégia do gênero propaganda, no caso apresentado, vale-se de um hibridismo textual em sua composição, elencando elementos verbais e não verbais.

Dos elementos não verbais, vê-se associado ideias e sugestões bem definidas pela proposta da propaganda: o rosto feminino a formar a ideia de dúvida e hesitação, a imagem do produto, o elemento sugerido, e um elemento verbal, o texto, que complementa o conjunto do discurso suasório.

O texto sugere ao leitor pensamentos de dúvida. Essas dúvidas são evidenciadas em um conjunto de perguntas e culminam com uma questão que caracteriza decisão. Tentam-se mostras que as questões que geram dúvidas são inerentes ao ser humano, mas o sentimento de mudança pode proporcionar satisfação e prazer, quando se decide mudar. Esse contraste é apresentado na propaganda e se evidencia como proposta de convencimento, levando o possível consumidor a considerar a proposta, como fato normal da vida, ou seja, mudar.

Por fim, se se pode considerar comum as dúvidas no universo humano, mudar para a marca de azeite sugerida é algo tão corriqueiro que o consumidor não sentirá culpa, uma vez que a mudança é sugerida como algo prazeroso. Mudar é maravilhoso?

Roberto Ramón
Enviado por Roberto Ramón em 05/07/2013
Código do texto: T4373348
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